terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Algesia da Vida [ou Prelúdio da Maturidade]

Todo mundo que sofre busca uma razão para o seu sofrimento...os modos de busca são os mais variados...mas a resposta normalmente tem sempre o mesmo viés: Eu sofro para que algo bom me aconteça no futuro.

Mas e quando a gente só se fode? Bom, podemos usar aquele ditadinho piegas de colegial de que "Toda história tem um final feliz, se a sua ainda não foi feliz, é porque ainda não chegou ao fim"[alguém traz um saco de vômito, por favor...¬¬]; ou aceitamos o fato que as coisas acontecem simplesmente porque acontecem. O sofrimento não existe por uma razão, por uma motivação. Ele existe porque algo o provocou. Mas toda interpretação que for muito além disso corre sérios riscos de se perder em ilusões.

Nós temos é medo de, dentro do nosso ideal de predestinação, concluir que a gente só se fode porque estamos fadados a sermos sempre assim. É o romantismo dese pensamento que nos torna fadados à decepção, á frustração, pois são esses os principais frutos da ingenuidade. Temos medo de chegarmos á essa conclusão e não enchergarmos mais razão para nos mantermos vivos e acabarmos cometendo suicídio.

Vamos parar com os contos-de-fadas, por favor. Viver dói, crescer dói. Isso não significa que não experimentaremos alegrias, que não provaremos do prazer. Mas a dor existe, ela é real e profunda. Mascarar meios para fugir dela não a torna mais tênue, mais branda; apenas nos torna mais alienados.

"O sofrimento não significa nada, ele simplesmente é"- Friederich Nietzsche

É...

É engraçado como as coisas são..passaram-se os séculos e hoje, praticamente, nós - a humanidade - conquistamos tudo. Hoje vivemos nesse ciclo vicioso de acúmulos. Mas em termos de necessidades, luxo e conforto, técnica e ciência, nós conquistamos praticamente tudo...Hoje o que se procura mais nesse aspecto é a divinização do homem, tentando desafiar a morte, desafiar a natureza. Mas em termos de conquistas materiais, já se conquistou tudo...E ainda assim somos infelizes...Não falo de desigualdade social, não digo infelizes aqueles que passam fome, não preciso fazer isso...eu tô falando dos abastados mesmo, dos que têm acesso a tais conquistas..além dos que pratiacmente não tem nada, existe uma parcela razoável da humanidade que conquistou tudo..e mesmo ela não é feliz...

Fadados à tragédia...

Pensando nas Moiras - mitologia grega...[ou a tradução da minha "fé"]

"Se quem tece o destino não enxerga o que tá fazendo direito, significa que o destino, talvez, não signifique nada"

Um fato em citação [ou algo extremamente questionável...]

"Literatura clássica, (...)aquela que você passa e ela fica, as críticas que você faz viram poeira e ela continua de pé(...)Nunca fale mal de um clássico, nunca fale mal de Shakespeare em lugar nenhum, porque vai sempre queimar seu filme, nunca vai queimar o filme do Shakespeare. Se você não gosta do Shakespeare, o problema é você, não o Shakespeare. Se alguém tem essa dúvida, procure ajuda profissional. Por que não há nenhuma possibilidade em que o Shakespeare esteja errado e você esteja certo."

Quem não ler a idéia de "Shakespeare" metonimicamente, só lamento...

Redenção

Não disperdice seu tempo...utilize-o, use-o bem! Não vagabundeie, não tenha preguiça! Seja mais esforçado! Busque seus objetivos com mais afinco! Não fique aí sentado inutilmente no sofá!

Bem...vários imperativos, não? Mas e o descanso? Será o descanso uma total perda de tempo? E nem tanto total, mas uma perda de tempo em qualquer nível?

Sabe, um dos meus primeiros posts falava muito sobre essa questão de nunca termos tempo para nada e, quando temos, o disperdiçarmos com uma pilha de inutilidades..Eu mesmo, ainda mais quando escrevi o texto, me culpava demais por esse 'desperdício'. Me martirizava, chicoteava minhas costas, ajoelhava no milho! "Como pode, você, que quer fazer tantas coisas, se deixar levar pela preguiça, por essa tendência à inutilidade?" Enfim...é incrível como nós jogamos contra nós mesmos, mesmo quando menos percebemos, não é?

Essa preguiça, na verdade, se chama cansaço....e a 'inutil perda de tempo', descanso...

Hoje eu não venho com prolixidades mil sobre temas forçosamente complexos nem nada do gênero...O único pensamento que eu quero deixar nesse texto é esse: nós precisamos repensar o valor do descanso, da lentidão, do tempo, do saborear..todo esse produzirproduzirproduzirproduzir a que estamos indefinidamente presos, e que defendemos com unhas e dentes, é mesmo necessário, é mesmo lógico? E nós? E o nosso valor? E o valor do repouso? Do sono? Será mesmo que aquelas horas que dedicamos ao mais íntimo do nosso ser, em que mergulhamos num mundo inteiramente nosso e escancaradamente sincero, são horas perdidas? Tempo desperdiçado?

Sem conclusões...até porque minha opinião - eu imagino - já ficou clara nos meus questionamentos...

Uma idéia simples, um texto simples.

E por que tudo tem que ser grandioso e complexo, não é mesmo?

Até a vista

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

sem título

Corro o risco de ser repetitivo na temática - para os que tiverem a sensibilidade e o 'olho treinado' para perceber os padrões nos textos - mas, sinceramente, esse clima de férias me deixa com um certo aval de responsabilidade temática e formal - na verdade uma forma forçosamente erudita de dizer que eu tô cagando e andando pra o que forem pensar, eu tô de férias!

