segunda-feira, 17 de março de 2014

"Fuck the Fashion" e outros clichês

Não gosto muito de moda. Não vou dizer que "nunca gostei", mas desde que eu me lembro, nunca fui muito fã. Não tardou muito para esse "não ser muito fã" se tornar um grande repudio ao que a indústria da moda se propõe.

Falar mal da moda e chamá-la indústria, eu bem sei, é clichê e, dentro de um certo nicho intelecto-social, já virou senso comum...

Mas eu compartilho desse senso comum, ainda que ele seja "nicho específico".
Nunca li nada muito mais sólido sobre o assunto....o que tenho de opinião não passa de achismo de boteco, ainda que muito me agradem tais achismos.

Então partamos do clichê: Não gosto da moda pelo seu caráter normativo. Ultimamente ando gostando cada vez menos das normatividades em geral devido seu caráter opressor - ainda que, em alguns casos, ele seja "sutil" - e, por tanto, potencialmente destruidor de auto-estimas.

Vejo muitas pessoas defendendo a moda como um apontador de tendências coletivas. Como se a moda fosse uma consequência, não uma causa, de determinados padrões estéticos. Isso por si só eu já acho extremamente questionável. Gostaria MUITO de saber com base em que são feitas essas estimativas de tendências. Porque o que eu observo das pessoas com que eu convivo e de alguma forma são claramente ligadas às "tendências" é antes uma busca por essas tendências do que uma identificação natural com elas. Como assim? Falas como "ai, você viu, a cintura alta tá voltando, preciso trocar minhas calças", ou "estão voltando a usar coques altos ao invés de rabo de cavalo para prender o cabelo" se repetem muito frequentemente nos dias a fora. Aí eu fico pensando, de forma bem simplista e, portanto, talvez equivocada: Se existe uma tendência e ela, por sua natureza tendencial, deveria refletir o que naturalmente é demanda coletiva, porque raios haveria essa necessidade individual de busca ativa por uma adequação ao padrão? Se a tendência fosse, de fato, algo natural do coletivo, não haveria então uma migração espontânea de conduta no sentido daquilo apontado enquanto tendência? Com essas dúvidas na cabeça se torna de grande dificuldade, pra mim, enxergar a moda como qualquer coisa diferente de outra colonização de costumes, impostos sabe-se lá por quem - ou por qual grupo - ao restante da população, ditando normas e criando padrões de normalidade, de "certo" e "errado".

Outra coisa muito clara e que pra mim derruba de forma infantilmente simples o argumento da moda enquanto tendência, não como imposição: numeração dxs manequins. Os setores que, no planeta, consomem a moda, são os mais abastados entre os demais, o chamado "mundo desenvolvido". Populações essas em franca expansão do número de casos de sobrepeso e obesidade - por causa do nosso estilo de vida cada vez mais sedentário, maior exposição a alimentos e artigos de consumo tóxicos e todo aquele papo esgotante e famigerado por muitos de nós. E como um movimento social que supostamente segue tendências ao invés de ditá-las fabrica roupas para pessoas ultra-magras num mundo em franco processo de engorda? E pior, coloca esse processo de engorda como esteticamente ruim.

Aí virão me dizer "mas ah, pessoas gordas tem mais problemas de saúde, etc". Ok, a propensão de maiores problemas de saúde associados ao sobrepeso existe de fato. Mas o discurso de combate à obesidade não é funcional, é estético! Aliás, desconfio de qualquer discurso que vá contra qualquer coisa baseando-se na ideia de "faz bem/faz mal pra saúde". Porque esse discurso busca carregar de uma certa coerência determinada ideologia para que esta ganhe algum tipo de autoridade. E se formos observar bem, essa abordagem acaba sendo muito arbitrária na maioria dos casos. Se formos pensar em coerência, deveria haver um discurso contra todas as coisas que supostamente fazem mal à saúde. Mas no geral são apenas algumas coisas que determinados grupos criticam. A galera que é contra a legalização da maconha, toma cerveja com uma frequência alarmante e não dispensa o bom e velho Mc Donald's pós balada. Sem contar os que não bebem e não saem, mas ingerem quantidades absurdas de alimentos e bebidas açucarados, mas não usam drogas porque fazem mal à saúde. Parabéns. E até mesmo o pessoal que é pró orgânicos ou se envereda pelo vegetarianismo/veganismo no geral - ainda que sempre haja exceções - não abre mão do álcool e, com frequência, de outras drogas. Então o discurso orgânico de "saúde" é muito questionável ao meu ver, independente de quem o profere. Acho que seria muito mais honesto que se assumíssemos nossos hábitos pelo motivo real e sincero: "Porque eu quis/porque eu gosto/porque sim". Sempre que eu vejo qualquer tentativa - inclusive e especialmente as minhas - de tentar explicar demais para além disso, dá merda e o discurso fica muito frágil ou incoerente.

