domingo, 19 de dezembro de 2010

E agora, nós?

Faz tempo que eu não apareço.Relativamente mais tempo ainda, considerando que eu estou de férias e não existem mais provas ou quaisquer outros compromissos fixos para me distanciar do teclado.
Mas a bem da verdade é que o que me tem afastado são as inúmeras reflexões que borbulham na minha cabeça no momento - o que é muito normal de férias...a loucura acaba, a poeira baixa e eu, assim como qualquer outro ser humano que reflete e pensa sobre a vida, começo a fazer balanços...e eles não me deixam sossegar a mente.

Eu não sei por onde começar. Na verdade nem sei o que vou escrever. Só resolvi visitar o blog porque há tempos eu não o fazia. E já não era sem tempo.

E agora, sobre o que falar? Discutirei o tempo? A vitória do Inter(de Milão)? A derrota do nosso Inter? A soltura de Assange? Não, apesar de ainda não fazer idéia do assunto que eu vou abordar, hoje não estou muito num momento global e engajado. As reflexões que eu citei me deixam bem mais introspectivo, subjetivo...

Eu tinha uma boa idéia sobre o que escrever há algumas dezenas de minutos...mas a idéia fugiu....como é das idéias ter vida própria de vez em quando e fugir do nosso domínio...

Ultimamente eu ando pensando e discutindo muito com uma grande amiga sobre o tempo, o amadurecimento, as relações entre as pessoas, o amor, nossas esperanças, frustrações e afins...Talvez eu fale disso, talvez mude de assunto, quem sabe?

O fato - óbvio - é que as coisas não acontecem na hora em que desejaríamos que acontecesse, ou julgamos ser o melhor momento para tal. Diante disso, dessa certeira falta de planejamento, nos resta duas opções: pular de olhos fechados e dar a cara pra bater; ou ficar, paralisados, amuados, escondidos do mundo, no medo.

Quando temos bons lampejos de coragem e discernimento, escolhemos a primeira opção: viver, dar a cara a tapa. O problema é que nunca estamos de fato preparados para levar a porrada....e quando levamos? É isso que nos assusta. Na verdade acho que quando levamos nunca é do jeito como esperávamos..ou ela nos pega por um ângulo inesperado, ou dói bem menos, ou bem mais....mas de todo modo, a hora da pancada é aquela em que o acaso nos encontra de frente e nos chama a dançar sem podermos ouvir a música...é a surdez que nos põe em pânico, o momento em que temos que nos deixar levar, fechar os olhos, sentir nossos corpos, nossa vida, nosso momento. E nos vêm sempre o mesmo questionamento: e se não estivermos prontos? E se perdermos, nos machucarmos? O que faremos? Pois é...eu também não sei, por isso resolvi escrever...precisava por pra fora toda essa angústia do "E agora, José?"

Sabe, leitor, eu não sei se você, que lê, é amigo, familiar, conhecido, ou algum José que nunca me encontrou na vida, mas garanto que compreende essa angústia, vive todos os dias seus questionamentos...E o que fazemos diante disso tudo?

Acho que no fim das conta não há muito o que se fazer...o medo sempre estará lá, talvez.

Mas eu acho que, de fato, nunca estamos preparados para o baque quando ele vem....talvez nós vamos nos preparando conforme vamos apanhando

Enfim, as idéias ainda estão muito turvas..eu pediria desculpas se eu realmente me importasse, mas no fundo, se esse tipo de qualidade de texto incomoda a alguém, a opinião desse alguém não mais me interessa, fato. E se esse julgamento lhe parece frio, sua opinião também passa a ter menos validade...compreensão é a chave para a nossa humanidade...e no fim das contas é disso que precisamos para enfrentarmos a vida: humanidade.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Cordeiro, demasiado cordeiro

Mudando um pocuo - mas em essência nem tanto - os rumos da temática do blog...

Lendo um artigo na Le Monde Diplomatique Brasil sobre a polêmica do Wikileaks - que eu não sabia o que era até então - e dois posts de blogs cujos autores admiro muito, as reflexões sobre papéis, funções e significados do Estado e da democracia pipocaram na minha cabeça quase espontaneamente.

Para os que não sabem do que se trata o wikileaks, ele é um projeto elaborado pelo jornalista australiano Julian Assange para expor os bastidores da diplomacia internacional, principalmente a estadunidense. Um dos meios pelos quais se faz isso nas atuais atividades do site é a exposição de telegramas trocados entre os diplomatas para qualquer internauta que se interesse em vê-los.

Não é de se surpreender que as atitudes do jornalista causaram grande alvoroço entre governantes e seus associados. Os dados expostos são considerados 'de segurança nacional' e são próprios do tráfego [tráfico] interno da 'copa' do Estado. Essas informações não deveriam estar disponíveis a nós, meros mortais, que não participamos das decisões políticas sobre as quais os representantes expostos são responsáveis. Assange conseguiu assim, num intervalo muito curto de tempo, uma coleção de inimigos notável.

