domingo, 20 de fevereiro de 2011

Escalrecimentos e retificações

Quanto ao último post, caro leitor, não me interprete mal. Não estou afirmando que a cultura erudita é inúitil ou dispensável. Eu concordo com a importância de se estudar, ler, conhecer e saber sobre pensadores famosos, escritores clássicos e suas idéias. A minha crítica é a supervalorizaçao desse saber em detrimento da capacidade própria do indivíduo de raciocinar 'com as próprias pernas' ao invés de justificar toda sua argumentação nas muletas do pensamento alheio, seja ele erudito e renomado ou não.

É contra o piloto automático que eu luto, não contra as ferramentas do conhecimento. Afinal elas servem, ao meu ver, como promotoras de autonomia e de potencialidades de ação, não como mais uma amarra em meio a outras tantas com as quais nos deparamos no nosso cotidiano.

É isso.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Pensemos...

As férias mal chegaram ao fim e a minha cabeça já está voltando a funcionar...
Faltando dois dias para o início da labuta eu tive uma tarde interessante que me remeteu a um assunto muito do pertinente nesse blog....

Qual o assunto? Não vou nomeá-lo...sem tópicos frasais nesse texto...isso é um Blog livre, não uma redação da FUVEST...

Enfim...

É muito comum as pessoas confundirem instrução com reflexão. A idéia, pra variar, é bem simples...existem pessoas que acumulam conhecimento, informações, sem ter muita capacidade de processá-las e, assim, criar algo novo...tornam-se meros ventríloquos de grandes nomes da literatura, filosofia, historiografia e similares. E é triste porque normalmente esse tipo de atitude vem com adicionais muito agradáveis como a auto-valorização exacerbada ou a arrogância sobre aqueles que não detém o mesmo arsenal informativo - e que se baseia, principalmente, no princípio do acesso à informação, da segregação intelectual. Aqueles que tiveram acesso ao 'conhecimento' se tornam, nesse ponto de vista, pois, superiores aos pobres coitados ignorantes que, na visão dos 'detentores do saber', tornam-se inferiores por desconhecer fatos, citações e autores.

Desse pensamento surge outro, mais perigoso: a ilusão de que os excluídos de alguma das fontes do saber serem também incapazes de elaborar raciocínios lógicos, questionamentos, reflexões. Essa conecepção agrava ainda mais o abismo de desigualdade intelectual na medida em que, por serem normalmente reis da prolixidade e da retórica, os papagaios intelectuais utilizam essas armas para garantir seu lugar no trono do saber e os outros, ignorantes, reduzidos a meros limpadores de valas. Os forçosos operários, na falta das mesmas armas que seus 'superiores', acabam por se intimidar e entram no personagem, entram no jogo perverso da divisão de castas intelectuais e nelas se estabelecem.

Além disso, cria-se a ilusão, entre os Homo superioris, da infalibilidade das fontes do seu saber. Eles, tão orgulhosos da auto-denominação de 'homens da ciência' acabam por pecar da mesma forma que seus criticados irmãos religiosos: se atém à autoridade da aceitação de um discurso para justificar seu fanatismo. Nesse ponto eles cometem seu maior erro e sua maior falta. Perdem todo o crédito e traem seus ídolos ao tornarem-se ovelhas, mero rebanho de pastores renomados, que ainda assim, permanecem ovelhas. O conhecimento, sem questionamento, torna-se vazio.

Eu, particularmente, acho muito mais valorizável a capacidade 'pura' de raciocínio com o mínimo de interferência externa do que o entediante repeteco de idéias e pensamentos já estudados, vistos e revistos ao longo dos séculos da história do conhecimento humano. Nada se produz, apenas repete-se o que já foi dito como original. E não é. É apenas a repetição da repetição. "A copy of a copy of a copy".


Certa vez uma amiga me disse, com grande receio de me ofender, que me achava muito inteligente, porém não me achava nem um pouco culto. De fato. Eu nunca li nenhum grande autor de nada fora os que a medicina me obriga. Mas e aí, isso me torna inferior? Ao meu ver, me torna apenas preguiçoso, talvez um tanto revoltado...Em parte o que me afasta de tais leituras é justamente essa rebeldia adolescente de tentar sempre pensar com o mínimo de influências....É o desejo de ouvir uma idéia e questioná-la a partir das minhas próprias, e não dar uma resposta do tipo "Não, segundo fulano isso que você disse está errado, porque no livro tal ele fala isso, isso e isso, que vai contra o que você diz". Esse raciocínio não avalia a idéia em si, mas seu emissor. E uma discussão é, ou deveria ser ao meu ver, um embate de idéias, não de bibliografias.

É preciso nos atermos ao que realmente importa...

Caso contrário, perdemo-nos naquilo que tentamos construir para nos encontrarmos: nossa capacidade de pensar.

Pense nisso.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Eu e o (des)apego

Faz de fato muito tempo que eu não escrevo nada por aqui...e de fato as férias e todo o conforto que elas propiciam me tornam improdutivo na escrita...conflitos de menos, menos texto....C'est la vie

Mas não sei...ando pensando muito sobre o (des)apego e a auto-valorização...Passando por uma recém fase de extremo apego a pessoas [se bem que na verdade o singular do substantivo é mais propício que o seu plural, mas enfim...um certo hemretismo é sempre bem-vindo pela sua segurança] - e leia-se esse apego como algo com fortes doses de dependência e sentimento de rendição ao outro, às suas intempéries....e eu sempre tive um forte desejo de independência e liberdade, desde que me conheço por gente. Esse apego todo e sua consequente dependência sempre me fizeram muito mal, tanto nesse caso mais recente, quanto nos mais antigos. Mas é férias...e pra mim esse sempre foi um período de reflexões e auto-conhecimento, de auto-vivência, de descobertas de potencial. Normalmente isso sempre vinha carregado de uma boa dose de melancolia. Mas dessa vez foi muito diferente...descobri afazeres e experiências que fazem do apego algo insignificante por sua pequenez e falta de potencial de crescimento...afazeres sozinhos, apreciações artísticas, a retomada ao encontro com o próprio corpo em vários aspectos, a auto-descoberta do potecial da carne, da mente, das potencialidades, das próprias habilidades...tudo isso me faz refutar a teoria instintiva - que regia a minha existência desde muito cedo também, em contraponto ao desejo de autonomia - do apego e da carência como fontes de conforto e satisfação.

As relações humanas devem ser tidas como parcerias...sem jaulas ou coleiras, sem amarras, sem limitações...livre para poder explorar toda a potencialidade e complexidade do espontâneo, que é naturalmente livre e por assim ser, é poético....e de todos os objetivos da vida, hoje o que mais ressoa em mim é a busca pela poesia..as vitórias, as conquistas, as aquisições, elas perecem, assim como os momentos, assim como as pessoas, assim como tudo o que nos é perceptível...mas a poesia tem o dom de eternizar momentos, pessoas, lembranças...dá cor e beleza à nossa existência...

Eu me considerei por muito tempo a sombra cinza de um ser que perdeu toda sua cor pelas chibatadas da vida.

Hoje eu me levanto novamente...as cicatrizes ainda estão lá...mas o sangue seca aos poucos...e a vontade agora deixa de ser a de colo. O norte do desejo agora é a velocidade!

De chibatadas por escolha eu fico com as da brisa contra o corpo de braços abertos...

Eu escolho a Liberdade de mim mesmo.