segunda-feira, 27 de junho de 2011

Panacea Desvairada

Na tentativa de expurgar essa

essa..

essa...

essa alexitimia filha da puta que não me deixa!

mancho a paz branca do painel de palavras entorpecidas de angústia

"um mal estar, uma coisa ruim..."

uma vontade de nada
um desejo de explodir
de dormir
de apagar
desmaiar

de anestesiar tudo
não sentir mais nada

desejos tenebrosos esses que vêm...
e isso não passa...

não pára...
não pára...

não pára...

e o grito não sai....
corrói a minha garganta e volta

vontade de me desligar do mundo
sair de tudo
apagar tudo

...

vontade besta!

domingo, 26 de junho de 2011

e de novo ela...

Bem ou mal, cedo ou tarde, acho que a angústia sempre vem. Ou melhor, sempre volta.
Angústia....

Ouvia tanto essa palavra quando era criança...
Eu dizia: "Ai ai.."
Me perguntavam: "o que é que dói, chico?"
Eu retrucava: "nada..só 'ai ai' de 'ai ai' oras"
E me vinha o retorno: "hmmm...será? eu vejo aí muita angústia"

Coisas de terapeuta
Era isso que eu pensava....até porque na época eu não conseguia identificar de onde vinha essa angústia. Na verdade nem sequer o que era essa tal "angústia" de que falavam tanto...

Às vezes acho que eu preferiria não saber..
Hoje eu vejo que essa coisa sempre esteve presente, intermitentemente presente
E hoje eu sei...havia muita razão em questionar os meus 'ai ai's de então

E é contraditório, não? O comodismo da zona de conforto incomoda...o desconforto de estar fora dela também...fadado ao incômodo...fadado à angústia [?]

Talvez fadado a escrever, isso sim. A tentar expurgar isso que se debate, que se inquieta, que não tem nome, que não tem cor, que não tem cheiro, que não tem forma, que não é nada, que é só 'ai ai'.
Não é dor. Na verdade se for para comparar acho que isso mais se assemelha ao frio. Existe uma melancólica solidão comum ao frio e à angústia. Angústia em tempo frio, então....

sei lá...
deu gastura de escrever esse texto já...
talvez continue em outro

talvez não...

Explosão no vácuo

Sabe aquele sonho em que a gente grita a plenos pulmões

mas não sai som algum?

então....


alguém na escuta?

Zé mané

Na vida a gente vive procurando saídas...

Depois ficamos trancados do lado de fora e não sabemos por quê...

Ê, gente besta mesmo, hein!

O preso e o peso da pedreira

Preso
Preso na prosa
proseia, proseia e não diz nada

prolixo?
pro lixo.

se não diz nada, pra onde mais ir, então?

A prosa me prega..
pregos nas mãos
peças na mente
me prega os olhos pra luz do dia

me prega verdades na parede
e de que cor era, afinal, por detrás de todos esses relatórios [ilusórios]?

a prosa tem progressão [?]
mas que progresso atravancado esse...

e toda essa pedreira pesa e não perdoa.

toda essa brincadeira perde a graça

da pedra à grama da graciosa transformação do preso em grato
ingrato?

tudo p[r]eso...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

repetitivo reticente

Todo o não-dito entalado na garganta me parece repetitivo
tantos discursos, tantas convicções
tantos clichês...

tanto do que se fala
quanto já não foi dito?

quantas velhas inovações?

acho que meus pensamentos precisam de incubação
preciso do tempo para nascer o novo,
para que a criação tome a vez
não a repetição do óbvio transvestido de inovação

coloca-se pra fora sempre a mesma coisa
sempre a mesma coisa
falta um melhor ruminar..

enchemo-nos de ruídos para abafarmos o barulho que o silêncio traz
são tempos de se meditar o silêncio...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Nota

Às vezes é preciso escrever para livra-se de si mesmo
É preciso deixar-se no papel e tomar a rua, a noite, o vento, o mundo...
Livre...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Cis(ti)co

Nada...

não somos nada...

e não digo isso com dores, pessimismos, pensamentos derrotistas ou sentimentos negativos...

Nos amontoamos de coisas, nos recobrimos de títulos, inflamo-nos com tudo o que conseguimos alcançar para podermos nos sentir senhores das nossas próprias vidas.

E até que ponto nos damos conta de, afinal, não sermos nada?
Nos apegamos à imagem que tentamos sustentar a todo o tempo de nós mesmos. Essa imagem criada para, mais que impressionar o outro, alegrar a nós mesmos...Quantos são os que podem, de peito aberto, dizerem-se satisfeitos consigo mesmo, livres de tentativas de iludir a si mesmos?

