domingo, 10 de abril de 2011

Marginal de si mesmo

Fazemos escolhas....optamos por condutas, ideologias..formas de pensar e agir...

Mas e aí? Quando optamos por pensar por nós mesmos e não nos deixarmos infectar pelo senso comum? Até que ponto vai esse nosso destoar do tecido social doente que caracteriza a humanidade nos nossos tempos [se é que ela já não está doente há muito mais tempo do que damos crédito, ou se é que não nasceu já doente]?

Ouvi uma frase há pouco tempo, não lembro das palavras exatas, mas a idéia ainda me é muito forte: Numa sociedade doente, concordar com ela e agir como tal - por extensão, nos incluirmos nela - não nos torna automaticmente também doentes?

O problema é que a solução então é polêmica: a marginalização espontânea....excluir a si mesmo desse conjunto social que se mostra conflituoso e doentio. E não digo se excluir das pessoas, mas dos costumes, essas manias, dos padrões de comportamento vigentes quando esses nos apresentam gritantemente errados, incoerentes e absurdos.

Quando o mundo se mostra absurdo, ser sadio, 'normal' - considerando normalidade no sentido de ser saudável, e não o que é predominante - é destoar desse todo caótico, excluir-se dele. Esse movimento pode fazer o indivíduo se deparar com uma solidão sem precedentes. Ele corre o risco de adentrar num caminho onde não há semelhantes. Nos é difícil pesar o que nos é mais caro: a auto-coerência ou a satisfação da nossa carência social de inclusão. E quando incluir-se no todo é privar-se de si mesmo? Não seria essa condição tão solitária quanto a outra, ou talvez pior?

Uma vez ouvi de uma grande amiga uma frase muito sábia que, todavia, não era dela: "prefiro ser chato a ser hipócrita". Essa hipocrisia não só incomoda a terceiros que a percebem, mas gera um desconforto interno muito intenso em quem a pratica. Nos enganamos.

E quando é que não o fazemos? Não será também que sempre nos deparamos com um certo mascarar, um certo disfarçar, um auto-enganar de alguma forma para nos mantermos aceitáveis pelo todo ou por nós mesmos?

Assumir um modo de vida autêntico pode se mostrar muito perigoso. Por destoar do todo, ele pressupõe uma exclusão, um se pôr marginal. Mas e para aqueles que assim como eu e, com uma dose de sorte, você, leitor, cujo incômodo diante desse concordar com a patologia social vigente aparenta ser muito maior do que qualquer possível sentimento de solidão ou exclusão decorrente de uma vida coerente com preceitos autênticos?

Talvez para nós não seja mais uma questão de escolha. Talvez essa já nos tenha sido tomada. Resta agora adaptarmo-nos a ela, pensar meios de torná-la aplicável efetivamente em nossas vidas.

Autofidelidade. Acho que essa é a idéia.

Nos apegarmos à fidelidade a nós mesmos. Confiar no nosso discernimento como norte de ação. Questionar o que é vigente. Sempre. Ir contra quando necessário. Negar costumes, condutas, maneiras de pensar e, por que não, sentir; quando essas são muito distoantes das que nos parecem aceitáveis ou coerentes.

Levar o senso crítico realmente a sério. E sermos realmente fiéis a ele.

Quando alguém passa a ser muito fiel ao próprio senso crítico, muitas vezes é chamado de chato ou exagerado pelos próprios assim ditos semelhantes que também pensam, ou se dizem pensar. Todos reclamam, se dizem ir contra a maré, mas quando alguém se propõe a realmente abraçar a causa e vestir a camisa, chamam-no louco por assumir a marginalização decorrente do seu movimento de coerência.

Então eu pergunto: quem é o verdadeiro louco? Onde está o real caos?

Não sei como terminar esse texto...talvez por ainda haver muito a ser escrito...no papel...nas nossas vidas....

Nessa nossa trajetória rumo à própria lucidez.

O risco de vida causado pelos nossos costumes está atingindo níveis insustentáveis...
Nossa existência se torna gradativamente mais e mais insustentável.

Está em todo o lugar...em cada canto por aí comentam...o movimento se inicia...questiona-se o consumo, questiona-se o predatismo desenfreado, questiona-se valores, convicções, dogmas.

Morreremos na praia? Ou viveremos para ver uma nova aurora, de uma outra cor?

É a era do verde, não? Quem sabe além do meio ambiente, não seja também a era da cura, da esperança?

Quem sabe...

sábado, 9 de abril de 2011

"David, open your eyes..."

Cegueira..a nossa cegueira, a cegueira dos outros, a cegueira do mundo, essa doença.....

Não culpamos um gripado por espirrar, certo? A culpa não é dele....ele contraiu uma gripe, não optou por ela - pelo menos, pensando em termos gerais, não - foi agente passivo, infectado, vítima...

