domingo, 18 de dezembro de 2011

Que dúvida

Não se pergunta mais. As perguntas cessaram por muito tempo. Enchemos nosso mundo de respostas. Esgotamos todas as perguntas, não é mesmo? “Resolvemos o problema da felicidade”. Resolvemos o problema da dúvida. A dúvida que trazia angústia, conflito, não existe mais.

“É a pergunta que nos motiva”. É o filme que termina em aberto, a história sem fim, o conto inacabado. As respostas nos matam enquanto seres humanos. Destroem a humanidade que existe em nós. As respostas não podem encerrar as perguntas.

Não me venha com respostas! Muito menos as prontas. Não concorde comigo. Não ofereça senão perguntas às minhas próprias indagações. Eu quero a discordância, a dúvida, a angústia de volta. O sentimento de insatisfação, a alma “armada e apontada para a cara do sossego”.

Onde foram parar as perguntas? Trancafiaram-nas? Criaram um Neo-pandorismo no qual foram retidas todas as dúvidas, todos os incômodos, toda a beleza do caos e seus infinitos potenciais de criação, destruição, transformação?

Trancafiaram a angústia dentro do consultório? Virou doença, algo não menos que condenável? Numa sociedade doente, questionar os princípios de nossa morbidade social ou o ilusório estado de bem-estar e avanço no qual estamos imersos se torna sintoma, é “coisa pra psiquiatria”?

A depressão com o mundo. A tristeza que “não se consegue explicar” se torna doença passível de tratamento, medicalização, isolamento e “cura”. A insatisfação com o mundo por si só não pode existir. Deve haver uma explicação plausível, mensurável e tratável.

Não pode haver pergunta sem resposta. Já imaginou o risco? E ter destruído tudo isso que foi erguido com tanto esforço? Se os ciclos ficam em aberto, existe o risco das nossas aquisições ruírem. Pó. Não pode haver pergunta sem resposta. E dada uma resposta, deve-se cessar as perguntas. É assim nas escolas: quantas vezes os professores realmente assumem na prática o discurso de “eu explico quantas vezes for necessário caso vocês não entendam”? Mentira! Perdem a paciência na terceira, quando não na segunda tentativa do aluno de “ousar não engolir a primeira resposta”. É assim dentro de casa: quantas vezes filhos não são castigados ou agredidos por fazer “perguntas demais”? É assim na sociedade: Vivemos uma ditadura fantasma. Não se vê mais mortes, torturas e queimas de arquivo. Mas experimente questionar tudo. Experimente demonstrar o menor estranhamento ao mudo e às suas regras e estruturas. Tão rápido quanto terminar de proferir um “por que?” e o indivíduo já se vê experimentando os mais variados graus de marginalização.

Todos se fingem contentes e satisfeitos. Otimamente conformados com todas as aquisições da nossa querida humanidade. Igualmente queixosos, ranzinzas e insatisfeitos. Tornamos-nos esse irônico paradoxo de (in)satisfação. Sem culhões para nos dispormos ao legítimo estranhamento significativo do mundo e fadados ao sorriso amarelo da resposta que encerra nossas perguntas.

Para não incomodar o vizinho – ou a nós mesmos – simplesmente paramos de perguntar. Apenas concordamos.

Sem lugar para o “não”, nos auto-acorrentamos ao eterno, confortável e insosso “sim”.

Não me venha com mais respostas. Eu não sei qual a saída, nem quero doses da arrogância alheia, essa prepotência insuportavelmente disfarçada em boas intenções.

Alguma dúvida?

sábado, 17 de dezembro de 2011

Gaiola

E o que a gente faz quando se encontra atrelado à própria história? Às vezes eu penso que deveria haver um modo de se libertar do próprio passado. Começar de novo. Papel em branco. Escrever a própria história.

Esse papo de que "nós escrevemos nossa própria história" tem muitas limitações. Acho que o único modo delas não existirem seria estarmos numa ilha deserta gritando "Wilson!" e correndo de um lado para o outro.

E o que a gente faz quando nos vemos presos a situações que nós não escolhemos mas das quais, ainda assim, como quem ri da nossa impotência e circunstancial insignificância, não conseguimos nos livrar e nos afetam de forma tão profunda a ponto de afetar quem nos cerca?

Às vezes dá vontade de sumir...cair no mundo, abandonar o passado, abandonar a história, abandonar tudo. Seguir como se deveria...

É um misto de ódio e desamparo...no fim das contas, somos nós os mais afetados pela nossa própria história...dela não dá pra fugir...os outros podem fugir da nossa história fugindo de nós...nós não temos essa opção, não há opção se não o cárcere, pelo menos não sozinho.....como a sujeira que fica encrostada na nossa pele, por mais que nós esfreguemos pedra, bucha..até esfolar, até sangrar...sai o sangue, sai a pele, sai o couro, mas a mancha permanece...continua lá...rindo dos nossos esforços vãos...

vontade de fugir...sair correndo até deixar todo esse peso para trás

como quem toma impulso pra ver se consegue escapar por entre os vãos da gaiola

poder voar, enfim...

mas tem muita lama nas minhas asas....

e eu não consigo limpá-las sozinho....

alguém?

toc, toc....


silêncio....

"there hay no banda!"

domingo, 4 de dezembro de 2011

Declarações de amor

...

não há nada que a palavra diga
que expresse melhor que meu corpo em presença.

enxurrada/das explosões

É tudo uma questão de compreensão/incompreensão

comportas de águas represadas não se abrem à toa

"olha, tem um monte de água aqui, é perigoso e complicado, dolorido"
"não, você não entende, não tem água, na verdade isso que você chama de água é 'isso, aquilo e aquilo outro'"
"não, é sério, tem muita água, me escuta!"
"não, você é que não está me escutando, se você olhar por esse lado, vai ver que não tem água e que na verdade o que eu vejo é 'isso, aquilo e aquilo outro"
"..."
"o que foi?"
"é água"
"já disse, não é."
comportas se abrem, encharcando tudo que há pela frente
"que foi, se molhou? mas ué, não foi você quem disse que não havia água?"


coisas desnecessárias, não é mesmo?

comunicação.

Oximoro

Da primeira vez que ouvi essa palavra, não sabia ao certo o que era. Logo o professor disse que era o mesmo que "paradoxo". E eu fiquei indagando porque inventar outra palavra pra designar "paradoxo", se ela mesma já é tão misteriosa, tão paradoxal?

Oximoro me lembra peixe, na verdade, me lembra oxiurus, que de peixe não tem nada. Mas quando eu leio ou ouço "Oximoro", me vem em mente aqueles animais aquáticos primitivos...sei lá

tão estranho quanto o entendimento da palavra, é o entendimento de seu sentido. Ainda mais quando se sente.
Essa coisa mista
esse amor-ódio
essa saudade-raiva

essa vontade de brigar
essa vontade de abraçar
gritar
beijar
esbravejar
dormir junto
abraçado, colado
uno

tanta coisa na garganta
tanto amor contido

tanta coisa ferida

tanta coisa ao mesmo tempo

nada se anula

tudo se soma

e no meio de tantas adições

esse paradoxo

Irresoluto

Sabe que tem horas em que tudo dentro de nós se embalaia? É, isso mesmo, embalaia. Não vou colocar aspas. Se a palavra nunca foi dita por ninguém antes, ela está aqui, neste momento, criada.
De gatos. De balaios. Quando escrevo "embalaiado" eu imagino essa cesta de palha, com lãs dentro. Várias, de várias cores e tipos. E um gato enrolado nelas de um jeito, que não se pode definir coisa alguma.

É essa a sensação. Sem grandes explicações por aqui. Hoje acordei mais querendo ter a liberdade de me expor do que a sorte de ser compreendido. Porque compreensão tem muito disso, né? Sorte.
Lugar certo, hora certa..momento certo entre emissor e receptor. O que os falantes do inglês chamam de timming.

Mas quando tá tudo junto, e não se sabe dizer, precisar de certo, o que prevalece? E quando nada prevalece e tudo que se tem de notório, de comum, é o emaranhado? Quando não existe moda, nem tampouco média e tudo o que se mostra são impossíveis variâncias que se sobrepõe umas às outras...distribuições que nada mais têm além de variâncias....essas coisas impossíveis que só existem na nossa cabeça...que só existem na cabeça de quem sente, nunca, jamais na de quem só entende.

Sentir...essa coisa estranha e boa e ruim e amarga e doce e ácida e salgada e tenra e macia e áspera e tudo. Tudo é e nada parece fazer um sentido só. Os sentidos são vários, as ligações são outras, a lógica se expande para além de si mesma. Criam-se novos parâmetros, muda-se a regra do jogo quando se sai do simples pensar.

E fica tudo assim, Embalaiado.

às vezes dá aquela vontade incontrolável de só viver, de só sentir as coisas que são mais vivas, as coisas mais Yang..mesmo havendo tantos Yins no meio de tudo...

Na verdade a vontade é de poder viver tudo. Tudo. Yin, Yang e toda a gama existente entre eles. Nem só o negro, nem o branco. Nem vilão, nem herói. Nem sim, nem não.

De todas as possibilidades, de todas as alternativas,
Eu mesmo

Mesmo assim, irresoluto.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Diálogos

Às vezes a cegueira nos assusta
A cegueira do outro
A nossa sobre nós mesmos

E talvez a nossa cegueira assuste ao outro

O escuro sempre foi palco para os medos
os monstros 
de baixo da cama
por trás da porta
de dentro do armário

tantas coisas que nos amedrontam
que nos apavoram
e que magicamente somem

ao dedilhar do interruptor
e a mágica presença da lâmpada
em sorrisos de esclarecimento
amanhecendo as cores do quarto

mostrando atrás da porta,a parede
dentro do armário, roupas
debaixo da cama, chão
quando muito, bola, meia, peão

Às vezes sentimos o outro ausente
sentimo-no no escuro
sentimos-nos no escuro
fora dos campos de visão

Nesse esconde-esconde a gente "brinca"
"minha vez"
"sua vez"
"tá com você"
"1,2,3 fulano"

"não vale, me dedaram"

e assim as coisas vão...

para ver é preciso ser visto
pelo outro
por si mesmo

para ver é preciso tato
por vezes antes mãos do que olhos

mais que um par de olhos
ou par de mãos
par de almas
dois irmãos

cúmplices
mesmo perto
fora do alcance de visão

Saudade

A saudade que fica

A saudade que marca

No fim das coisas, o que permanece
a saudade

acaba-se o ano
findam as obrigações
os afazeres
os horários

e ela fica
persistente
menina teimosa que insiste em dizer "não!"

faz sua própria hora, essa serelepe saudade

não recebe ordens, nem conselhos
receitas ou sugestões

simplesmente vem, sem ser convidada
penetra de festa,
a que ninguém chama
nem tem coragem de mandar embora

E em meio a tantos "eu"s
ela
a saudade

essa que não se pode findar
não ainda

é preciso tempo

esse meio-irmão gêmeo da saudade

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sacrifícios

Valem à pena?

