quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Coisas que eu quero não apenas nos amigos, mas aprender a encontrar em mim mesmo...

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. 

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. 
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. 
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. 
Deles não quero resposta, quero meu avesso. 
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco(...)
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril."



Oscar Wilde

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Lágrimas vomitadas no papel

Na....

Na....

Na ne

ness...

Necessidade...

De escrever

sei lá eu o quê

as palavras cantam para sair
querem o ar
querem seu lar
querem voar
querem cair
no mundo
na vida
na ida

de-sa-pa-re-ci-da

Nossa senhora que roga pelos que acreditam
e dizem que tanto assim pelos incrédulos....

se de fato for...que rogue também por mim

que não sei mais
não sou mais
não
simples
a negação

do mundo fosco que se dissolve em cores sem brilho
em tons de sombra

em contrastes do escuro com o opaco
O parco pão de ânimo para levantar
Para a coragem de sorrir o dia
No riso amarelo da obrigação de sair de si
de ser no mundo
sem vontade de ser se não em si mesmo
ensimesmado que só
sem conseguir explicar
sem vontade de entender
sem graça para tentar falar
sem ânimo nem para ler

tudo é longe
tudo é pouco
e os excessos estão a transbordar pela garganta

excessos de uma vida de limites excedidos

a vontade remanescente de simplesmente ser
e correr sorridente
sem obrigações
malícia, preocupações

pelo salão da festa alheia
que se faz sua dentro de sua completa existência
e a falta que faz essa completude perdida

os sorrisos custosos
as cores com as marcas de pincel
que forçam-nas no branco do papel
roubam-nas do que sonha ser o céu

Problemas tantos, não mais o seu

Sem saber encaixar em nada o que falta dentro de si
O que sobra de si e não cabe no seu mundo

imunda criação forçosa da vida

Essa vida Severina...

Cores com ar de Leonardo

Na abstenção da realidade a vida toma a mente em possessão
A consome de tal forma, faz do mundo um sem número de cores invisíveis
Colorindo o interno
O interior
Dando luz ao oculto e sorrateiro,
ligeiro e tímido sonho que pulsa de dentro por não poder sair
admira as vestes do mundo de fora
colore-os em sua imaginação infindável e inocente
coloca-as cores que não há
cores que só são em si mesmo
no interior do lago profundo
as profundezas de sua alma

onde ao som da música, brincamos de ser criança nos campos verdes
fazendo anjos de neve na grama viva
sujando-nos de alegria pela liberdade de sermos o que quisermos

do vasto verde ao imenso azul
com todos os direitos às manchas brancas
que quebram a monotonia do imenso vasto

a imensidão sem fim

domingo, 6 de novembro de 2011

Enquanto em sonho perdia-se nos labirínticos caminhos inconscientes, sua presença penetrava-lhe pela janela do quarto, perturbando a transparência fosca das cortinas brancas esvoaçantes com os envolventes ares noturnos.

Chegava-lhe junto à face...e aos olhos fechados de viajante das entranhas de si mesmo, dizia-lhe aos ouvidos "me beijava como se não houvesse outra mulher no universo inteiro!"

Em seu universo onírico não havia senão ser, outro que lhe casasse tanto à vida...

Em seu universo onírico corriam-lhe as lágrimas da vida
entrelaçando-se umas às outras

Sendo senão duas lágrimas
A escorrer em vida
Pela face do mundo
Buscando seus caminhos

Em encontros e desencontros pela malha do tempo

sábado, 5 de novembro de 2011

Reticente

O peso presente
O sorriso latente
Todas as suas repetições

O constante vai e vem
alegrias, tristezas
choros, risadas
repetidas emoções

O visitante do café da tarde
hora se esquece de bater à porta
outra não deixa, é pontual

e a roda girando continuamente
nos levando para frente
len-ta-men-te
nos fazendo passar por todos os seus pontos
repetida e reticente

nesse embaçar de vidros
o embaçar da vida
que continua lá fora
pela janela do quarto
com todas as suas cores
todos os sabores
e todas as suas dores
que não são minhas

e enquanto isso eu aqui
me divertindo com os vultos através da janela
vendo deles o que há em mim

o que sempre precisou ser visto

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Frio

E sentiu seu corpo todo ser tomado por um súbito turbilhão...seus ossos debatendo-se contra sua carne, arrancava-lho arrepios fúnebres, agouros do sofrimento atros....debatiam-se os ossos uns contra os outros...as partes de seu corpo agitavam-se como quem quer sair, se desagregar, se desintegrar, não mais ser, não mais sentir, não mais nada....
Não queria nada...sentiu de repente uma não-vontade...não havia nada que o mundo lhe ofertasse...nada...

Nada lhe tiraria das entranhas aquela gélida sensação de solidão. O desamparo tomava conta pouco a pouco dos seus poros, dos seus pelos, cabelos...tudo se eriçava numa só onda de desespero...

Tudo era nada naquele momento.

Apertou as mãos como quem busca vida dentro de si...sentiu senão o frio correndo dentro das veias...A vida por instantes esvaía-se. Morria, parte de si...como se naquele exato momento fizesse a gélida travessia...pegava o barco sem moedas nos olhos....uma instantânea viagem sem volta, da qual mal fizera, já sentia saudades...

A única remanescência era o frio...
Nem vida, nem Vontade, nem desejos, nem o que se poderia chamar dor, medo ou receio

Apenas o frio

A esvair-lhe tudo naquele momento