Somos pequenos. E essa pequenês nos esbofeteia a cara todos os dias, a toda a hora. E esse esforço inútil de tentar negá-la. Sermos bons, competentes, humanos e além.

Balela....

O nosso esforço denuncia a nossa incompetência, nossa incapacidade, nosso estado de aprendiz. Falamos, falamos e não dizemos nada! Entre o copo meio cheio ou meio vazio não nos resta sequer dois dedos d'água para dizermo-nos cheios de qualquer coisa.

E ainda assim continuamos, acumulando títulos, posses, bens...materiais, intelectuais, afetivos, pessoais...
acumulamos e acumulamos para preencher o vazio que não nos deixa...forçamo-nos a não pensar nele para poder continuar o dia, continuar a luta, continuar, continuar, continuar...nesse auto-engano inesgotável para conseguirmos lidar com a nossa própria imagem diante do espelho..

Crianças que fomos, adultos falhos nos tornamos....crescendo com a imagem do adulto-capaz, nos vemos menos que a criança...à criança não cabe a pretensão do pensar-ser. A criança simplesmente é e ponto. Se é bonitinha, se é birrenta, ranhenta, amável, escandalosa, enfim...não existe nela ainda esse questionamento sobre o ter que ser para alguém, quem dirá para si mesmo...

O tempo vem e tentamos nos reafirmar incessantemente...nessa carência pelo que perdemos e nem sequer sabemos o nome..nessa tentativa desesperada de recuperar o que foi tirado, o que nos deixou esse buraco imenso aberto a mostrar as vísceras que tentamos a todo custo esconder

falhos....

Somos ciscos falhos tentando brincar de gente grande, tentando reafirmar a cada instante a ilusão da nossa própria divindade.

Não somos Deuses.
Somos ciscos.

Quando não o queremos ser, tornamo-nos cistos...apenas esperando o momento mais oportuno para eclodir.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Lodo

Escuro, sujo e fedorento

Esse licor denso que escorre de mim e mancha o chão. Toda a escuridão do pó que se faz em cinzas. Se espalha que esparrama e se expande e contrai...

contraído por dentro me ponho ao mundo
sem vontade e sem opção

nas palavras de letras negras procuro a saída do negro desse coração
da fuga de mim mesmo procuro o meu encontro

preciso me livrar desse cárcere
o Eu

esse eu que me aprisiona
que cria grades
paredes
muros
escuridão

esse eu de ilusões
esse eu de distorções
expectativas
que cria correntes
jaulas
prisões

do pó ao pó?
à liberdade do pó
clamo a libertação de mim mesmo

essas correntes
esse claustro

preciso me libertar de mim mesmo
preciso abrir meus olhos
para além dessa escuridão

para fora desse lodo

Imperfecto

Da incompleta incompetência nasce o filho dessa dor de ser imperfeito
incompleto

falho

a falta que a falha traz
que me faz sentir falta de mim mesmo

a angústia de ser em dor
os braços cruzados sobre  estômago a segurar a dor
a reter o rebento do escuro
esse amargo ser vazio
que brota e cresce dentro de mim
imperfeito

chega de falhas
chega de falhas

Eu não aguento mais!
Chega!

Essa vontade ininterrupta de sair de correr de pular de morrer de fluir de nadar de nada
de largar tudo

ir embora
sem vez
nem explicação

esse desejo pelos pedais e pelos pneus
a girar pela estrada
arrancando-me das pernas toda a vida que se esvai em dor e agonia ao andar, pelo dia, nas ruas, na vida.

Onde é que vamos parar afinal?
Pra quê tudo isso?

As perguntas só aumentam
o ódio cresce
a angústia vai ganhando corpo
e ganhando corpo
e ganhando corpo

toma conta de tudo
mancha minhas palavras
marca a folha
mancha a tinha de folhas escuras
de confusão

perde o sentido das coisas
tudo se perde
e perdido
nada

tudo
tudo se contorce
tudo se distorce
tudo cresce e se transforma
disforma
esse câncer que escorre pelas minhas estranhas
vaza pelos meus poros
de um negro fedorento
asqueiroso
nojento

tudo longe
tudo distorção
dessa mente doentia que busca curas
vias
soluções
e se perde em seus caminhos
em dúvidas
em medos
angústias
fugas
e dor

correr correr correr correr correr correr correr correr correr correr correr correr

pra onde?

pra longe...

pra fora dessa imperfeição toda
pra longe desse erro
pra fora dessa vida

não dá!
a quem eu quero enganar?

essa vida
todo dia
esse engano

essa mentira
esse personagem
esse quero-ser

isso tudo não existe!
é tudo coisa da sua cabeça


é tudo coisa da sua cabeça...


é tudo coisa da sua cabeça...


...