Valem
pelos ideais, pensamentos, pessoas
por aquilo que realmente ressoa
por aquilo que assumimos

por aquilo que nos faz levantar no dia seguinte
sim, vale a pena!

"tudo vale a pena, quando a alma não é pequena"

mesmo quando o corpo parece tão pouco
parece sucumbir

reserva

segunda vez no ano
tendo que subir os giros do motor
com muito chão pela frente ainda

e o tanque na reserva...

"a vida não é fácil"
já dizia senhor Marco, grande mestre

sábias palavras

não
não é fácil

mas vale à pena
pelo menos por alguns
os poucos
que ficam
que marcam nossas vidas

com quem decidimos escrever nossas histórias
nosso roteiro sem rascunho

Vale a pena!

Por nós
pelos que escolhemos como nossos

pelo amor
pela mulher
pela vida

Vale à pena!

mesmo quando sai tudo torto
e o inverso do que tínhamos imaginado de início...

talvez o que nós realmente queremos
nada tem a ver com o que planejamos....


talvez...

latência reticente

Tempo tempo
quanto tempo até tudo explodir?

o tempo passa, o combustível vai chegando
o gás vai enchendo o botijão

o tempo...
o tempo..


o espaço e a distância
o fermentante caldo insosso vai ganhando corpo
vai ficando ácido

o riso esganiçado e cínico

o ódio latente

a latência crescente....

o silêncio me irrita.

semnome

Quando de mãos atadas e um leve sorriso no rosto, sentimos uma certa dor que não é nossa, mas ainda assim insiste, clandestina, em nos visitar, convidar ao seu sabor.
Essa estranha sensação...essa vontade de ir socorrer, curar, acarinhar...a intenção e a impotência, esse inconveniente ímpeto não-convidado...

De tudo que se passa, de tudo que não foi engano, e, mesmo errado, foi verdadeiro. Foi. Não arriscarei o "tinha que ser", não sou chegado a essa concepção. Mas foi o que foi, não tinha como não sê-lo. Não pelo momento, não pelo contexto.

O que fica hoje é a vontade do colo. Não o pedido, mas a oferta
O direito talvez perdido
Talvez por hora
Ainda assim, querido
requerido
inconsequentemente negado

A oferta tardia
os braços quentes que transbordam um calor que é muito só pra si
precisa se compartilhar

não é possível
agora não é permitido

Castigo

"vai pensar no que você fez"

tô indo...

com ímpetos de culpa
e muitas caraminholas na cabeça...

tem horas que tem que ser...

temque

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Coisas que eu quero não apenas nos amigos, mas aprender a encontrar em mim mesmo...

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. 

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. 
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. 
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. 
Deles não quero resposta, quero meu avesso. 
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco(...)
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril."



Oscar Wilde

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Lágrimas vomitadas no papel

Na....

Na....

Na ne

ness...

Necessidade...

De escrever

sei lá eu o quê

as palavras cantam para sair
querem o ar
querem seu lar
querem voar
querem cair
no mundo
na vida
na ida

de-sa-pa-re-ci-da

Nossa senhora que roga pelos que acreditam
e dizem que tanto assim pelos incrédulos....

se de fato for...que rogue também por mim

que não sei mais
não sou mais
não
simples
a negação

do mundo fosco que se dissolve em cores sem brilho
em tons de sombra

em contrastes do escuro com o opaco
O parco pão de ânimo para levantar
Para a coragem de sorrir o dia
No riso amarelo da obrigação de sair de si
de ser no mundo
sem vontade de ser se não em si mesmo
ensimesmado que só
sem conseguir explicar
sem vontade de entender
sem graça para tentar falar
sem ânimo nem para ler

tudo é longe
tudo é pouco
e os excessos estão a transbordar pela garganta

excessos de uma vida de limites excedidos

a vontade remanescente de simplesmente ser
e correr sorridente
sem obrigações
malícia, preocupações

pelo salão da festa alheia
que se faz sua dentro de sua completa existência
e a falta que faz essa completude perdida

os sorrisos custosos
as cores com as marcas de pincel
que forçam-nas no branco do papel
roubam-nas do que sonha ser o céu

Problemas tantos, não mais o seu

Sem saber encaixar em nada o que falta dentro de si
O que sobra de si e não cabe no seu mundo

imunda criação forçosa da vida

Essa vida Severina...

Cores com ar de Leonardo

Na abstenção da realidade a vida toma a mente em possessão
A consome de tal forma, faz do mundo um sem número de cores invisíveis
Colorindo o interno
O interior
Dando luz ao oculto e sorrateiro,
ligeiro e tímido sonho que pulsa de dentro por não poder sair
admira as vestes do mundo de fora
colore-os em sua imaginação infindável e inocente
coloca-as cores que não há
cores que só são em si mesmo
no interior do lago profundo
as profundezas de sua alma

onde ao som da música, brincamos de ser criança nos campos verdes
fazendo anjos de neve na grama viva
sujando-nos de alegria pela liberdade de sermos o que quisermos

do vasto verde ao imenso azul
com todos os direitos às manchas brancas
que quebram a monotonia do imenso vasto

a imensidão sem fim

domingo, 6 de novembro de 2011

Enquanto em sonho perdia-se nos labirínticos caminhos inconscientes, sua presença penetrava-lhe pela janela do quarto, perturbando a transparência fosca das cortinas brancas esvoaçantes com os envolventes ares noturnos.

Chegava-lhe junto à face...e aos olhos fechados de viajante das entranhas de si mesmo, dizia-lhe aos ouvidos "me beijava como se não houvesse outra mulher no universo inteiro!"

Em seu universo onírico não havia senão ser, outro que lhe casasse tanto à vida...

Em seu universo onírico corriam-lhe as lágrimas da vida
entrelaçando-se umas às outras

Sendo senão duas lágrimas
A escorrer em vida
Pela face do mundo
Buscando seus caminhos

Em encontros e desencontros pela malha do tempo

sábado, 5 de novembro de 2011

Reticente

O peso presente
O sorriso latente
Todas as suas repetições

O constante vai e vem
alegrias, tristezas
choros, risadas
repetidas emoções

O visitante do café da tarde
hora se esquece de bater à porta
outra não deixa, é pontual

e a roda girando continuamente
nos levando para frente
len-ta-men-te
nos fazendo passar por todos os seus pontos
repetida e reticente

nesse embaçar de vidros
o embaçar da vida
que continua lá fora
pela janela do quarto
com todas as suas cores
todos os sabores
e todas as suas dores
que não são minhas

e enquanto isso eu aqui
me divertindo com os vultos através da janela
vendo deles o que há em mim

o que sempre precisou ser visto

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Frio

E sentiu seu corpo todo ser tomado por um súbito turbilhão...seus ossos debatendo-se contra sua carne, arrancava-lho arrepios fúnebres, agouros do sofrimento atros....debatiam-se os ossos uns contra os outros...as partes de seu corpo agitavam-se como quem quer sair, se desagregar, se desintegrar, não mais ser, não mais sentir, não mais nada....
Não queria nada...sentiu de repente uma não-vontade...não havia nada que o mundo lhe ofertasse...nada...

Nada lhe tiraria das entranhas aquela gélida sensação de solidão. O desamparo tomava conta pouco a pouco dos seus poros, dos seus pelos, cabelos...tudo se eriçava numa só onda de desespero...

Tudo era nada naquele momento.

Apertou as mãos como quem busca vida dentro de si...sentiu senão o frio correndo dentro das veias...A vida por instantes esvaía-se. Morria, parte de si...como se naquele exato momento fizesse a gélida travessia...pegava o barco sem moedas nos olhos....uma instantânea viagem sem volta, da qual mal fizera, já sentia saudades...

A única remanescência era o frio...
Nem vida, nem Vontade, nem desejos, nem o que se poderia chamar dor, medo ou receio

Apenas o frio

A esvair-lhe tudo naquele momento

terça-feira, 11 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Healthy??

"What you're offering me DOES NOT CURE ME!"

Sempre pensei isso. Sempre penso. Quando? Informação desnecessária. Hoje é dia de conversa..conversa com o papel, conversa com eventuais - e pouco prováveis fora do círculo comum - leitores...

Estado de bem-estar físico mental e social diz a OMS, né? Pois então.....a insatisfação me permeia..sempre permeou...me permeia desde que eu comecei a perceber as minhas limitações e o quanto elas me afetam...elas em si não me incomodam tanto, mas o quanto elas me afetam, sim.

e essa constante sensação...de ser incurável...intratável...sem conserto...

Tá tudo bem..as coisas vão bem...eu não teria inicialmente do que reclamar..conquistei coisas na vida que muitos invejariam..e outros tantos jamais conseguirão nem a metade....

E daí? porque então eu não estou satisfeito? Por que eu não estou feliz?
[Se me vier com o discursinho de modernidade líquida e pós-modernismo, na boa, com todo o respeito, enfia esse discursinho taxativo meia-boca no meio do cu, obrigado.]

"A vida não tem rascunho", não é isso o que dizia Milan Kundera?

pois então...e quando o projeto sai meia boca?
Com uma boa aparência, mas uma estrutura podre?
"O que eu faço com isso?"

"você deu certo"


Pff...tá bom...

E qual o referencial??