Agora, nós, meros mortais, tenhamos um repente de semideuses e nos aproximemos do pensamento olímpico dos estruturadores do Estado: Os governos expostos por Assange, em especial os EUA, são ditos - e muito orgulhosos desse rótulo - democráticos. O modelo democrático, como é de conhecimento geral aos que tiveram acesso ao conhecimento, baseia-se na decisão popular, ou ao menos majoritária, para a tomada de decisões políticas. O modelo original, a menos que eu esteja muito enganado, é grego. Nele, os considerados cidadãos votavam diretamente as propostas políticas que regeriam o funcionamento da polis. Isso só era possível pelo tamanho reduzido da população grega das cidades-estado e da ainda menor parcela dos considerados cidadãos então. Hoje, dadas as dimensões das nossas sociedades, os sistemas democráticos funcionam por meio da representatividade. A população não mais vota diretamente as decisões políticas de seu país. Elas elegem pessoas que a representarão em um órgão responsável pela votação sobre tais decisões. Esses eleitos são - ou deveriam ser - pois, representantes dos interesses da população. Agora, se um indivíduo tem por função social me representar politicamente, suas decisões devem estar de acordo com minhas próprias condutas e opiniões - ou pelo menos com boa parte delas, senão a relação de representatividade se torna frágil, falha. Se isso é verdade, o acesso do eleitor aos pensamentos e afazeres profissionais de seus eleitos deveria ser inquestionável. Contudo, o que se observa com a repercussão do trabalho de Assange é a declarada intenção anti-democrática dos elementos envolvidos na estruturação estatal e das relações governamentais de poder em monopolizar as informações sobre as motivações que regem suas tomadas de decisão! O Estado, que deveria estar a serviço dos interesses do povo, expõe sua pretensão de domínio sobre seus integrantes, a quem ele deveria estar submetido. Estamos vivendo uma perversão das relações que regem a organização política da nossa sociedade. E foi preciso um 'escândalo' com repercussões internacionais para nos movimentar o questionamento sobre esse desrespeito do atual Estado 'democrático' conosco.

Nosso modelo político, econômico e social está, gradual e progressivamente, se mostrando incoerente, conflituoso, insuficiente e incapaz de representar e servir a população nele inserida. O nosso sistema atual não funciona. E o mais irritante é que essa idéia virou clichê de tão óbvia. Entretanto ninguém se move de forma efetiva para mudar esse cenário. Nós fazemos a sociedade. Mas moldá-la de acordo com diretrizes justas e abrangentes demanda trabalho, tempo, suor. Hoje vivemos num ritmo de vida de submissão a tal grau de estresse e desgaste físico e emocional que nos sobre pouca energia e vontade para nos empenharmos  no esforço de tentar mudar esse sistema que obviamente não funciona. Essa apatia, esse comodismo, essa doença social que nos transforma em cordeiros silenciosos nos sentencia a um modelo de sociedade auto-destrutiva, extremamente danosa.

E não, eu não sou comunista, socialista ou qualquercoisaista que eventualmente alguém possa estar pensando. Essa dicotomia maniqueísta morreu com o muro de Berlim. Mas isso não muda o fato do nosso sistema ser falho e passível de questionamentos e mudanças. Um novo modelo precisa ser criado, precisa ser pensado. Diferente de tudo o que já foi criado, do que já foi vivido, já que obviamente os modelos prévios são ineficazes ou inviáveis.

Precisamos nos movimentar! Precisamos abrir nossos olhos diante de eventos políticos como o desencadeado pelo wikileaks e questionar mais o poder vigente. Precisamos, além disso, questionar a nós mesmos para curarmo-nos dessa inércia estática que torna o mundo humano um ambiente insustentável para seus próprios integrantes.

E precisamos, acima de tudo, nos conscientizar do nosso inerente papel social enquanto seres humanos e nos capacitarmos para poder exercê-lo de forma eficaz e funcional. Caso contrário não seremos mais que as meras marionetes que fomos até agora.

Novamente o piloto automático está nos levando para um rumo que nós desconhecemos e que dá indícios cada vez mais claros do caráter funesto desse destino.

E você, está sentado aí ainda por quê?



Artigo da Le Monde: http://diplomatique.uol.com.br/acervo.php?id=2957
Principal post de referência: http://respostasdecamus.wordpress.com/2010/11/13/todos-contra-um-wikileaks/

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Nosso modelo (in)competente

Dentro do nosso modelo de vida, de economia, de sociedade, de relações, somos condicionados ao grande e nobre exercício da confecção de competências. Somos cobrados disso. Resultados. Eficiência. Capacidade. Inteligência. O mais capaz, o mais forte, o mais veloz, o mais atraente. Uma somatória de atributos agindo na confecção do objetivo maior: Transformar o ser humano num exímio Currículo Lattes.