A cegueira é a mesma coisa.....e eu digo isso por já ter reagido violentamente com a cegueira alheia - inclusive com posts nesse blog - e ter, recentemente, esbarrado com a minha, que me disse 'oi', sorriu, acenou, virou as costas, e saiu correndo...fugindo, como que para e não conseguir alcançá-la e eliminá-la de vez....

Mas lendo algumas coisas agora, me ocorreu o óbvio....sobre como tratar a cegueira...em nós mesmos e, principalmente, nos outros...ignorância, preconceito, frieza...e todo o tipo de falta de sensibilidade e percepção que resumimos no conceito abstrato de cegueira...

Muitas vezes vemos algo que nos é muito claro, muito óbvio....e ao ver que o outro não enxerga essa obviedade, julgamo-no da pior maneira possível...nos vem a vontade de esfregar em sua face a própria ignorância, a própria negligência em relação aquilo que ele deveria ver, deveria perceber e, por não fazê-lo, cria-se a impressão de que o negligenciado não tem valor para o que negligencia....e às vezes é tudo uma questão de usar o óculos certo, ou olhar pela perspectiva adequada...assim como o gripado, o míope não tem culpa de sua miopia...e assim sendo - míope - tem dificuldade de enxergar certos detalhes, certas nuances, as quais, sem a lente correta, jamais verá, jamais perceberá...

Cabe, no fundo, a nós, que vemos, percebemos e sentimos, tentar compartilhar esse nosso aprendizado com quem não o desenvolveu para que o possa desenvolver...a cegueira é excludente e é a exclusão e a cegueira que devemos combater, não os cegos! Se não estaremos sendo tão excludentes como eles...tão excludentes como eu mesmo fui julgando a cegueira de meus semelhantes diante de situações anteriormente citadas - vide posts mais antigos. E a exclusão alheia não justifica a nossa...não resolve o problema...exclusão gera mais exclusão...e para combatê-la exige nosso esforço para gerar inclusão, trazer para perto o que não vê direito, para ver conosco as coisas com outro ponto de vista...e entender o ponto de vista daquele que julgamos cegos, para curarmos também a nossa própria cegueira....nós, que nos julgamos de visão tão límpida e cristalina....

somo todos humanos...compartilhamos da mesma falibilidade potencial...marginalizar o que erra não o impede de errar, pelo contrário....auxilia na manutenção dos erros..

se queremos melhorar o todo....nos é necessário solidariedade..precisamos ser solidários também com os que não são...para podermos expandir a visão...expandir a solidariedade...

Até por que...nós que não nos queremos cegos e não o queremos assim também o mundo....devemos sempre nos lembrar...

visão é inclusão.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Às vezes precisamos nos recolher...nos encolher...nos acolher...

às vezes todo o cuidado de que precisamos vem desse auto-respeitar nossa própria demanda por quietude...

às vezes é preciso estado constante....plano....calmo....quieto....deixar aquietar....deixar sentir-se quieto....

é um se abraçar e sentir-se inteiro em si...de braços abertos...

esse coerente paradoxar livre...por aí...

à deriva

O cansaço...o desgaste...os erros....a culpa....o cansaço....as reflexões....a vontade de parar essa máquina frenética, esse autômato, o agito, o barulho, tudo....

o silêncio.....

o silêncio da alma...

nem piloto automático, nem manual....

só planando....solto....olhos fechados, mente quieta....a brisa leve no rosto...a imensidão...

o movimento de se estar parado....a pausa....o tempo, o vento e o lento digerir, sem pressa, sem fúria, sem culpa, sem pretensões.....esse despretencioso estar...esse leve ser....

a leveza e o peso....essa valsa de dois opostos, extremos entre tantas nuances...essas nossas nuances que compõe o espectro de nossas vidas...as nuances de prazer, as pinceladas de dor, e tudo o que está no meio...energias, vontades, medos, potencialidades, pulsões, vida, morte, tudo, nada, alguma coisa e coisa alguma....

Se afastar de si, se desprender do mundo..."sem deuses, sem mestres(...), nem errado, nem certo, nem bem, nem mau, nem rico, nem pobre, vencedor ou perdedor, humilde ou soberbo...apenas trilhando algo que é só seu, dentro e fora de moldes, criando outros clichês..."

leve...

é preciso a leveza de ser criança para voar na terra do nunca...

nossos comprometimentos, nossas responsabilidades, nosso potencial de perturbação nos meios, nas pessoas, nas coisas...todo o peso envolvido nisso que nos molda, nos dá corpo, nos delimita, nos alimenta...

mas por vezes precisamos voar...cair, com ou sem estilo...se soltar, deixar-se ser...abrir-se e deixar-se ir....um flutuar mais que um mergulhar..."um querer mais que bem querer" só pela combinação de forma, sem pretenções de sentido

solto

leve

livre