"qual é o objetivo???"

acho que eu sou viciado em Divãs

As coisas parecem emboladas..como um novelo de lã que passa pelas patas de um gato...e parece nunca mais ter condições de se reorganizar...de ser harmônico de novo...

tanta coisa perdida....
tantos momentos
oportunidades

tantos fragmentos que parecem não se encaixar mais dentro de mim...e a sensação de estar quebrado, incompleto, fragmentado, não-inteiro
não sei se algum dia me sentirei saudável enquanto me mantiver com essa sensação de fragmentação

A vida me ensinou, da pior maneira possível, que certas limitações podem ser fatais...

tenho medo das minhas serem desse tipo...das fatais..

o problema é: fatal pra quem?

e até que ponto a fatalidade do outro não nos afeta de forma igualmente fatal?

Talvez essa incompletude seja o que me mantenha vivo..como diria um amigo meu sobre si mesmo...

seja o que me move à busca

e a busca, o que me move à vida....

"é a pergunta que nos motiva..."

mas e quando a pergunta incomoda?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Traduções

http://www.youtube.com/watch?v=s-GsLh6dazI&ob=av3n

Confessionário

Quando precisamos nos redimir de nós mesmos
e nos achamos merecedores do inferno que existe dentro de nós

Pouco

Quando dentro do nosso tudo, nos vemos severamente insuficientes.

Silenzio

"There hay no banda!"


apenas a vontade clandestina e criminosa

a vontade que imaginei estar morta

e que nunca mais voltaria...

Incerto

E quando as rédeas nos escapam as mãos? Quando a situação toma tais dimensões que nos vemos confrontados com a nossa própria limitação e impotência? Como lidar com o incerto diante da impossibilidade de intervir naquilo que se desdobra para além do nosso ser?

Acostumado com o controle, com as rédeas, com as guias firmes nas mãos. De repente surgem situações apavorantes e sobre as quais nada dos recursos desenvolvidos por anos de vida parecem surgir efeito, quando não pioram a situação, ou no bom e velho mediquês aprendido no cotidiano atual, o "prognóstico" da situação.

"Nada pode ser feito"

Nunca gostei dessa afirmação. Sua petulância desafiadora e desaforada me atinge os ouvidos como uma ofensa.

Ter que deixar a solução em mãos que não são minhas. Confiar que o melhor poderá acontecer mesmo assim e, ainda pior, aceitar o fato de que o pior pode acontecer e ainda assim todos os esforços terão sido vãos.

Essa incerteza, essa multipossibilidade desoladora que permeia os cantos mais escondidos da nossa existência.

Esse controle todo é uma grande ilusão, não?
Será mesmo?

A vontade de projetar a si mesmo no mundo e alterá-lo como extensão de si mesmo, sabendo, no fundo, que o mundo não pode ser alterado. O que se altera somos nós mesmos e é só sobre nós que podemos operar mudanças significativas. Ao mundo as próprias decisões do mundo. Aos outros, o inconformado "idem".

O que não nos concerne não está sobre nossa jurisdição. E essa ausência que soa negligente tira meu sono, meu sossego, minha concentração.

De repente as coisas podem se perder
De repente as coisas podem dar errado
De repente podemos perder.

Os adeptos da analogia da vida a um jogo me diriam ser normal essa perda. "É parte do jogo". Outros, de um realismo duro e tangente ao pessimismo se apoiariam no clássico "a vida não é fácil". E não é. Ninguém nunca disse que seria, essa é a pior parte. Não há do que reclamar. Há apenas a busca pela adaptação, pela aceitação, pelo assimilar dessa nossa impotência diante daquilo que não podemos controlar. Dessa redução de nós mesmos de fagulhas a meros e insignificantes ciscos.

Reduzidos à nossa insignificância.

E de repente me vem à mente a ideia que mais me convenceu sobre definições de amadurecimento - esse bem tão almejado e cada vez mais difícil de ser atingido - "amadurecer e aprender a lidar com as perdas" mesmo que a perda seja, nesse caso, a perda do controle.

Mas a perda do controle me soa como a perda absoluta do poder. E esse poder - essa potência - é o meu combustível, é o que me move, o que me motiva, o que me faz continuar, o que não me deixa desistir. Sem esse poder meu próprio senso de autonomia se vê abalado.

Porque por mais que sejam alheios os processos sobre os quais não temos controle, essa condição - de alheio - não nos isenta de suas consequências, de seus respingos sobre nós mesmos. E como, diante disso, não encarar a situação como problema também nosso?

Como engolir goela a baixo esse alimento que não foi feito por nós, mas nos é oferecido vez ou outra - quando não sempre - sem que isso lacere nossa garganta?

Como abrir mão desse (des)controle sobre o qual nos apoiamos para nos sentirmos aptos à sobrevivência, à mínima sobrevivência?

Como soltar as rédeas e garantir que o carro de bois não irá tombar?
"E se tombar?" dirão os mais audaciosos com seu sarcasmo irritante.

Como se a queda e as escoriações dela decorrentes não fossem algo apavorante.

Como nos levantarmos se o nosso temor - o descarrilhar - de fato ocorrer?

Sem essas rédeas na mão, como podemos ser plenos sem a garantia da própria capacidade de garantirmos a nossa integridade?

Como nos desdobramos da nossa própria vontade e nos tornamos apenas os interventores sobre nós mesmos?

Existe intervenção própria que se isole do contexto externo?

E quando o que é contexto externo nos afeta como se fosse dentro de nós mesmos?

O que fazer com tantas dúvidas, tantas interrogações que ficarão, de acordo com alguns, eternamente sem resposta?

O que fazer quando fomos treinados a vida inteira a não aceitar ausência de respostas como uma opção [e nos tornamos profissionais nessa negativa]?

E aí?
[pergunta ao vento, muito provavelmente...sem controle, sem retorno, sem certeza...fadado à angústia do incerto, lutando por manter o semblante sereno e a mente sã. Como?]

O que (como não) fazer?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Válvula da Panela?

Ultimamente ando me perguntando muito sobre os porquês desse desejo desenfreado de exposição de que as gerações atuais sofrem, principalmente nessa nova modalidade de contexto social, o famigerado "mundo virtual".

Chega a ser ilógica a ideia de se expor deliberadamente detalhes tão íntimos de si. Mas pensando em uma situação simples, me veio uma hipótese de explicação...

Estou tomado por uma impaciência incômoda e aparentemente idiopática. Pensei em divulgar esse fato. Primeiramente me veio o Facebook à mente, mas a resistência a essa possibilidade veio logo na sequência. Pensei em mandar um e-mail para um amigo que me tem sido confidente de tantas coisas, se não de tudo, nos últimos tempos. Mas não era essa a vontade. Não era a de desabafar para alguém algo íntimo. O desejo que me veio na ideia de compartilhar essa impaciência, ou intolerância, não consigo definir com precisão, era muito mais de explodir a impaciência, ejetá-la de mim. Como se a exposição da impressão a retirasse de mim, aliviando a sensação de pressão interna que ela causa.

Foi nesse ponto do raciocínio que me veio o insight. Porque hoje é muito comum ouvir-se falar nos excessos de informação a que somos submetidos, ainda mais os das gerações mais novas, que aparentemente tem maior facilidade para absorver tantos dados. Mas e se essa informação, mesmo quando parece ser absorvida, for de fato demais para quem as recebe? Será que esse impulso desenfreado de auto-exposição não pode estar relacionado com uma forma de aliviar a pressão interna causada pelo acúmulo de informações  absorvidas do mundo? Como um output de emergência para que não sucumbamos por excesso de inputs?

Nesse caso as exposições seriam como vômitos, para que não "comamos até explodir" essas informações tantas que insistem em nos ser ofertadas, como que numa versão abstrata da vítima da Gula no filme "Seven". Talvez essa exposição toda seja um modo não planejado de evitarmos um fim semelhante à do personagem do filme.

De tantas coisas sendo absorvidas, algumas tem que sair. Caso contrário, como poderíamos conter nosso próprio colapso pelo excesso de ingesta informacional e de estímulos?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Das demandas

Como pedir o que nunca tivemos? Aquilo que às vezes queremos com todas as nossas forças - e sem a qual elas se esvaem - aquilo que nos é mais imprescindível?

Como pedir? Como demandar? Algo que deveria ser natural, algo como a busca instintiva pelo alimento. Algo que, preso em nossas racionalizações construídas através dos anos, não consegue ser traduzida mais em palavras, perde-se escondida no fundo de nós mesmos.
Essa vontade, esse pedir.

Quando nos colocamos no papel de provedores, parece-nos tolhido o direito da demanda. E quando, na necessidade inegável de demandar, não sabemos como manifestá-la, ficamos perdidos.

Como prover e demandar?

Como demandar sem ser abusivo ou prover sem ter desconsiderada a própria humanidade [já que quem assume o papel de provedor, assume assim um posto não humano, torna-se objeto que fornece, que é aceito apenas enquanto cumpre suas finalidades, não podendo, pois, demandar] ?

E o que impede a demanda, o pedido, a verbalização da necessidade? Que medo é esse de ser privado da compreensão da demanda e de suas manifestações?

O simples medo da incompreensão. Ele, tal como outros de sua natureza, paralisam, nos comem as palavras, nos impedem de manifestar o que pulsa, o que quer sair.

Talvez esse medo seja fruto da origem de todos os outros: impressões
As fortes impressões que nos predizem a incompreensão por vir. Com ela, o abandono.

Apartado dos próprios recursos, dos necessários para se nutrir, para se apoiar, se manter de pé. Da presença, do diálogo, da compreensão.

Existe manifestação sem demanda?
Se não há a segunda, como pode haver a primeira? E sem ela, como podemos ser vistos? Como sermos vistos quando não somos senão nossas manifestações e essas são negligenciadas - por nós mesmos ou pelo outro?

Se não há espaço para a demanda, não há espaço para nossa existência.




domingo, 28 de agosto de 2011

Dos pedidos de desculpas

Porque não é incomum acontecer.

Essas situações em que parece que o quanto mais nos desculpamos, nos retratamos e buscamos enxergar nossa parcela de culpa e expor essa nossa percepção aos nossos "credores morais", cada vez mais nós temos valorizada nossa culpa na situação. E nossa humanidade, nosso direito - ou mera demanda - de compreensão desse nosso caráter, falho por natureza e nossa intenção de reparação, tem seu valor cada vez mais depreciado e deixado de lado.