De ontem pra hoje uma idéia foi criando corpo..ela já existia, era grande e crescente. Mas ainda tinha aquele caráter amorfo das idéias em que o emocional e o racional acabam por acasalar e criar, assim, um rebento aparentemente indecifrável e assustador.

Pois bem, o pensamento, pra variar, é simples, talvez óbvio e clichê, como é típico dos nossos pensamentos [e que nós insistimos em achá-los originais na busca por sua legitimação - e na consequente busca pela nossa própria legitimação como indivíduos]. O que tanto nos atrai no que nos é destrutivo? Por que é tão dificil se desapegar das coisas - principalmente essas de efeito entorpecente - e deixá-las ir [essa expressão em português parece meio estranha, mas é o equivalente à idéia de 'let go' do inglês....não consegui econtrar uma tradução não literal que fosse fiel á idéia contida na expressão, então vai a tradução direta mesmo. Como eu disse, eu tô de férias, não me irrita..]?

Eu não estou falando de alcoolismo, vício em drogas ilícitas ou sadomasoquismo. Eu me refiro principalmente ao apego - que temos a mania irritante de sustentar - sobre as relações que, no fim das contas, acabam nos fazendo mais mal do que bem [apesar da própria idéia desse balanço de vantagens e prejuízos ser bem subjetiva em cada caso e em cada indivíduo...se você, leitor, teve o mesmo questionamento, acabou de ganhar milhares de pontos comigo, você está entendendo].

Mas enfim, o que afinal nos prende a essas situações/relações? Eu digo isso por que elas têm a mania irritante de se repetir, de 'nos perseguir'. Eu coloco aspas na expressão porque eu espero que seja razoavelmente evidente o caráter absurdo da idéia de serem esses modelos/padrões de relação os perseguidores e nós, os perseguidos. Somos nós quem buscamos esses modelos, não o contrário. Está em nós [nesse ponto, se você, leitor, não frequenta o blog, eu recomendo ler o texto "O verdadeiro Dragão", postado há algum tempo aqui mesmo. Nele eu exploro mais esse conceito de sermos responsáveis pelas coisas que nos cercam] o impulso, consciente ou não, de manter o vício. O evento por si é desprovido de intencionalidade. Essa é uma característica do indivíduo, que pensa e realiza ações.

E é esse ponto que me intriga. Ao criar essa noção ilusória de perseguição, de passividade, como se as situações e modelos de relação tivessem vida própria e nos escolhessem - nós, azarados por termos sido por ela escolhidos com tanta frequência - nós acabamos por nos acomodar na condição de vítimas. Nessa posição, não conseguimos fazer nada, ficamos paralizados, nos tornamos reféns, pobres coitados. Ficamos a mercê de uma condição danosa, sem conseguir encontrar meios de nos emanciparmos dela. Encontrar tais meios carece de uma mudança profunda na nossa postura diante das situações e das relações. É preciso sairmos da condição de vítima, abandoramos esse estandarte de auto-piedade que utilizamos como escudo para esconder nossa preguiça, pois deixar de ser vítima implica em tomarmos uma postura mais ativa diante da vida, 'tomarmos as rédias da situação', conforme o dito popular. E pilotar é bom, mas dá trabalho, gasta energia e requer disposição. Disposição essa que muitas vezes nos falta quando imergimos nas profundezas dos nossos vícios de relação. Nos encontramos tão presos neles - e nos alimentando daquilo que nos dá uma certa noção, mesmo que ilusória, de prazer, como é típico de qualquer vício - que temos a impressão de não nos restar forças para lutar contra aquilo que parece ser uma siuação em que uma parte de nós luta contra: o restante de nós mesmos [o que sustenta e busca o vício], a pessoa envolvida na relação [a representação aparente do vício] e o modelo de relação em si [a manifestação real do vício]. A noção de desvantagem frente a esse confronto abala fortemente nossas expectativas de melhora, nossa disposição. É preciso ponderar esse elementos de confronto. Enquanto a parte que luta contra se vê pequena e em desvantagem de número, estabelece-se a condição de vítima, 'pobre de mim, tão pequeno'. Perceber a condição de potência intríseca a ela, que tenta se rebelar contra as amarras, é o ponto de partida para a mudança de postura. É aquela sensação de revolta que motiva a luta pela liberdade, pela emancipação. O desejo de autonomia é muito poderoso no indivíduo quando se manifesta.

O.K. passado o parágrafo auto-ajuda, a dúvida ainda paira...por quê? Por que é tão difícil e por que vemos tanto a situação danosa como algo vantajoso? O que é esse ganho, essa ilusão na qual migalhas ganham proporções tão grandes a ponto de parecer compensar as injúrias e as agressões a qual nos submetemos para mantê-las[as migahas]? Por que sustentamos tanto essa destruição do nosso amor próprio? Por que o auto-boicote? Por que tanto apego a algo que nos impede de voar? É o medo de voar sozinho? Talvez...talvez seja a sensação daquele sonho em que estamos voando alto acima de um grande descampado e, ao percebermos nossa situação, caímos. Pode ser o medo de alçar o caminho independente e não encontrar um igual, não encontrar companhia, alguém pra copartilhar as experiências. Talvez uma das coisas que nos prenda seja essencialmente essa carêmncia, essa necessidade de compartilamento, de se compartilhar, de ter uma testemunha fiel, de ser compreendido, acolhido. Vendemos nossa alma pelo medo da solidão.

Falta discernimento. Falta tempo. Falta viver. É precio mergulhar. Alçar vôo sobre o descampado e subir alto, sem medo de perdermos nossos poderes entre as nuvens e sermos arremessados de volta ao chão.

É preciso audácia.

É preciso coragem.