terça-feira, 26 de outubro de 2010

meios, fins e provocações

A ligeira embriaguez debilita o início fluente do texto a ser concebido....mas de todo modo, a reflexão que me trouxe novamente ao branco do texto a ser escrito é: ....

Mas que início mais cretino, hein, seu Chico..?? peço desculpas a você, que lê.

O fato é esse: meios vesrus finalidades, como lidar com essa dinâmica que, se algum dia já foi funcional, hoje eu vejo distorcida e debilitada.
Não estou falando de Maquiavel e seu questionamento sobre a moral ou a ética das ações que levam a determinado objetivo. Não. Mas por que (e é essa a minha questão) existe essa tendência insuportável em nós de nos prendermos aos meios mais que aos nossos objetivos?

Como assim?

Simples (mentira, mas enfim..): a gente traça um objetivo, grandioso ou não, para nossas vidas. Ok. Para esse objetivo se realizar é preciso seguir certos caminhos possíveis, é preciso escolher ao menos um deles. Escolhemos. Parabéns! Eis que surge um caminho aparentemente seguro e certeiro de conseguirmos aquilo que queremos. E o que acontece? Ao longo do trajeto, certos de que o caminho que nós escolhemos - e que normalmente demandou certo empenho para ser escolhido em detrimento dos demais, o que cria uma certa relação de apego potencialmente problemático a ele - é o melhor a se seguir, freqüentemente nós nos apegamos a ele de tal forma, cegos por esse apego, que fazemos da fidelidade ao mesmo uma prioridade sobre o objetivo sob o qual esse trajeto estava submetido! Alguém faz o favor de avisar o tamanho da loucura e da falta de senso, questionamento e reflexão implicada nisso??

Estamos loucos! Vivemos presos em um sistema de relações e valores vazios, sem significância profunda ou duradoura, imersos nesse imediatismo repugnantemente hedonista que nos ilude e nos paralisa na medida em que ele é limitado quando posto à prova quanto à sua significância e intencionalidade. Isso ocorre, em grande parte, por causa desse erro de direcionamento do nosso foco de atenção ativa. Desse apego irracional ao porto seguro oferecido pelo primeiro meio escolhido para atingir a desejada finalidade.

Esse excesso de apego a algo ilusório e secundário. Isso precisa ser combatido com urgência. É preciso duvidar, questionar, refletir, não perder de vista os nossos objetivos e lutar contra o aparente sossego conformista gerado pela segurança da escolha do aparente 'melhor' ou 'verdadeiro' caminho. O caminho é importante, eu sei - e comentei em posts anteriores - mas sua importância não o torna infalível. E isso é bom, evidencia a existência de alternativas, exibe a flexibilidade das possibilidades de se chegar a algum fim. essa flexibilidade é libertadora.

A flexibilidade libertadora se depara com o apego paralisante e limitador. A escolha deveria ser simples, não? Mas o que é esse lado negro da força que nos faz preferir uma terceira perna de apoio à possibilidade do dinamismo de se ter duas pernas para correr livremente, como diria Clarice Lispector? De onde vem esse medo que nos impede de olhar para os nossos objetivos e tomá-los como norte de nossas ações e, ao invés disso, nos atrela ao vicioso costume de apego aos meios pelo qual tal ação deveria ser orquestrada?

Eu não entendo. Me vejo no nefasto cenário que eu pintei, mas não capto completamente sua motivação. Isso me incomoda. Do fundo da minha alma, com todas as minhas forças, isso me incomoda.

Eu proponho um desafio, uma provocação: eu DUVIDO que você, que lê, tenha a audácia de se desprender dos seus meios e viver em prol de seus objetivos puros, moldando seus meios em função dos fins, não fazendo do meio seu próprio fim. Eu duvido. Eu te desafio a tentar. E me desafio por tabela.

E aí, vai encarar?

sábado, 23 de outubro de 2010

Gangorra

Começo a me questionar sobre o valor do espírito questionador. Ainda o acho válido de todo modo, mas me deparei com o fato dele ser muitas vezes atravancante. 