Como se a intenção não fosse levada em conta.
Como se o esforço pela reparação e sua sinceridade não tivessem valor algum.

Só passa a ter valor o resultado final.
A Impressão.

resultado, resultado, resultado
"não importa se o pato é macho,eu quero é ovo"

Essa mania industrial de avaliar somente o fim, não seus meios geradores
Tornando toda desculpa vã
Toda intenção descreditada
E o erro, amplificado e indigno de consideração.

"A vida não é justa, não é mesmo?" Scar

sábado, 27 de agosto de 2011

Culpa e Redenção

E quando não nos sentimos dignos de redenção?
E quando a culpa é tal que não sentimos meios de repará-la?
E quando a vergonha é tamanha que não conseguimos fazer senão abaixar a cabeça?

Culpa....

Quando nos vemos agindo de formas que nós mesmos condenamos
Ferindo a quem mais amamos....

Ferindo, assim, a nós mesmos

sem conseguirmos nos perdoar
nem achando viável tal condição...

domingo, 21 de agosto de 2011

Da tristeza

Buscando da tristeza antes a ternura que a acidez...
Antes a comoção que o golpe
Desenhando, em palavras e linhas, lágrimas que não são vistas
Camufladas no negativo da vida

Na tristeza busco não o medo ou a estagnação - nem minha ou de ninguém
Mas preencher a falta que a tristeza traz
Reverter a seca herança da enxurrada

O interior seco do vertente à luz

e na tristeza extravasada busco a aproximação
não a dor
minha ou outra

na nitidez da dor, a comunhão
em sua procura, a emoção

em olhos alheios, comoção

Inerte

Existem momentos em que ficamos assim.
Presos à inércia do desgosto da falta pontual.
Não vou reclamar da vida, não quero reclamar de nada.

Eu sei das vantagens da minha vida, eu sei que existem vários piores que eu.
Nós sempre sabemos.
Mas por vezes precisamos de algo, algo pontual, algo insubstituível, algo momentaneamente inacessível.
E diante disso, somos assolados pelo tédio em meio às pilhas intermináveis de afazeres.
Tudo nos cheira mal, tudo parece chato, insuficiente, insatisfatório.
A fome que vem é vencida pela preguiça, temperada de um gotejante "de que adianta?"...

Podem dizer birra, mimo ou qualquer outra coisa!
Não me importo tanto a essa altura do campeonato.
Nós sabemos o que sentimos.
Legitimamo-nos nos nossos sentimentos, nas nossas sensações, impressões, nos impactos das coisas sobre nosso interior.
E a legitimidade do nosso sentir não pode com mil e uma estripulias paliativas do nosso pretensioso pensar, ávido por respostas, sedento de soluções e saídas.
Como eu já disse em outro post, não quero me trancar do lado de fora de mim mesmo!
Não busco uma saída, já tenho coisas fora demais.
Quero o afago daquilo que está dentro, que chama a entrar, que aquece, que acolhe.
Recolhe e afaga.
Quero dedos errantes por entre meus cabelos,
o perfume da presença que se faz e envolve.

Quero aquilo que me falta.
A qual substituição alguma me serve
Ou me satisfaz.

sábado, 20 de agosto de 2011

O imperativo do excesso

O que nos impele aos excessos?
Por que, conscientemente ou não, nós fugimos da moderação?

Me ocorreu isso pensando numa situação cotidianamente bem simples.
Prova marcada. Com antecedência suficiente para se fazer um estudo gradual e bem distribuído pelo tempo, de modo a não nos desgastarmos com excessos de estudo de véspera, sofrendo todo o estresse da sensação de fim da linha.

Mas não é incomum abandonarmos essa abordagem para vivermos o excesso do ócio, ou de sua tentativa, pelo menos, e, posteriormente, o excesso do estudo e do estresse de véspera.

Parece que, tal qual o excesso do ócio, buscamos o excesso do desgaste posterior.
E isso não é entrópico!
Aliás, é, a curtíssimo prazo. Mas a longo prazo, não! Porque o ócio, pelo menos em mim, sempre alimentou em muito a tendência à procrastinação. Aos que se abarrotam de coisas para fazer, a concordância com a afirmação: quanto mais coisas temos para fazer, mais coisas fazemos. O oposto também me parece bem verídico. Quanto mais tempo livre, menos fazemos - e existe um escrito desse blog que aborda esse segundo tema, por sinal.

Mas a moderação nos é rejeitada por parecer, a curto prazo, muito mais penosa e desagradável que a moderada ocupação que a longo prazo pode nos trazer muito mais prazer e tranquilidade...

E a longo prazo essa procrastinação inicialmente ingênua acaba nos custando um dispêndio energético e motivacional muito maior do que estamos normalmente dispostos a estar submetidos.

Não sei se concluirei essa ideia aqui

Talvez ela, como tantas outras, necessite de boas ruminações...
Volto ao ponto quando for conveniente...

Até lá!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O prenúncio da morte de uma ideia

http://www.youtube.com/watch?v=VbG0hu5V4AA

E quando nos vemos tão decepcionados com a nossa própria incapacidade a ponto de percebemos que decepcionamos uma boa ideia, uma boa proposta, seus antecessores e, o pior de tudo, a nós mesmos?

Quando assumimos algo no passado e, no duro presente, nos desarticulamos de tal forma com certos objetivos e potenciais condutas que chegamos ao ponto de nos vermos assassinos de um ideal cultivado por nossos antecessores e que matamos por inanição...por falta de ação, por estarmos desmotivados, por não conseguirmos motivar outros, parceiros ou possíveis sucessores e, pior que isso, a nós mesmos?

E quando a ideia é boa e aparentemente simples, mas, por motivos que por vezes escapam à nossa percepção momentânea, nos vemos não sendo capazes de levarmo-na a diante?

Quando assumimos algo por ter aquela inicial certeza de ser o momento certo, o mais propício, o mais frutífero e, dentro dessa oportunidade temporal, vemos que as bolas a mais que tentamos adicionar ao nosso malabarismo pavoenantemente auto-expositivo acabam por nos incapacitar de mantermos quaisquer uma delas - inclusive as com as quais começamos - no ar. E elas desabam. Passamos a menos que malabaristas amadores, iniciantes.

E o que fazemos com a culpa? E a vergonha?
E o não saber o que fazer para reparar o irreparável?
E o peso por termos decepcionados pessoas queridas, que nos confiaram sua sucessão e suas ideias, às quais não fomos capazes de dar continuidade?

Como discernir o que de fato é nossa culpa e onde o ambiente ou os que estão a nossa volta também têm sua parcela de participação? Como sociabilizar os danos que são passíveis de sociabilização?

E o que fazer com os danos não sociabilizáveis?

A resposta é mais do que óbvia, não? Aceitamos o impacto em nossa face.
Merecemo-no, afinal.

Afinal, em casos esses, mesmo que no fundo não seja, a sensação é única: a culpa, no fim das contas, é nossa.

Brincar de vida adulta não tem pique, não tem "tempo!", não tem pausa.

E às vezes não conseguimos fazer mais do que escrever para tentarmos expurgar de nós mesmos o sentimento de vergonha e culpa pela nossa própria e atestada incompetência.
=(

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

E não

Pra mim, produzir e criar são coisas bem diferentes

^^

É preciso produzir para ser feliz?

Por

 

                         que

                                                    esse



     texto                                                                tem          




que



                                                                                                                             ter



                            necessariamente



                                                                                                                                    um


fim?








                                                                                                   ou finalidade?






                               

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Adendo

Partindo da concepção de não haver "coisa em si", mas "percepção da coisa", toda reprodução também pode ser considerada criação, uma vez que a reprodução nada mais é que o produto da ação mediante a percepção de um indivíduo sobre o produto da percepção de outro indivíduo sobre alguma coisa.

Trocando em miúdos: alguém cria. Essa criação normalmente é fruto da percepção do artista sobre alguma coisa, ou coisas. Outro alguém tem contato com essa criação particular. Gera sobre ela, pois, concepções e percepções outras, próprias. A partir dessas, ele pode querer reproduzir a obra. Mas não se reproduz a orba, mas sim sua percepção da mesma, logo surge algo novo, fruto do indivíduo que reproduz.

Logo, reprodução também é criação.

Polêmico

Não, não falarei de mamilos.

Mas expressarei aqui uma opinião muito pessoal e que pode ofender outras pessoas e outros credos. Por isso, antes de me expressar, eu gostaria de explicitar a natureza do que será escrito. Estou relatando uma concepção pessoal, produto de experiências próprias e não necessariamente aplicadas a outras pessoas e, muito menos, a todos. Esse meu relato, essa minha opinião, é o relato de uma impressão que eu tive através das minhas vivências e percepções próprias ao longo da minha vida. Vivências e percepções são coisas muito pessoais e, ao meu ver, um tanto quanto intransferíveis. Portanto não quero, com o que vou dizer, diminuir ou menosprezar outros credos ou concepções de mundo. A cada qual aquela que mais se adequa à sua vida e se encaixa melhor em seu cotidiano, seu próprio mosaico de vivências e experimentações. Como cada experiência é fruto de elementos tão pessoais e, de certa forma, intransferíveis, isso valida todas as concepções e, ao mesmo tempo, impossibilita que quaisquer uma delas se proclame com o título de "Verdade" como algo universal e transferível.

Sobre religiosidade, ou melhor dizendo, sobre o contato com o absoluto, seja este absoluto tudo, ou simplesmente, "o grande nada", como ouso me apropriar de termos outros, que não meus; aquilo que realmente traz significado e sentimento de unificação com o todo existencial. Para mim, essa experiência não se dá através de quaisquer religiões, inclusive a essa nova, criada e arbitrariamente considerada soberana perante as demais, a chamada ciência, tão arbitrária e passível de ser relativizada quanto qualquer outro credo, desde que se parta do pressuposto da inexistência daquilo que se possa chamar "coisa em si" - proclamado objeto de estudo da ciência - e sim várias e individuais "percepções das coisas", que depende dos nossos sentidos, ou algo talvez ainda menos confiável, por trazer a ilusão da certeza, da nossa vangloriada "capacidade de raciocínio".