Se não formos inteligentes, capazes, produtivos, perdemos nossa função na sociedade e somos automaticamente marginalizados, como o búfalo fraco na manada, que apenas a atrasa e por isso é deixado de lado, entregue aos predadores. 

Em termos de produtividade e sobrevivência esse modelo é eficaz. O problema é que não somos búfalos, somos seres Humanos. Como tal somos dotados de expectativas, angústias, sonhos, desejos, medos, amores; temos a capacidade de criar, de gerar, de ouvir, de falar, pensar e de toda uma gama de atributos muito mais vasta, muito além da lista ortodoxa inglês-graduação-MBA-e-pós-doc-na-europa. E o pior de tudo: toda essa ambição grandiosa nos afasta daquilo mais grandioso no Homo sapiens, a compreensão, a solidariedade, a preocupação com o outro H. sapiens que chora, que tem fome, que está triste, que tem medo, que quer ser ouvido, que precisa ser compreendido e amado. Nos ocupamos tanto em sermos bons, nos envolvemos de tal forma em uma lógica perversa de competição e consequente exclusão daqueles ditos não-aptos, não capazes, que foram "pesados, medidos e considerados insuficientes", que caímos na grande contradição entre finalidade e motivação. Como assim? A competência é incentivada - tal qual o espírito competitivo, essa força propulsora do pensamento competentista - pois assim o indivíduo se torna melhor, e melhor, dentro dessa lógica, significa ser mais capaz e só. Sendo mais capaz, "melhor", não só o indivíduo, mas toda a sociedade melhora. Olha a falácia aí minha gente! Como pode uma sociedade ser melhor quando a grande meta de seus indivíduos abre enormes brechas para a aniquilação da solidariedade e do respeito. "Exagero!", pode dizer você, leitor, "Não é por que uma pessoa é competente ou busca competência que ela será fria ou cruel com seus semelhantes". No entanto, quando somente a busca pela competência é incentivada - e isso nós vivemos no nosso atual modelo social - não resta nem espaço para a discussão do papel e do lugar da solidariedade no nosso cotidiano. Figura muito bem isso a atual crise do trabalho médico no que tange à sua relação com os pacientes. Vivemos um imenso e acelerado avanço tecnológico generalizado - competência, sempre mais, sempre melhor - e isso afeta, entre outras áreas do saber, a medicina. Pois bem, PET scans, ressonância magnética, cirurgias a laser e o que mais a ficção científica sonhou e se torna realidade em tantos hospitais e consultórios pelo mundo. E qual a principal queixa dos pacientes hoje? "O médico me atendeu e nem levantou os olhos para olhar pra mim. Não me examinou, não pôs a mão em mim.". Agora pensemos no significado da palavra: isso, de fato, é competência? Os fazeres humanos, quando desprovidos de humanização, tornam-se falhos, fracos, insuficientes. Não abrangem toda a complexidade do ser, não restrita somente a resultados, lucros e melhoras de performance. 

E essa cobrança toda é auto-destrutiva na própria proposta original pois esse modelo não opera com reparos. Num meio de convívio onde ser competente é ser melhor, não há espaço para a compreensão da incompetência, apenas para sua condenação. Um indivíduo quando não adquire certa competência, se frustra, sente-se incapaz, tem sua auto-estima abalada. A não conquista do objetivo já é por si só punitiva. Mas o sofrimento não para por aí, pois os outros búfalos entram em ação e reprimem o seu irmão mais fraco, incompetente, incapaz. Na natureza qual o fim do pequeno búfalo? A resposta todos nós sabemos: morte. E em nossa sociedade? A marginalização. Esse modelo competitivo-punitivo não abre brechas para a inclusão daqueles com dificuldades. Fere o princípio do próprio modelo de aprimoramento da sociedade. Exclusão não é melhoria. A exclusão desses, além de angústia, gera, direta ou indiretamente, todas as outras mazelas tão criticadas nos jornais e às mesas de jantar familiares: violência, tráfico de drogas, depressão generalizada, suicídios, tudo.

E nesse ponto o questionamento sai de foco do outro e se volta contra nós mesmos. E nós, o que vamos fazer diante disso? Vamos continuar alimentando esse modelo para nos tornarmos tão bons a ponto de não depender tanto da sociedade? E morreremos sozinhos? Capazes e sozinhos?

A beleza só existe quando a capacidade e a competência agem em favor do homem, não contra ele. Sejamos de fato competentes, de fato inteligentes. Ser bom não requer apenas competência, requer humanidade. E ser humano é uma tarefa muito da hercúlea. Isso sim é complexo. Muito mais complexo que qualquer integral, qualquer discurso nietchzieano, que qualquer análise das intenções de David Lynch. Ser humano é que são elas...

E nós que nos achávamos tão inteligentes....

"Seríamos muito melhores, se não quiséssemos ser tão bons" S. Freud 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Verdadeiro Dragão...