Quando a gente pensa demais, questiona demais, busca muito valor nas coisas, gastamos um tempo para avaliarmos a validade de determinada ação. E esse tempo adia a execução dessa ação, podendo até impedí-la por completo. De certo modo isso é bom, uma vez que força a ação a um crivo de valor e de utilidade/importância. Se ela for reprovada, nós não a executamos. Somos, assim, fiéis a nós mesmos e não à ação em si.
Essa idéia de fidelidade a si versus fidelidade à ação é bem curiosa. A segunda se encaixa no conceito de piloto automático condenada no primeiro post desse blog. Essa idéia pode parecer confusa, mas reflitamos: as ações que nos são propostas - as que não são espontâneas - obedecem a certo consenso comum de um grupo majoritário ou não. Quando nós nos esforçamos para conseguir um emprego, nos empenhamos para comprar determinado bem, estudamos para 'sermos alguém na vida', procuramos um(a) parceiro(a) para testemunhar intimamente nossa vida e, com uma imensa dose de sorte, conseguimos mantê-lo(a) pela vida toda; enfim, quando nos esforçamos por ações propostas, no fundo estamos assinando um contrato de atendimento a expectativas externas, partindo do pressuposto quase reflexo de que elas traduzem as nossas próprias, internas. O caráter reflexo dessa conclusão é que a torna perigosa.
O questionamento age sobre esse eixo de expectativa externa versus expectativa interna. Ele avalia a compatibilidade entre ambas para nos liberar a executar a ação, caso ambos os aspectos estejam em consonância. Isso nos leva a outro ponto. Nós estamos em constante mudança, assim como em constante mudança estão nossas expectativas internas. Isso se reflete numa alternância de condutas, já que da variação dos impulsos internos decorre a alternância de compatibilidade entre interior e exterior. Em outras palavras, se eu mudo o meu modo de ver as coisas, questiono de modo diferente meu modo de agir e, dessa forma, altero minhas respostas de ação diante das coisas. Essas mudanças podem levar a um outro patamar de questionamento, uma vez que ele altera nosso padrão de resposta aos eventos e alterações de padrão normalmente nos levam a auto-questionamento e reflexão sobre suas causas e efeitos.
Mas todo esse processo não deixa de ser uma burocratização das nossas manifestações no mundo, e como toda burocratização, retarda os processos a ela submetida. Nesse ponto o valor do questionamento se torna dúbio. Até que ponto esse retardo tem valor diante da importância da ação? Eu coloco isso porque não podemos ignorar que toda ação tem seu timing, seu intervalo de tempo ótimo para ocorrer dentro de seu contexto para que seja eficaz, tenha aplicabilidade. Se por um lado o questionamento existe para avaliar e processar os parâmetros da ação, o seu atraso demasiado pode inutilizá-la, mesmo que ela seja plena em efetividade e intenção.
E diante disso tudo, o que fazemos? O que devemos fazer (se podemos tratar de dever nesse caso)? O questionamento sobre o questionamento...

A intenção era expor a problemática, sem propostas resolutivas...

No sim das contas, sobre o questionamento e o que deve ser feito dele, cabe a cada um o seu próprio julgamento, suas próprias ações.

Desejo-lhes, pois, boa sorte! 

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

MotivAção

Ultimamente eu ando pensando muito entre a relação significado e capacidade de ação. O início do raciocínio partiu de um pressuposto simples: eu sempre fui muito preguiçoso com quase tudo, apesar de ter realizado alguns feitos que exigem muita dedicação. Esta, no entanto, sempre foi muito penosa e desgastante e isso acabava me trazendo uma sensação de falta, como se a conquista não tivesse pago todo o esorço empregado no feito.

Com o vestibular foi assim. Grande esforço motivado por uma 'luz no fim do túnel' que se mostrou menos brilhante do que parecia à distância. Depois os primeiros meses de faculdade. Toda a expectativa de encontrar significância nos estudos foi por água a baixo. Tudo parecia muito chato, muito diferente daquilo que 'me prometiam' - não que alguém fizesse alguma promessa de fato, mas todas as vezes que um vestibulando de medicina gastava tardes de domingo estudando geografia, criava-se aquela esperança "não, eu tô fazendo isso pra no futuro só estudar aquilo que eu gosto!". Doce ilusão. E o pior é que aumenta a impressão de desmotivação e insignificância do estudo ao longo do curso. O que antes se mostrava, no cursinho, como um hercúelo acúmulo de conhecimentos e reflexões diversas para que nós, então vestibulandos, respondêssemos às expectativas da universidade em nos apresentarmos como cidadãos reflexivos, com bom conhecimento de mundo, capazes de cumprir com esmero o posto de 'formadores de opnião', se transformava num penoso decorar dados sem conexão lógica com a prática profissional futura e sem qualquer abertura à reflexão. Isso cria uma sensação desoladora de desmotivação em nós, alunos.

Esse funesto cenário começou a mudar com as visitas ao Hospital Universitário. As primeiras visitas foram muito interessanes como experiências, mas se limitava aí. As últimas, principalmente aquelas em que eu tive contato com os recém chegados das ambulâncias, pacientes que se encontravam em alto grau de sensibilização, medo e fragilidade, me trouxeram grandes reflexões posteriores. Me trouxeram, acia de tudo, significado e motivação com a profissão. A sensação de identificação e encaixe, enquadramento em uma situação é algo que precisa sr vivido para ser plenamente compreendido. E isso é o que realmente rege as ações, retira delas o peso e a penúria que nos faz questionar o valor do esforço após asconquistas. É como se osabor da conquista estivesse sempre ali, em cada afazer, em cada passo do percurso. É quando você passa a aproveitar as transições de paisagens no caminho para a praia, quando passa a aproveitar cada oscilação rumo ao orgasmo. O trajeto se torna o objetivo. Um pequeno porém rico objetivo de cada vez umo ao objetivo maior, que se torna apenas a soma dos anteriores. Essa noção é o que motiva a ação. star no HU me fez, pela primeira vez desde que começou o curso, querer estudar de novo. E isso me trouxe esperanças na luta contra a inércia paralisante já citada nesse Blog.

A primeira expriência teve muito valor. Mas ainda há a expectativa das próximas. Dentro e fora do Hospital. Essa motivação que nos faz sentir modeladores da realidade que nos cerca, criadores de ambientes capacitadores ao invés de castradores. Estar do outro lado do Jaleco, do Balcão, da Vida.

Eu me desejo sorte para poder ter esses 'inputs' de alimentação mais vezes com mais frequência. E espero mais. Que outras - e cada vez mais - pessoas tenham acesso a essa experiência.

Até a vista!