O que me aproxima do dito "uno universal" é aquilo a que se atribui à transcendente e impalpável premissa primeira de todas as outras, a criação. O ato de criar me tem um componente divino que nenhuma outra sensação ou experiência me traz. Algo de singularidade tão notável que não se pode resumir à simples sensação de prazer, mas algo que tange uma serenidade e comunhão com o todo que nos cerca, seja esse todo realmente externo ou mera projeção do nosso próprio interior.

Dentro dessa concepção, para mim, o verdadeiro religare é encontrado antes na arte do que em qualquer outro templo. E por arte eu concebo tudo aquilo que requer criação, ou outro tipo de princípio criativo [música, poesia, prosa, cozinha, idéias, invenções, ou tudo aquilo que traz ao indivíduo a sensação de um fluxo contínuo entre o trinômio pensamento-sensação-ação]. Desde a concepção do que hoje consideramos "obras de arte" até as coisas mais simples como o novo conceber de uma ideia, que não deixa de ser também criação.

Se existe algo que se possa chamar Deus, isso eu não sei. E não acho essa concepção de todo fundamental, ao passo que, se sua existência - ou inexistência - um dia se comprovar de alguma forma - se é que isso será algum dia de fato necessário - esse dia está longe e hoje estamos ainda mais distantes de concebermos tal complexidade.

Não tenho certeza alguma da existência de um Artista. Mas ressoa em mim a crença na existência da Arte - que se reflete em cada canto desse mundo, material ou não - e da criação por detrás dela. Não a entidade que cria o objeto, mas o ato da criação.

Sobre minha relação e motivação com esse Blog

"Mais de um, como eu sem dúvida, escreveu para não ter fisionomia. Não me pergunte que eu sou e não me diga para permanecer o mesmo: é uma moral de estado civil; ela rege nossos papéis. Que ela nos deixe livres quando se trata de escrever." (Foucault, Michel - A arqueologia do Saber)

Cozinha, composições e amor [sem versão para os cinemas]


Eu quero ainda, um dia, um fogão à lenha. Gosto de tudo que faz demorar a arte na cozinha

Eu tenho essa coisa comigo, que ninguém me ensinou, mas todo mundo fala hoje na tv...nessa nova onda do "slow food"
Mas não foi por isso que eu passei a apreciar o tempo das coisas na cozinha, foi pelo o que eu observei cozinhando até hoje.

comida precisa de tempo
sabor precisa de tempo
de preparo
arranjo
paciência

Essa coisa de cozinha é mesmo uma arte, uma bruxaria, tem um quê de alquimia. Mistura-se os ingredientes certos no momento certo, se não a coisa desanda. Dá-se tempo à comida para ela absorver os novos ingredientes e a "poção" engrossar. 


É preciso paciência para cozinhar e é preciso amor. Não necessariamente a alguém, mas ao ato de estar ali, a cozinhar. Esse é o maior segredo do bom cozinheiro.

E  o amor traz a paciência, quando a espera se transforma em vislumbre e o tédio, uma sucessão de saboreios. Vê-se o objeto de amor se desenvolver, mesmo que aos poucos, ganhando corpo, ganhando sabor. E os leves experimentares no meio do caminho, entre o acender do fogo e o servir à mesa.

Desenvolve-se - e é preciso que isto aconteça - uma noção de intimidade com o que se está fazendo. Com a comida, com o fogão, com as panelas e colheres de pau. Assim como qualquer outra forma de relação que envolva uma mínima pitada de amor, é preciso intimidade. O saborear requer intimidade, para transforar o tédio da espera em apreciação.

E talvez com tantas outras coisas também seja assim, como a cozinha e o cozinhar. A música e suas composições também estabelecem uma relação com o seu compositor que exige paciência, tempo, saborear, amor e intimidade. Com as pessoas, do mesmo modo. Os relacionamentos devem ser cultivados como grandes, complexos e saborosos refogados, cozidos ou assados. Talvez mais os refogados e cozidos, que exigem mais atenção, menos "deixar ao fogo", como também seria o caso dos grelhados. No caso da música, não há escolha, é preciso um constante debruçar, um cuidado assíduo, um constante ver, rever, reproduzir e revisar, acertar uma nota aqui, outro ingrediente ali. E desse modo, a música se aproxima mais do amor que a cozinha. Mas o amor se aproxima sempre da cozinha com música.

Amor, música e cozinha.
Tudo tem sabor. Molhos, temperos, notas, acordes, arranjos, carinhos, palavras, conversas, corpos, almas e comunhões.

Tudo é composição. E para todos é preciso arte.
E para a arte, intimidade, paciência e amor.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Fogo

Uma vez perguntei a um amigo se o fogo era sólido, líquido, ou gasoso
"Fogo não é substância, é reação", ele disse
eu fiquei perplexo com a resposta, devíamos ter entre 14 e 15 anos então.

Fruto de Explosão, ou pequena combustão, essa coisa amarelo-avermelhada, por vezes azulada em nosso cotidiano, é um forte símbolo de muita coisa.
Fogo lembra força, fogo é intensidade, calor. Fogo machuca, fogo purifica. Quem já quis apagar uma memória queimando registros da mesma, sabe do que eu estou falando.
Às vezes temos que conter nosso próprio fogo, para não queimar os outros. Ou ainda para não causar certo frenesi nesse outro, como o Vampiro do RPG, que não pode ter contato íntimo com quaisquer tipos de chama, que sai do próprio controle, se apavora.

Engraçada essa associação entre o vampiro e aquele que sucumbe frente à intensidade alheia. Às vezes crescemos em meio a pessoas que não podem nos ver o fogo, logo se sentem queimadas, ou temem o fato, mesmo quando o fogo não passa de uma brasinha sem vergonha. Mas de tanto ser suprimida, escondida do ar e do vento, a brasinha inflama, ganha corpo, vira chama. Cresce e com ela a vontade de consumir o que vier pela frente, purificar o (i)mundo com sua violência. Libertar-se de seu calor excessivo. Exibir sua luz.

Só enxerga a luz e a beleza da chama quem se habilita a se aproximar.

Chamas....símbolo do ódio, símbolo de pureza, de nascimento, de começo, de fim.
Chamas nos olhos excitados. De libido, de raiva, de expectativas, a serem frustradas ou não.
Chama de vida e de cores. Raivas, desejos e sabores.

essa chama cor de sangue que corre em nossas veias
pulsa para sair...
em fagulhas, de artifício ou explosão

Em tesão que não se apaga
Sede que não sara
essa insaciedade que a tudo quer consumir
tudo envolver
para, enfim, tudo purificar.

"e aí, parceiro, tem fogo?"

sexta-feira, 29 de julho de 2011

caixapreta

Assim, condensado mesmo. Essa coisa assustadora...esse "souvenir" desagradável e inevitável. Aquilo ao qual não temos acesso. E, ainda mais desesperador, aquilo ao qual não devemos ou não podemos ter acesso. Essa caixa preta de pandora....

De lá tudo pode sair. Sem saber seu conteúdo, potencialmente, tudo mesmo. E como saber? Como saber se de lá não sairão monstros, armadilhas, espinhos, tiros e facas? E se dentro desse abismo se formarem criaturas abissais sem controle que podem nos devorar ou nos destruir?

Como não saber?

O desconhecido é, de fato, assustador. Assusta porque escorre, foge do nosso alcance, da nossa visão, da nossa capacidade de apreensão. Esse sistema com mais variáveis do que equações. Essa iminente certeza de haver aquelas letrinhas às quais podem ser atribuídas quaisquer valores, favoráveis ou não. O certeiro medo de, no nosso inseparável pessimismo temoroso, todas as incógnitas um dia se revelarem inimigas, traiçoeiras.

É a doença que gera a doença. É a tentativa de cura cravada de ébanos iatrogênicos. É gerar o veneno através do antídoto.

De todos os venenos, o medo.

O escuro medo do abissal desconhecido.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Alexitimia

Tanta coisa para dizer
Tudo pára na garganta

as palavras não se formam
quando formam, não saem
temem a luz de fora
temem o ouvido alheio
temem se perder ao vento
e não retornar inteiras....

E o copo?

A pergunta que não quer calar: meio cheio ou meio vazio....?

somos incompletos ou apenas parcialmente ricos?

Eu sempre costumava responder à pergunta do copo pensando na condição anterior: se o copo estava vazio e foi cheio até a metade, estava metade cheio, se estivesse inteiramente cheio e fora esvaziado até a metade ,metade vazio.Simples assim...

Se for pensar desse ponto de vista, estamos metade cheios...


Será?

ô duvida féladaputa!!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Aprender o outro

Mais que compreensão, mais que aceitação, mais que cumplicidade. O relacionar-se, para dar certo, tem que passar pelo aprendizado sobre o outro.

Aprender o outro não é saber tudo sobre ele para poder manipulá-lo ao nosso bel prazer. Aprender o outro é algo irmão da compreensão. É conhecê-lo bem, é um saber lidar. É entender-lhe as limitações para reconhecer nos pequenos feitos, grandes sacrifícios. É saber chegar quando o outro não pode vir, mesmo querendo - e mesmo negando ambos.

Para aprender o outro é preciso olhá-lo por cima dos nossos julgamentos. É entender, em cada ação dele, sua origem e sua consequência para ele mesmo.

Aprender o outro é saber suas expectativas e suas frustrações. É, sabendo onde dói no outro, não ferí-lo, mas oferecer abrigo.

Aprender o outro é respeitá-lo, sendo sincero. E ser sincero, não frio. É recebê-lo sabendo o que diz por detrás das palavras. É entender suas causas, seus porquês. É reconhecer o outro e seus esforços.

Aprender o outro é enxergar beleza. Nos acertos E nos erros. Em sua superfície e em suas profundezas.

Aprender o outro é correr atrás, quando necessário. Mesmo que o outro não saiba ainda o quão necessária é essa corrida.

Aprender o outro é ser cúmplice. Não do crime, nem do sucesso, mas de sua história, de sua vida. É ser-lhe testemunha, sem ser-lhe promotor.

Aprender o outro é saber conversar, saber sua língua.

É vê-lo, compreendê-lo, aceitá-lo.

Aprender o outro é buscá-lo, quando mais o evitam.

É saber do seu riso, a luz.

E de suas lágrimas, a fonte.