Assiti um filme muito bom esses dias atrás. Não vou citar o nome do filme porque os comentários que eu farei contém spoilers. Mas de todo modo, o filme que eu vi e algumas atitudes presenciadas em paralelo (e sem conexão com o evento cinematográfico) me trouxeram à reflexão o quanto nós somos inimigos de nós mesmos -e como esse é o verdadeiro e o pior.

Parafraseando uma das falas do filme, o nosso grande problema é a nossa necessidade inquietante de querer ser especial, de ser o centro das atenções. Queremos sempre ser os mais lembrados, os que recebem mais carinho, aquele de quem mais se gosta. E no fim das contas muitas de nossas ações giram em torno desse objetivo: ser percebido pelo outro. E é tão estranho o combustível da nossa felicidade se basear em algo tão frágil.

Nos ocupamos do outro: o que o outro faz, como ele se veste, o que pensa das nossas ações, das nossas escolhas, de nossas idéias, se gosta da gente, nos aprova ou reprova. E nesse se ocupar com o outro muitas vezes nos esquecemos que o principal foco de nossa vida é a gente mesmo. E por favor, querido leitor, não interprete essa frase como uma apologia ao egoísmo. Me frustraria muito que a idéia fosse deturpada desse modo. Não quero dizer que o sofrimento ou as necessidades das outras pessoas não tem importância. E muita gente ignora o fato de que quando nós nos focamos em nós mesmos, isso - e somente isso - cria condições suficientes e substanciosas para darmos uma atenção real e sincera ao outro num momento de necessidade. Caso contrário toda atenção dada ao próximo acaba por se resumir num desvio para suprir necessidades próprias, carências em aberto.

Certa vez uma pessoa muito sábia usou uma metáfora que elucida bem essa idéia: Quando estamos num avião, uma das instruções dadas pela equipe é que em caso de emergência as máscaras devem ser usadas, e caso o usuário esteja com alguma criança, a máscara deve ser colocada PRIMEIRO NO ADULTO e depois na criança. Isso de início me revoltou. Mas como todo sábio, ela me explicou que de nada adiantaria a máscara na criança se o adulto morresse depois. Não haveria quem cuidasse dela. Para poder olhar para o outro e vê-lo de fato, é preciso haver uma boa consolidação do indivíduo que olha, se não todo olhar passa a ser mera projeção narcisista dos próprios anseios. E a intenção de cuidar do outro se perde por incompetência em cuidar de si mesmo.

Mas voltando ao foco da importância que nós temos para nós mesmos. Quando eu estava no ginásio (eu sou da época que Fundamental ciclo II era chamado desse jeito), uma professora fez uma coisa muito interessante. Ela tinha colocado uma caixa de sapato no meio da sala de leitura e nos colocou em fila para que cada um de nós víssemos o seu conteúdo individualmente. Ela afirmava que nós veríamos aquilo que era mais importante em nossas vidas. Eu fiquei muito curioso sobre o que era e como a mesma coisa podia ser tão importante para todos ao mesmo tempo. Qual não foi a minha surpresa ao me deparar com a superfície de um espelho no fundo da caixa e a minha própria imagem projetada nela. Por mais que nós amemos nossos pais, nossos filhos, parceiros, cônjuges e afins, nada é mais importante nas nossas vidas do que nós mesmos.

E isso inclui uma idéia intrigante: como o foco está sempre em nós, em nós estão as causas de nossas alegrias e angústias, vitórias e derrotas. Não no nosso vizinho, colega de trabalho, parente ou amante, mas em nós mesmos. E se conseguirmos unir a noção da real importância que o nosso interior tem para nós e do quanto nós somos responsáveis pelo que acontece em nossas vidas, o verdadeiro inimigo não mais se esconde. Vendo a raiz do problema, podemos de fato tomar atitudes efetivas para nos melhorarmos, sermos de fato mais felizes e consequentemente melhorar o mundo que nos cerca. Pois ao nos darmos conta da real influência do nosso interior nas nossas vidas, enxergamos o nosso imenso potencial tanto para gerar destruição quanto para criar soluções e coisas belas. Está tudo dentro de nós.

Por mais que nós lutemos contra ameaças externas, devemos sempre nos lembrar dos sábios ensinamentos dos orientais: O Verdadeiro Dragão está dentro de você.

sábado, 6 de novembro de 2010

Origens e motivos

Um amigo meu me deu essa idéia que de tão óbvia me espanta não ter pensado nela antes...parte do pseudônimo veio, claro, por influência de João Cabral [de Melo Neto], e por isso, uma pequena homenagem ao autor e, ao mesmo tempo, uma explicação da escolha do nome...com vocês, "Morte e Vida Severina":


O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza

terça-feira, 26 de outubro de 2010

meios, fins e provocações

A ligeira embriaguez debilita o início fluente do texto a ser concebido....mas de todo modo, a reflexão que me trouxe novamente ao branco do texto a ser escrito é: ....

Mas que início mais cretino, hein, seu Chico..?? peço desculpas a você, que lê.