Eu comecei falando de moda, mudei de assunto e não faço ideia de como terminar esse texto que tava nos rascunhos sabem lá os deuses desde quando...

Vai ficar assim mesmo.

quarta-feira, 12 de março de 2014

O marido da foca

https://www.youtube.com/watch?v=U88jj6PSD7w

Há alguns dias andei pensando sobre felicidade e me dei conta de nunca ter me sentido de fato feliz. E  o meu espanto veio quando essa percepção foi acompanhada de uma sensação de prazer, satisfação. Não por qualquer afirmação depressiva de existência, não é bem isso. Mas me dei conta de que a concepção de felicidade que eu conheço não me satisfaz, não me contempla e, em última análise, me mata de tédio.

Dentro dessa concepção, perceber que eu não me sinto - e acho que nunca me senti - feliz, me faz um bom tanto à vontade comigo mesmo.

Quando eu não estou feliz, ou quando estou no oposto do estado de euforia comumente associado à felicidade, eu me encontro incomodado de alguma forma. Triste, com raiva, angustiado, não importa; incomodado de alguma forma.

Esse estado de incômodo me põe em movimento e o movimento me traz mto mais satisfação do que essa euforia a que chamam felicidade. Esta me estaciona e me, por isso, me mata de tédio.

Sempre achei que esse estado de incômodo fosse o inverso desse conceito comum de felicidade. Mas me encontro na descoberta do não a essa afirmação.

O contrário do incômodo, pra mim, não é a felicidade.

É o foco.

Hoje eu me sinto focado.

Acho isso muito mais interessante e rico do que essa joça imbecil a lá Disney a que chamam de felicidade. Essa bodega não me interessa não, muito obrigado. Volte amanhã. Quem sabe? ;)


terça-feira, 11 de março de 2014

gerúndios

Nas férias do ano passado para esse ano, conheci uma moça. Dessas pessoas que entram na nossa vida por acaso e surpreendentemente ficam de uma forma surpreendentemente bonita.

Ela sempre me perguntava sobre minhas coisas favoritas. Acho que queria tentar descobrir quem eu sou, me conhecer melhor, criar mais intimidade, estreitar vínculos...

E vez atrás de vez eu a frustrava. "Acho que não sou uma pessoa de coisas favoritas", eu sempre respondia...

Ela se irritava

[e até hoje eu me pergunto se a irritação era séria ou apenas charme.... acho divertido quando as pessoas se irritam - quando eu não fico assustado com a irritação - e o charme....ele é sempre bem vindo, né?]

E no fim das contas é isso.... eu sempre busquei favoritar as coisas...mas não sei.... acho que eu sou volúvel demais para isso... ou talvez tenha vindo - ou desenvolvido - com esse defeito de fábrica... incapaz de favoritar as coisas, pouco dado a preferências...

Quando criança, mudava de profissão favorita umas 3x por semana, como dizia uma grande amiga e vizinha durante mais de década então...

Hoje eu tô aqui...em meio a mais uma das milhões das crises existenciais da minha vida..... mais uma de muitas que foram, antecedendo outras tantas que virão

Percebendo que anda ficando cada vez mais difícil me estabelecer em definições, em preferências... Essas coisas vão se transformando e me levando junto nas transformações...

Às vezes acho que a gente não é porra nenhuma no fim das contas...

Tem horas - quando isso tb não assusta - que eu acho que a gnt acaba sendo mesmo é trânsito...