Aprender o outro é, sobretudo, assumí-lo.

E assim, amá-lo.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Panacea Desvairada

Na tentativa de expurgar essa

essa..

essa...

essa alexitimia filha da puta que não me deixa!

mancho a paz branca do painel de palavras entorpecidas de angústia

"um mal estar, uma coisa ruim..."

uma vontade de nada
um desejo de explodir
de dormir
de apagar
desmaiar

de anestesiar tudo
não sentir mais nada

desejos tenebrosos esses que vêm...
e isso não passa...

não pára...
não pára...

não pára...

e o grito não sai....
corrói a minha garganta e volta

vontade de me desligar do mundo
sair de tudo
apagar tudo

...

vontade besta!

domingo, 26 de junho de 2011

e de novo ela...

Bem ou mal, cedo ou tarde, acho que a angústia sempre vem. Ou melhor, sempre volta.
Angústia....

Ouvia tanto essa palavra quando era criança...
Eu dizia: "Ai ai.."
Me perguntavam: "o que é que dói, chico?"
Eu retrucava: "nada..só 'ai ai' de 'ai ai' oras"
E me vinha o retorno: "hmmm...será? eu vejo aí muita angústia"

Coisas de terapeuta
Era isso que eu pensava....até porque na época eu não conseguia identificar de onde vinha essa angústia. Na verdade nem sequer o que era essa tal "angústia" de que falavam tanto...

Às vezes acho que eu preferiria não saber..
Hoje eu vejo que essa coisa sempre esteve presente, intermitentemente presente
E hoje eu sei...havia muita razão em questionar os meus 'ai ai's de então

E é contraditório, não? O comodismo da zona de conforto incomoda...o desconforto de estar fora dela também...fadado ao incômodo...fadado à angústia [?]

Talvez fadado a escrever, isso sim. A tentar expurgar isso que se debate, que se inquieta, que não tem nome, que não tem cor, que não tem cheiro, que não tem forma, que não é nada, que é só 'ai ai'.
Não é dor. Na verdade se for para comparar acho que isso mais se assemelha ao frio. Existe uma melancólica solidão comum ao frio e à angústia. Angústia em tempo frio, então....

sei lá...
deu gastura de escrever esse texto já...
talvez continue em outro

talvez não...

Explosão no vácuo

Sabe aquele sonho em que a gente grita a plenos pulmões

mas não sai som algum?

então....


alguém na escuta?

Zé mané

Na vida a gente vive procurando saídas...

Depois ficamos trancados do lado de fora e não sabemos por quê...

Ê, gente besta mesmo, hein!

O preso e o peso da pedreira

Preso
Preso na prosa
proseia, proseia e não diz nada

prolixo?
pro lixo.

se não diz nada, pra onde mais ir, então?

A prosa me prega..
pregos nas mãos
peças na mente
me prega os olhos pra luz do dia

me prega verdades na parede
e de que cor era, afinal, por detrás de todos esses relatórios [ilusórios]?

a prosa tem progressão [?]
mas que progresso atravancado esse...

e toda essa pedreira pesa e não perdoa.

toda essa brincadeira perde a graça

da pedra à grama da graciosa transformação do preso em grato
ingrato?

tudo p[r]eso...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

repetitivo reticente

Todo o não-dito entalado na garganta me parece repetitivo
tantos discursos, tantas convicções
tantos clichês...

tanto do que se fala
quanto já não foi dito?

quantas velhas inovações?

acho que meus pensamentos precisam de incubação
preciso do tempo para nascer o novo,
para que a criação tome a vez
não a repetição do óbvio transvestido de inovação

coloca-se pra fora sempre a mesma coisa
sempre a mesma coisa
falta um melhor ruminar..

enchemo-nos de ruídos para abafarmos o barulho que o silêncio traz
são tempos de se meditar o silêncio...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Nota

Às vezes é preciso escrever para livra-se de si mesmo
É preciso deixar-se no papel e tomar a rua, a noite, o vento, o mundo...
Livre...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Cis(ti)co

Nada...

não somos nada...

e não digo isso com dores, pessimismos, pensamentos derrotistas ou sentimentos negativos...

Nos amontoamos de coisas, nos recobrimos de títulos, inflamo-nos com tudo o que conseguimos alcançar para podermos nos sentir senhores das nossas próprias vidas.

E até que ponto nos damos conta de, afinal, não sermos nada?
Nos apegamos à imagem que tentamos sustentar a todo o tempo de nós mesmos. Essa imagem criada para, mais que impressionar o outro, alegrar a nós mesmos...Quantos são os que podem, de peito aberto, dizerem-se satisfeitos consigo mesmo, livres de tentativas de iludir a si mesmos?

Somos pequenos. E essa pequenês nos esbofeteia a cara todos os dias, a toda a hora. E esse esforço inútil de tentar negá-la. Sermos bons, competentes, humanos e além.

Balela....

O nosso esforço denuncia a nossa incompetência, nossa incapacidade, nosso estado de aprendiz. Falamos, falamos e não dizemos nada! Entre o copo meio cheio ou meio vazio não nos resta sequer dois dedos d'água para dizermo-nos cheios de qualquer coisa.

E ainda assim continuamos, acumulando títulos, posses, bens...materiais, intelectuais, afetivos, pessoais...
acumulamos e acumulamos para preencher o vazio que não nos deixa...forçamo-nos a não pensar nele para poder continuar o dia, continuar a luta, continuar, continuar, continuar...nesse auto-engano inesgotável para conseguirmos lidar com a nossa própria imagem diante do espelho..

Crianças que fomos, adultos falhos nos tornamos....crescendo com a imagem do adulto-capaz, nos vemos menos que a criança...à criança não cabe a pretensão do pensar-ser. A criança simplesmente é e ponto. Se é bonitinha, se é birrenta, ranhenta, amável, escandalosa, enfim...não existe nela ainda esse questionamento sobre o ter que ser para alguém, quem dirá para si mesmo...

O tempo vem e tentamos nos reafirmar incessantemente...nessa carência pelo que perdemos e nem sequer sabemos o nome..nessa tentativa desesperada de recuperar o que foi tirado, o que nos deixou esse buraco imenso aberto a mostrar as vísceras que tentamos a todo custo esconder

falhos....

Somos ciscos falhos tentando brincar de gente grande, tentando reafirmar a cada instante a ilusão da nossa própria divindade.

Não somos Deuses.
Somos ciscos.

Quando não o queremos ser, tornamo-nos cistos...apenas esperando o momento mais oportuno para eclodir.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Lodo

Escuro, sujo e fedorento

Esse licor denso que escorre de mim e mancha o chão. Toda a escuridão do pó que se faz em cinzas. Se espalha que esparrama e se expande e contrai...

contraído por dentro me ponho ao mundo
sem vontade e sem opção

nas palavras de letras negras procuro a saída do negro desse coração
da fuga de mim mesmo procuro o meu encontro

preciso me livrar desse cárcere
o Eu

esse eu que me aprisiona
que cria grades
paredes
muros
escuridão

esse eu de ilusões
esse eu de distorções
expectativas
que cria correntes
jaulas
prisões

do pó ao pó?
à liberdade do pó
clamo a libertação de mim mesmo

essas correntes
esse claustro

preciso me libertar de mim mesmo
preciso abrir meus olhos
para além dessa escuridão

para fora desse lodo

Imperfecto

Da incompleta incompetência nasce o filho dessa dor de ser imperfeito
incompleto

falho

a falta que a falha traz
que me faz sentir falta de mim mesmo

a angústia de ser em dor
os braços cruzados sobre  estômago a segurar a dor
a reter o rebento do escuro
esse amargo ser vazio
que brota e cresce dentro de mim
imperfeito

chega de falhas
chega de falhas

Eu não aguento mais!
Chega!

Essa vontade ininterrupta de sair de correr de pular de morrer de fluir de nadar de nada
de largar tudo

ir embora
sem vez
nem explicação

esse desejo pelos pedais e pelos pneus
a girar pela estrada
arrancando-me das pernas toda a vida que se esvai em dor e agonia ao andar, pelo dia, nas ruas, na vida.

Onde é que vamos parar afinal?
Pra quê tudo isso?

As perguntas só aumentam
o ódio cresce
a angústia vai ganhando corpo
e ganhando corpo
e ganhando corpo

toma conta de tudo
mancha minhas palavras
marca a folha
mancha a tinha de folhas escuras
de confusão

perde o sentido das coisas
tudo se perde
e perdido
nada

tudo
tudo se contorce
tudo se distorce
tudo cresce e se transforma
disforma
esse câncer que escorre pelas minhas estranhas
vaza pelos meus poros
de um negro fedorento
asqueiroso
nojento

tudo longe
tudo distorção
dessa mente doentia que busca curas
vias
soluções
e se perde em seus caminhos
em dúvidas
em medos
angústias
fugas
e dor

correr correr correr correr correr correr correr correr correr correr correr correr

pra onde?

pra longe...

pra fora dessa imperfeição toda
pra longe desse erro
pra fora dessa vida

não dá!
a quem eu quero enganar?

essa vida
todo dia
esse engano

essa mentira
esse personagem
esse quero-ser

isso tudo não existe!
é tudo coisa da sua cabeça


é tudo coisa da sua cabeça...


é tudo coisa da sua cabeça...


...

domingo, 8 de maio de 2011

Nosotros

é...acho que o Patch tinha razão

cuidar do outro alivia nossas próprias dores
nos afasta delas por um tempo
as diminui por outro
nos fortalece
para enfrentarmos a nossa própria
que não tarda em nos encontrar
se fugirmos dela

a cada um o seu peso
a cada alegria, seu choro
a cada melancolia, seu riso

no seu tempo
na sua marcha

da forma que for
particular de cada um

é tudo tão doído...

Essa vida que nos cobre de marcas
nos põe à prova a todo tempo
não para
não dá alma ao corpo que pede: "pára,
pelo amor de Deus.."

Não temos pausa
e carecemos força

não nascemos para encontrá-la sozinhos

definitivamente não

a força para o outro surge em nós
e no outro
para nós mesmos

nosotros

Onde você quer chegar?

"David, open your eyes..."

E o que você vê?

Qual o nosso norte?
será o nosso sul?