O fato é esse: meios vesrus finalidades, como lidar com essa dinâmica que, se algum dia já foi funcional, hoje eu vejo distorcida e debilitada.
Não estou falando de Maquiavel e seu questionamento sobre a moral ou a ética das ações que levam a determinado objetivo. Não. Mas por que (e é essa a minha questão) existe essa tendência insuportável em nós de nos prendermos aos meios mais que aos nossos objetivos?

Como assim?

Simples (mentira, mas enfim..): a gente traça um objetivo, grandioso ou não, para nossas vidas. Ok. Para esse objetivo se realizar é preciso seguir certos caminhos possíveis, é preciso escolher ao menos um deles. Escolhemos. Parabéns! Eis que surge um caminho aparentemente seguro e certeiro de conseguirmos aquilo que queremos. E o que acontece? Ao longo do trajeto, certos de que o caminho que nós escolhemos - e que normalmente demandou certo empenho para ser escolhido em detrimento dos demais, o que cria uma certa relação de apego potencialmente problemático a ele - é o melhor a se seguir, freqüentemente nós nos apegamos a ele de tal forma, cegos por esse apego, que fazemos da fidelidade ao mesmo uma prioridade sobre o objetivo sob o qual esse trajeto estava submetido! Alguém faz o favor de avisar o tamanho da loucura e da falta de senso, questionamento e reflexão implicada nisso??

Estamos loucos! Vivemos presos em um sistema de relações e valores vazios, sem significância profunda ou duradoura, imersos nesse imediatismo repugnantemente hedonista que nos ilude e nos paralisa na medida em que ele é limitado quando posto à prova quanto à sua significância e intencionalidade. Isso ocorre, em grande parte, por causa desse erro de direcionamento do nosso foco de atenção ativa. Desse apego irracional ao porto seguro oferecido pelo primeiro meio escolhido para atingir a desejada finalidade.

Esse excesso de apego a algo ilusório e secundário. Isso precisa ser combatido com urgência. É preciso duvidar, questionar, refletir, não perder de vista os nossos objetivos e lutar contra o aparente sossego conformista gerado pela segurança da escolha do aparente 'melhor' ou 'verdadeiro' caminho. O caminho é importante, eu sei - e comentei em posts anteriores - mas sua importância não o torna infalível. E isso é bom, evidencia a existência de alternativas, exibe a flexibilidade das possibilidades de se chegar a algum fim. essa flexibilidade é libertadora.

A flexibilidade libertadora se depara com o apego paralisante e limitador. A escolha deveria ser simples, não? Mas o que é esse lado negro da força que nos faz preferir uma terceira perna de apoio à possibilidade do dinamismo de se ter duas pernas para correr livremente, como diria Clarice Lispector? De onde vem esse medo que nos impede de olhar para os nossos objetivos e tomá-los como norte de nossas ações e, ao invés disso, nos atrela ao vicioso costume de apego aos meios pelo qual tal ação deveria ser orquestrada?

Eu não entendo. Me vejo no nefasto cenário que eu pintei, mas não capto completamente sua motivação. Isso me incomoda. Do fundo da minha alma, com todas as minhas forças, isso me incomoda.

Eu proponho um desafio, uma provocação: eu DUVIDO que você, que lê, tenha a audácia de se desprender dos seus meios e viver em prol de seus objetivos puros, moldando seus meios em função dos fins, não fazendo do meio seu próprio fim. Eu duvido. Eu te desafio a tentar. E me desafio por tabela.

E aí, vai encarar?

sábado, 23 de outubro de 2010

Gangorra

Começo a me questionar sobre o valor do espírito questionador. Ainda o acho válido de todo modo, mas me deparei com o fato dele ser muitas vezes atravancante. 