"Se oriente, rapaz, pela constelação do cruzeiro do sul...."

de fato, toda luta é vã se seus objetivos não estão claros

é preciso estabelecer nortes
e a partir deles, e somente assim, caminhos

assim, caso o caminho falhe, não nos desesperamos, pois temos o objetivo, o destino, bem estabelecido

O difícil é estabelecer esse lugar aonde se quer chegar...
Isso exige olhar para dentro
Examinar nossas entranhas
e perceber para onde elas apontam

não adianta inventarmos um destino

é preciso descobrir o que ressoa em nós mesmos
aquilo que, vindo de fora
reverbera por dentro

a motivação última
a finalidade

para isso é preciso garimpar
garimpar experiências em diversidade
concepções
perspectivas

é preciso provar
de tudo, o máximo que der
pelo menos um pouco

sorver do mundo para descobrirmos nosso próprio sabor
e nesse degustar, sabermos nosso valor
e nossos valores

e o valor de nossas raízes

onde plantaremos nossas árvores?
e para quê?

"A resposta não importa, é a pergunta que nos motiva"

ela nos tira do automático...

Até a vista!

"Existo, não nego...

...vivo quando puder"

Por anos da minha vida utilizei essa frase como norte
Anos de investimento
De semeadura

Que se convertem hoje em anos de colheita
lenta
e, por assim ser, saborosa

Ou talvez mais um observar o crescer da safra
para colheitas periódicas

Colheitas nos trazem motivação
podermos fazer aquilo que realmente nos traz significado e prazer

motivação
significado
prazer

acho que isso somado às idéias de potência e autonomia
fecham o ciclo de determinação de qualidade de vida.

E de certa forma talvez as relações nos atraiam mais ou menos na medida em que ela intensifica esses elementos.

Depois de passar o tempo que duram várias graduações investindo em cursinho
desestagnar a minha vida e viver os significados dela é algo que realmente dá ânimo ao levantar
que antes já foi forçoso e desgastante
deprimente, em vários momentos

o prazer dos sonhos se transporta para a vivacidade da vigília
E investirmos em nós mesmos é algo que nos constrói
nos traz solidez
nos confere segurança

E esse movimento é necessário
Esse desenvolvimento e condições para explorarmos nossas potencialidades
tais quais elas se apresentam no nosso arsenal pessoal de intenções, sonhos, vontades e anseios

Ele é necessário à nossa vivência
para que ela transponha uma vida de enfadonha existência simplesmente
Esse poder dar vazão às nossas potencialidades é o combustível que nos mantém vivos
despertos e atentos
é o que nos tira da manada

ou, pelo menos, é o que me tira da manada
da que só olha pra frente, para o rabo do animal à frente
e me coloca na dos que se espaçam uns dos outros
para melhor verem
o mundo
e uns aos outros
que o compõe

Esses tempos se mostram promissores
limpo a lama do corpo
e me preparo para correr

para onde?
não sei

para onde minhas pernas quiserem me levar
e para onde eu quiser que elas me levem

Vivo, enfim!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

ÓDIO

Enfim
é isso aí mesmo que se lê no título

ÓDIO!

muito ódio
muito cansaço
muito estresse

esse desgaste
essas olheiras
esse  olhar de saco cheio do mundo
da falta de tempo
da falta de disposição
do excesso de coisas
do excesso de escolhas feitas

do paradoxo de não se arrepender delas
e serem elas uma das principais fontes de tudo
de todo esse ódio

eu quero um tempo pra mim
um tempo mais organizado
pra eu ter tempo pra mim

e de volta à motivação
ou à falta dela
a origem de tudo
a condição básica para  a minha concentração
para o meu foco
para o meu comprometimento
aquele "tudo vale a pena"

que vem, vez ou outra
que eu vejo no outro
quando me vejo de branco

é preciso revisitar alguns lugares
externos e internos
resgatar valores
sensações
objetivos
motivações

sair dessa espiral de ódio que me consome
que me digere

e no fundo
sei lá...

não, não vou dizer
não aqui
não é lugar

que se.....

!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A pergunta que não quer calar

PRA QUÊ??

tudo isso pra quê?

o questionamento
o se debater
o lutar

o ir contra a maré?

ir a favor da maré é inaceitável - por mim, pelo menos e, assim espero, para vários outros

mas como lutar contra algo sobre o qual não se conhece bem sua estrutura e suas motivações

como combater, ou melhor, transformar, esse monstro ao qual todos se submetem??

será nosso trabalho vão?
será que lutar por lutar vale a pena?

e se não valer?
e se isso tudo não mudar nada?

como fazer a diferença?

ou melhor, isso é de fato possível???
ou tudo não passa de uma grande ingenuidade de Quixote?
que pensa que luta contra um monstro
e não consegue se desprender da própria fantasia de luta.


Motivações
motivações
questionamentos de finalidades
causas e consequências

onde tudo isso vai nos levar?
onde é que termina esse buraco para onde esse coelho maluco nos leva?

Vale mesmo a pena entrar nele?

ou será o caminho outro?

e como percebê-lo?

como lidar com essa nossa miopia de percepção de mundo?
esse romantismo exacerbado na rebeldia adolescente de tentar destruir e transformar o sistema?

se adequar a ele é inaceitável
combatê-lo por vezes parece inútil

serão esses os únicos caminhos?
haverão outros?

se sim, quais?

quais?

pra quê?

domingo, 10 de abril de 2011

Marginal de si mesmo

Fazemos escolhas....optamos por condutas, ideologias..formas de pensar e agir...

Mas e aí? Quando optamos por pensar por nós mesmos e não nos deixarmos infectar pelo senso comum? Até que ponto vai esse nosso destoar do tecido social doente que caracteriza a humanidade nos nossos tempos [se é que ela já não está doente há muito mais tempo do que damos crédito, ou se é que não nasceu já doente]?

Ouvi uma frase há pouco tempo, não lembro das palavras exatas, mas a idéia ainda me é muito forte: Numa sociedade doente, concordar com ela e agir como tal - por extensão, nos incluirmos nela - não nos torna automaticmente também doentes?

O problema é que a solução então é polêmica: a marginalização espontânea....excluir a si mesmo desse conjunto social que se mostra conflituoso e doentio. E não digo se excluir das pessoas, mas dos costumes, essas manias, dos padrões de comportamento vigentes quando esses nos apresentam gritantemente errados, incoerentes e absurdos.

Quando o mundo se mostra absurdo, ser sadio, 'normal' - considerando normalidade no sentido de ser saudável, e não o que é predominante - é destoar desse todo caótico, excluir-se dele. Esse movimento pode fazer o indivíduo se deparar com uma solidão sem precedentes. Ele corre o risco de adentrar num caminho onde não há semelhantes. Nos é difícil pesar o que nos é mais caro: a auto-coerência ou a satisfação da nossa carência social de inclusão. E quando incluir-se no todo é privar-se de si mesmo? Não seria essa condição tão solitária quanto a outra, ou talvez pior?

Uma vez ouvi de uma grande amiga uma frase muito sábia que, todavia, não era dela: "prefiro ser chato a ser hipócrita". Essa hipocrisia não só incomoda a terceiros que a percebem, mas gera um desconforto interno muito intenso em quem a pratica. Nos enganamos.

E quando é que não o fazemos? Não será também que sempre nos deparamos com um certo mascarar, um certo disfarçar, um auto-enganar de alguma forma para nos mantermos aceitáveis pelo todo ou por nós mesmos?

Assumir um modo de vida autêntico pode se mostrar muito perigoso. Por destoar do todo, ele pressupõe uma exclusão, um se pôr marginal. Mas e para aqueles que assim como eu e, com uma dose de sorte, você, leitor, cujo incômodo diante desse concordar com a patologia social vigente aparenta ser muito maior do que qualquer possível sentimento de solidão ou exclusão decorrente de uma vida coerente com preceitos autênticos?

Talvez para nós não seja mais uma questão de escolha. Talvez essa já nos tenha sido tomada. Resta agora adaptarmo-nos a ela, pensar meios de torná-la aplicável efetivamente em nossas vidas.

Autofidelidade. Acho que essa é a idéia.

Nos apegarmos à fidelidade a nós mesmos. Confiar no nosso discernimento como norte de ação. Questionar o que é vigente. Sempre. Ir contra quando necessário. Negar costumes, condutas, maneiras de pensar e, por que não, sentir; quando essas são muito distoantes das que nos parecem aceitáveis ou coerentes.

Levar o senso crítico realmente a sério. E sermos realmente fiéis a ele.

Quando alguém passa a ser muito fiel ao próprio senso crítico, muitas vezes é chamado de chato ou exagerado pelos próprios assim ditos semelhantes que também pensam, ou se dizem pensar. Todos reclamam, se dizem ir contra a maré, mas quando alguém se propõe a realmente abraçar a causa e vestir a camisa, chamam-no louco por assumir a marginalização decorrente do seu movimento de coerência.

Então eu pergunto: quem é o verdadeiro louco? Onde está o real caos?

Não sei como terminar esse texto...talvez por ainda haver muito a ser escrito...no papel...nas nossas vidas....

Nessa nossa trajetória rumo à própria lucidez.

O risco de vida causado pelos nossos costumes está atingindo níveis insustentáveis...
Nossa existência se torna gradativamente mais e mais insustentável.

Está em todo o lugar...em cada canto por aí comentam...o movimento se inicia...questiona-se o consumo, questiona-se o predatismo desenfreado, questiona-se valores, convicções, dogmas.

Morreremos na praia? Ou viveremos para ver uma nova aurora, de uma outra cor?

É a era do verde, não? Quem sabe além do meio ambiente, não seja também a era da cura, da esperança?

Quem sabe...

sábado, 9 de abril de 2011

"David, open your eyes..."

Cegueira..a nossa cegueira, a cegueira dos outros, a cegueira do mundo, essa doença.....

Não culpamos um gripado por espirrar, certo? A culpa não é dele....ele contraiu uma gripe, não optou por ela - pelo menos, pensando em termos gerais, não - foi agente passivo, infectado, vítima...

A cegueira é a mesma coisa.....e eu digo isso por já ter reagido violentamente com a cegueira alheia - inclusive com posts nesse blog - e ter, recentemente, esbarrado com a minha, que me disse 'oi', sorriu, acenou, virou as costas, e saiu correndo...fugindo, como que para e não conseguir alcançá-la e eliminá-la de vez....

Mas lendo algumas coisas agora, me ocorreu o óbvio....sobre como tratar a cegueira...em nós mesmos e, principalmente, nos outros...ignorância, preconceito, frieza...e todo o tipo de falta de sensibilidade e percepção que resumimos no conceito abstrato de cegueira...

Muitas vezes vemos algo que nos é muito claro, muito óbvio....e ao ver que o outro não enxerga essa obviedade, julgamo-no da pior maneira possível...nos vem a vontade de esfregar em sua face a própria ignorância, a própria negligência em relação aquilo que ele deveria ver, deveria perceber e, por não fazê-lo, cria-se a impressão de que o negligenciado não tem valor para o que negligencia....e às vezes é tudo uma questão de usar o óculos certo, ou olhar pela perspectiva adequada...assim como o gripado, o míope não tem culpa de sua miopia...e assim sendo - míope - tem dificuldade de enxergar certos detalhes, certas nuances, as quais, sem a lente correta, jamais verá, jamais perceberá...

Cabe, no fundo, a nós, que vemos, percebemos e sentimos, tentar compartilhar esse nosso aprendizado com quem não o desenvolveu para que o possa desenvolver...a cegueira é excludente e é a exclusão e a cegueira que devemos combater, não os cegos! Se não estaremos sendo tão excludentes como eles...tão excludentes como eu mesmo fui julgando a cegueira de meus semelhantes diante de situações anteriormente citadas - vide posts mais antigos. E a exclusão alheia não justifica a nossa...não resolve o problema...exclusão gera mais exclusão...e para combatê-la exige nosso esforço para gerar inclusão, trazer para perto o que não vê direito, para ver conosco as coisas com outro ponto de vista...e entender o ponto de vista daquele que julgamos cegos, para curarmos também a nossa própria cegueira....nós, que nos julgamos de visão tão límpida e cristalina....

somo todos humanos...compartilhamos da mesma falibilidade potencial...marginalizar o que erra não o impede de errar, pelo contrário....auxilia na manutenção dos erros..

se queremos melhorar o todo....nos é necessário solidariedade..precisamos ser solidários também com os que não são...para podermos expandir a visão...expandir a solidariedade...

Até por que...nós que não nos queremos cegos e não o queremos assim também o mundo....devemos sempre nos lembrar...

visão é inclusão.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Às vezes precisamos nos recolher...nos encolher...nos acolher...

às vezes todo o cuidado de que precisamos vem desse auto-respeitar nossa própria demanda por quietude...

às vezes é preciso estado constante....plano....calmo....quieto....deixar aquietar....deixar sentir-se quieto....

é um se abraçar e sentir-se inteiro em si...de braços abertos...

esse coerente paradoxar livre...por aí...

à deriva

O cansaço...o desgaste...os erros....a culpa....o cansaço....as reflexões....a vontade de parar essa máquina frenética, esse autômato, o agito, o barulho, tudo....

o silêncio.....

o silêncio da alma...

nem piloto automático, nem manual....

só planando....solto....olhos fechados, mente quieta....a brisa leve no rosto...a imensidão...

o movimento de se estar parado....a pausa....o tempo, o vento e o lento digerir, sem pressa, sem fúria, sem culpa, sem pretensões.....esse despretencioso estar...esse leve ser....

a leveza e o peso....essa valsa de dois opostos, extremos entre tantas nuances...essas nossas nuances que compõe o espectro de nossas vidas...as nuances de prazer, as pinceladas de dor, e tudo o que está no meio...energias, vontades, medos, potencialidades, pulsões, vida, morte, tudo, nada, alguma coisa e coisa alguma....

Se afastar de si, se desprender do mundo..."sem deuses, sem mestres(...), nem errado, nem certo, nem bem, nem mau, nem rico, nem pobre, vencedor ou perdedor, humilde ou soberbo...apenas trilhando algo que é só seu, dentro e fora de moldes, criando outros clichês..."

leve...

é preciso a leveza de ser criança para voar na terra do nunca...

nossos comprometimentos, nossas responsabilidades, nosso potencial de perturbação nos meios, nas pessoas, nas coisas...todo o peso envolvido nisso que nos molda, nos dá corpo, nos delimita, nos alimenta...

mas por vezes precisamos voar...cair, com ou sem estilo...se soltar, deixar-se ser...abrir-se e deixar-se ir....um flutuar mais que um mergulhar..."um querer mais que bem querer" só pela combinação de forma, sem pretenções de sentido

solto

leve

livre

sábado, 26 de março de 2011

Tribal

Soltar-se e sentir-se inteiro

Se deixar levar
solto no mar

na brisa, o leve flutuar das almas

viver no corpo a intensidade da sensação

o som da cor da pele úmida
o frenético pulsar da vida em nossas veias
um 'tum' que chama outro

o meu chama o seu
o dele, chama o dela

e os corpos se somam
e as almas se unem

os pares
vários seres unos em suas dualidades

"o contra
 o encontro
 a contração"

Esse crescente envolver que une os corpos
comunga as almas
nos torna imersos nesse fluido universal de fluidos humanos
suores
sabores
olhares

A sintonia da união
A soltura da explosão

em voltas sincrônicas
descompassos ritmados
na harmônica dissonância dos nossos movimentos

nossa natureza
nosso ser selvagem

nossa humanidade

segunda-feira, 21 de março de 2011

Convulsão - ou resposta [reação] ao [meu] silêncio do mundo

!
E quando o hidrante não fecha? E quando a enxurrada não cessa? Quando todo o ÓDIO, toda a revolta, por mais que botemos pra fora, não se esvai, não diminui, não alivia?

Perdido na solidão do mundo. Na tristeza de ver a própria cegueira e sentir esse mundo.

Esse mundo sozinho
Esse mundo que chora
Esse mundo de braços pro alto pedindo clemência
Essa criança que pede colo, sem forças, sem pranto

O rosto idoso de lágrimas secas sobre os olhos da criança que não morreu, míngua.

"(...) senti meus olhos vermelhos, queimando...de ódio, de revolta...inconformado...nem as lágrimas conseguiram sair....o que nos olhos queimava eu mordia nos dentes...uma vontade incontrolável de gritar...."


Os olhos ainda queimam, as lágrimas ainda presas e os dentes, mordidos. O grito silenciado como no sonho que não chega ao fim, que desperta no silêncio do dia.


Silêncio


Silêncio


Silencio


"There hay no banda!"


apenas esse silêncio omisso da angústia que não sara, que não vara, que não se separa...


toda a aglutinação desse aperto que prende, sufoca...


E fica...


"Silenzio"


...




de ser do mundo

Angústia.

Esse gosto dolorido e pesado no peito...

Que fica...finge que some, volta, ressoa...não abandona

Um mal estar, de uma sonolência amarga de ÓDIO...

O vômito contido na garganta

Essa vontade de não sei

Vontade de...



RAIVA, muita raiva!

Uma revolta sem nome, sem forma, sem cheiro e sem cor

A explosão do silêncio...

estoura e silencia
e some
e nada...

a sensação do vazio cheio de dor...de peso, de tudo!

Esse estado putrefato da nossa condição...esse jogo de vaidade vazia e desgovernada, sem sentido, sem fundamento...

Tentando, a todo tempo, preencher esse abismo cavado.

Ridículo...

Vergonhoso

Nessas horas eu tenho nojo

esse sentir repulsivo o mundo que se esconde por trás de todo o pó...

Escondem a riqueza da dor...

o que nos faz tão nós

tão nossos

e nos dissociamos de nós mesmos

fugimos

e perdemos nossa mágica

Cegueira

O que é que há de errado com o mundo??

Não, sério, alguém poderia me explicar, por favor, QUE PORRA É ESSA???!!!

Eu não sei se é coerente dizer 'o que está acontecendo com o mundo', por que eu nem sei afirmar completamente se essa falta generalizada de sensibilidade, de olhar, é recente ou se sempre existiu!

As pessoas param, ou pararam, eu não sei, de olhar. Não olham mais nada. As vezes olham, mas não vêem. Cegos, completamente cegos! Não olham em volta, não olham o outro e, principalmente, não olham nem para si mesmos. Não se dão ao luxo de mergulhar no seu abismo interior. Ignoram a própria complexibilidade e, por extensão, a complexibilidade do mundo, dos outros, do ser humano, de ser humano.

Hoje fizemos nossa primeira visita oficial ao HU. Foi a apresentação do hospital a nós, estudantes. Eu já conhecia o lugar, tive outras experiências que acabaram me levando lá dentro. Grupos menores, olhares diferentes. Todas as vezes que havia entrado lá, eu estava, direta ou indiretamente, orientado a olhar as pessoas dentro do hospital muito mais do que o espaço físico em si. Afinal, para que serve um hospital se não para servir às pessoas?

E dessa vez? Na oficialidade, fomos apresentados ao HU, ao HOSPITAL. E os pacientes? E as pessoas? Eram meros vasos. Peças decorativas de um circo de horrores que nos servirá de base de APRENDIZADO E CONDUTA como estudantes, como médicos, como seres humanos.

Parabéns, instituição! Mais um passo rumo à consolidação da nossa reificação. Nossa e do mundo à nossa volta!

Paramos de olhar as pessoas. PESSOAS. Não são cães, não são peças de decoração, são pessoas. Com histórias, angústias, medos, frustrações, alegrias, esperanças, expectativas. Potenciais imensos de interação. TODOS ignorados. Todos...

Doentes. Tratados como doentes. Servindo de molde para o nosso próprio adoecimento, nossa própria cegueira, nossa própria ignorância, nossa morte como seres humanos.

Ninguém vê. Ninguém percebe. Ninguém questiona.

Nos reduzimos a esse mero gado cego.

CEGO!

Nos negamos à nossa sensibilidade. Nossa humanidade.

Matamo-nos aos poucos...

Esse suicídio coletivo.

Esse sepulcro do mundo.

Muito ÓDIO!

Essa revolta...essa impotência

NINGUÉM!

Mas dessa vez, sem a sensação libertadora.

Apenas o vazio de não ser o que nascemos: HUMANOS

...