Quando a gente pensa demais, questiona demais, busca muito valor nas coisas, gastamos um tempo para avaliarmos a validade de determinada ação. E esse tempo adia a execução dessa ação, podendo até impedí-la por completo. De certo modo isso é bom, uma vez que força a ação a um crivo de valor e de utilidade/importância. Se ela for reprovada, nós não a executamos. Somos, assim, fiéis a nós mesmos e não à ação em si.
Essa idéia de fidelidade a si versus fidelidade à ação é bem curiosa. A segunda se encaixa no conceito de piloto automático condenada no primeiro post desse blog. Essa idéia pode parecer confusa, mas reflitamos: as ações que nos são propostas - as que não são espontâneas - obedecem a certo consenso comum de um grupo majoritário ou não. Quando nós nos esforçamos para conseguir um emprego, nos empenhamos para comprar determinado bem, estudamos para 'sermos alguém na vida', procuramos um(a) parceiro(a) para testemunhar intimamente nossa vida e, com uma imensa dose de sorte, conseguimos mantê-lo(a) pela vida toda; enfim, quando nos esforçamos por ações propostas, no fundo estamos assinando um contrato de atendimento a expectativas externas, partindo do pressuposto quase reflexo de que elas traduzem as nossas próprias, internas. O caráter reflexo dessa conclusão é que a torna perigosa.
O questionamento age sobre esse eixo de expectativa externa versus expectativa interna. Ele avalia a compatibilidade entre ambas para nos liberar a executar a ação, caso ambos os aspectos estejam em consonância. Isso nos leva a outro ponto. Nós estamos em constante mudança, assim como em constante mudança estão nossas expectativas internas. Isso se reflete numa alternância de condutas, já que da variação dos impulsos internos decorre a alternância de compatibilidade entre interior e exterior. Em outras palavras, se eu mudo o meu modo de ver as coisas, questiono de modo diferente meu modo de agir e, dessa forma, altero minhas respostas de ação diante das coisas. Essas mudanças podem levar a um outro patamar de questionamento, uma vez que ele altera nosso padrão de resposta aos eventos e alterações de padrão normalmente nos levam a auto-questionamento e reflexão sobre suas causas e efeitos.
Mas todo esse processo não deixa de ser uma burocratização das nossas manifestações no mundo, e como toda burocratização, retarda os processos a ela submetida. Nesse ponto o valor do questionamento se torna dúbio. Até que ponto esse retardo tem valor diante da importância da ação? Eu coloco isso porque não podemos ignorar que toda ação tem seu timing, seu intervalo de tempo ótimo para ocorrer dentro de seu contexto para que seja eficaz, tenha aplicabilidade. Se por um lado o questionamento existe para avaliar e processar os parâmetros da ação, o seu atraso demasiado pode inutilizá-la, mesmo que ela seja plena em efetividade e intenção.
E diante disso tudo, o que fazemos? O que devemos fazer (se podemos tratar de dever nesse caso)? O questionamento sobre o questionamento...

A intenção era expor a problemática, sem propostas resolutivas...

No sim das contas, sobre o questionamento e o que deve ser feito dele, cabe a cada um o seu próprio julgamento, suas próprias ações.

Desejo-lhes, pois, boa sorte! 

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

MotivAção

Ultimamente eu ando pensando muito entre a relação significado e capacidade de ação. O início do raciocínio partiu de um pressuposto simples: eu sempre fui muito preguiçoso com quase tudo, apesar de ter realizado alguns feitos que exigem muita dedicação. Esta, no entanto, sempre foi muito penosa e desgastante e isso acabava me trazendo uma sensação de falta, como se a conquista não tivesse pago todo o esorço empregado no feito.

Com o vestibular foi assim. Grande esforço motivado por uma 'luz no fim do túnel' que se mostrou menos brilhante do que parecia à distância. Depois os primeiros meses de faculdade. Toda a expectativa de encontrar significância nos estudos foi por água a baixo. Tudo parecia muito chato, muito diferente daquilo que 'me prometiam' - não que alguém fizesse alguma promessa de fato, mas todas as vezes que um vestibulando de medicina gastava tardes de domingo estudando geografia, criava-se aquela esperança "não, eu tô fazendo isso pra no futuro só estudar aquilo que eu gosto!". Doce ilusão. E o pior é que aumenta a impressão de desmotivação e insignificância do estudo ao longo do curso. O que antes se mostrava, no cursinho, como um hercúelo acúmulo de conhecimentos e reflexões diversas para que nós, então vestibulandos, respondêssemos às expectativas da universidade em nos apresentarmos como cidadãos reflexivos, com bom conhecimento de mundo, capazes de cumprir com esmero o posto de 'formadores de opnião', se transformava num penoso decorar dados sem conexão lógica com a prática profissional futura e sem qualquer abertura à reflexão. Isso cria uma sensação desoladora de desmotivação em nós, alunos.

Esse funesto cenário começou a mudar com as visitas ao Hospital Universitário. As primeiras visitas foram muito interessanes como experiências, mas se limitava aí. As últimas, principalmente aquelas em que eu tive contato com os recém chegados das ambulâncias, pacientes que se encontravam em alto grau de sensibilização, medo e fragilidade, me trouxeram grandes reflexões posteriores. Me trouxeram, acia de tudo, significado e motivação com a profissão. A sensação de identificação e encaixe, enquadramento em uma situação é algo que precisa sr vivido para ser plenamente compreendido. E isso é o que realmente rege as ações, retira delas o peso e a penúria que nos faz questionar o valor do esforço após asconquistas. É como se osabor da conquista estivesse sempre ali, em cada afazer, em cada passo do percurso. É quando você passa a aproveitar as transições de paisagens no caminho para a praia, quando passa a aproveitar cada oscilação rumo ao orgasmo. O trajeto se torna o objetivo. Um pequeno porém rico objetivo de cada vez umo ao objetivo maior, que se torna apenas a soma dos anteriores. Essa noção é o que motiva a ação. star no HU me fez, pela primeira vez desde que começou o curso, querer estudar de novo. E isso me trouxe esperanças na luta contra a inércia paralisante já citada nesse Blog.

A primeira expriência teve muito valor. Mas ainda há a expectativa das próximas. Dentro e fora do Hospital. Essa motivação que nos faz sentir modeladores da realidade que nos cerca, criadores de ambientes capacitadores ao invés de castradores. Estar do outro lado do Jaleco, do Balcão, da Vida.

Eu me desejo sorte para poder ter esses 'inputs' de alimentação mais vezes com mais frequência. E espero mais. Que outras - e cada vez mais - pessoas tenham acesso a essa experiência.

Até a vista!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Desnecessário

Sim...              
                          N T A                                             C I O     
                     O              N                                     O          N
                M                       H                            M                   A
                                               A                     E                            L
         A                                           
    M                                            R            A           
U                                                     U S S      




Eu sei.

Mosaico de Dois

Sento-me à mesa e chamo a Beleza para unir-se a mim. A Beleza das cores, dos amores, dos personagens, amantes em segredo (que fazem dele o refúgio voluptuoso de suas almas), viventes, que existem em si pela poesia rica de ser e só.
Eu vejo um fim de tarde, de um sol de timidez tardia, alaranjando a azulada abóbada sobre nossos cabelos, soltos à rebeldia serena de uma brisa que vem e foge, sussurra e dança aos nossos ouvidos, nos chama um ao outro, para nos escondermos, fecharmos os olhos, deitarmos no chão, deitarmo-nos um no outro, entrelaçarmos os corpos, unirmos os olhos, sentirmo-nos na totalidade de ser um. Um pensamento, um segredo, um silêncio, um amor.


Mas qual a cor da beleza? Se eu pudesse nomeá-la, desenhá-la, como seria? Qual seria seu cheiro, que sabor teria? Seria jovem, seria senhora? Mulher, ou menina? Que beleza é essa que maquia o rosto do bom-dia de um lilás convidativo aos lençóis ainda sonolentos de nascer o sol, que resiste a acordar e se debruça no horizonte e fica, admira a Beleza em seus bocejos, a espreguiçar e massagear os cabelos de preguiça matinal, esfregar os olhos com um sorriso de alegria ingênua que vê no dia a esperança de se irradiar pelo mundo e se espalhar em cores, bailarina nas nuvens das calçadas. Dançarina hipnotizante, chama que convida a seus braços, a aquecer-lhe, com o calor da alma de quem chega à dança, as pontas dos dedos gelados que frescos como um dedilhar a pele da nuca de olhos cerrados num sorriso tímido.
A beleza num amor em dois, num mosaico de almas desse mosaico de textos, na complementaridade das diferenças, no colorido da mistura dos inusitados, semelhantes e distintos, individualmente coletivos, unidos na beleza de ser e viver as delícias, os sabores, as levezas e os pesos de sermos humanos e, estando em nós, sermos belos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Vórtice

Ódio


Sem qualquer motivo aparente ele vem. E sem outro a culpar eu culpo o cansaço. Ou o tédio? Ou talvez a sensação de não-rendimento adequado em relação às próprias expectativas. Ou que sabe de todas as cores, o branco? Enfim, ódio!


Quando a realidade ganha cheiro de sonho de expectador distante, onde tudo são zumbidos, o mercado de peixe de que se queixava a professorinha do fundamental em dia de muita conversa em sala de aula. Aquele zum-zum-zum irritante e desconexo aos ouvidos dos alheios aos microassuntos por muitas vezes vazios de sentido ou intenção, mas que ainda assim enchem seus interlocutores de interesse e suas vazias mentes simplórias de pó. De nada. E o coração dos terceiros de ódio, intolerância.


O ódio surge da intolerância ou este se origina daquele? [o ovo ou a galinha?]


A intolerância com o outro, consigo mesmo, com o meio externo. A intolerância com o próprio mundo interno, com o excesso de crítica de si para o mundo, do mundo para si, de si em si, com a irritante insistência em tocar a mesma nota fúnebre, esganiçada, estridente, persistente e intolerante. Esse ciclo vicioso, pantanoso, de aprisionamento desconexo do ser num mundo de absolutos, inflexível.


Ah a inflexibilidade paralisante [do ódio, da intolerância, do tédio, de além]! Essa inércia destrutiva e intrasponível, impossibilitadora, castrativa; essa colabagem de intenções vazias sobre o potencial criativo. O criativo castrado no cláustro das próprias impossibilidades, dos pessimimos, do ódio.


E torna a ele. Do ódio ao ódio. Do pó ao pó. E entre um pó e outro, o entusiasmo mágico da criação!


A criação de mais um regurgito desconexo. Do qual retorno ao pó e os aguardo na próxima desinércia!


E na inércia do fim deixo-o não dito!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Controvérsia

Fútil.

Após uma introdução pretenciosamente reflexiva, um relato fútil.

O que nos segura? Digo, o que em NÓS MESMOS nos prende, nos impede de voar?

Depois de dias e dias a fio com afazeres até a ponta dos cabelos, hoje finalmente tive uma 'folga', um hiato para ser só meu, para eu fazer qualquer coisa que eu quisesse, para por em dia o que fosse possível, ler algo interessante, fazer algo interessante ou útil com o tempo livre disponibilizado e tão raro. Eu poderia utilizar esse tempo para, de uma forma ou de outra, investir em mim, já que o dia-a-dia consome todo o tempo disponível que eu teria para isso - e tornando o bom sono o único, e ainda assim raro, investimento concreto de mim para mim mesmo - mas no fim das contas a oportunidade acabou sendo gasta à toa...música, MSN, um fingido trabalhar sobre um afazer da faculdade, um texto vazio no blog recém-nascido, enfim, muita ocupação, pouca utilidade e, pelo menos aparentemente, poucos frutos futuros.

E por quê? Se existe o desejo consciente - no momento da falta de tempo - de agir, de construir, de investir; de onde vem, e com qual intenção, esse impulso paralisante e autodestrutivo de autoboicote? Uma espécie de preguiça, uma vontade quase consciente de deixar de fazer o que é preciso de propósito, o que motiva esse impulso?

Algumas possibilidades de resposta se esfumaçam na minha cabeça, mas como diriam os irmãos Wachowski - ou os autores das obras que os inspiraram : "é a pergunta que nos motiva". E é com essas interrogações reticentes que eu termino essa futilidade toda - e a talvez completa inutilidade desse texto romanticamente egocêntrico.

Se bem que vômitos como esse não existem por utilidade, eles existem em si - e talvez por isso eu os considere fúteis.

Enfim...

De todo modo, até breve!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Episódio Piloto

Qual é essa de ter um Blog?

Eu lembro que da primeira vez que ouvi falar disso me pareceu muito coisa de adolescente perdido com mania de ser tecnológico: "Ó, agora eu tenho um diário digital. Mundo, olhe para mim!"

É incrível como a gente pode ser preconceituoso, né? Com o tempo eu fui apresentado a alguns trabalhos muito interessantes, inclusive de amigos próximos. Eles me fizeram enxergar o mundo Bloggeiro como um veículo de exposição de idéias, de divulgação de pontos de vista diferentes...

Mas e eu, sobre o que vou escrever? Vou expor meu cotidiano? Vou fazer do meu Blog um Twitter com mais caracteres? Vou tentar mudar o mundo com as minhas idéias (E será que elas chegam à metade da competência para tal feito?? Duvido muito)? "E agora, José? E agora, você?"

A resposta óbvia: ainda não sei...o título da página fala por si.

E falando em título (digressão, aí vou eu), acho que um bom modo de começar é explicar o endereço do blog. Piloto manual??? Como assim, por exemplo?

Pois é, a idéia é razoavelmente simples. Eu parto do pressuposto que, fora os momentos raros de reflexão, nós vivemos num grande piloto automático para tudo, sem questionamentos, sem parar para pensar no que estamos fazendo ou no que estamos pensando. E assim levamos a vida, seguindo um caminho desconhecido e confiando no piloto automático! Ôpa, peraí, como é que eu tomo um trajeto desconhecido e confio num piloto automático? Como eu não posso ter noção de destino ou de trajeto? E se o caminho escolhido não é adequado para mim ou para você? E qual é o SEU caminho?? Não o que a sua família ditou para você ou o que seus vizinhos esperam que você siga. O SEU próprio, aquele que dá vontade de seguir, mas falta uma dose de coragem.

Lendo um pouco (infelizmente, bem pouco) sobre o movimento Punk (o que eu recomendo a todos, até para perder o preconceito de que o movimento é coisa de adolescente retardado e revoltado com a vida), e convivendo com algumas pessoas muito especiais, eu comecei a me questionar mais sobre essa idéia de tomar as rédeas da própria vida, da própria mente. Esse "pilotem suas próprias cabeças", ser discípulo de si (endereço, inclusive de um dos blogs que eu andei lendo e que me fizeram mudar minha concepção sobre o veículo), e não dos outros. Ler e ouvir idéias e questioná-las, independente de quão confiável seja a fonte, pois nada é mais confiável que o nosso próprio senso crítico, pois ele é nosso e as coisas devem fazer sentido para nós mesmos, não para os outros. E se estivermos errados? Se estivermos, estamos. A vida é dinâmica. Esse dinamismo torna o erro compatível com a vida. Somos um processo. Ou melhor, estamos, não somos. O 'ser' pode ser considerado como uma análise temporal e extensa de uma sequência de vários estados, como etapas de um processo.

Enfim, a intenção está prestes a se perder na prolixidade. E esse é um vício contra o qual eu lutarei sempre nesse blog - e já sei que serei falho diversas vezes. Mas por hora, paremos onde estamos. A idéia é introduzir e questionar. E o resto? O resto vem com o tempo.

Muito Prazer!

E bem vindos ao meu mundo. Ao nosso mundo. Ao mundo!