Assiti um filme muito bom esses dias atrás. Não vou citar o nome do filme porque os comentários que eu farei contém spoilers. Mas de todo modo, o filme que eu vi e algumas atitudes presenciadas em paralelo (e sem conexão com o evento cinematográfico) me trouxeram à reflexão o quanto nós somos inimigos de nós mesmos -e como esse é o verdadeiro e o pior.
Parafraseando uma das falas do filme, o nosso grande problema é a nossa necessidade inquietante de querer ser especial, de ser o centro das atenções. Queremos sempre ser os mais lembrados, os que recebem mais carinho, aquele de quem mais se gosta. E no fim das contas muitas de nossas ações giram em torno desse objetivo: ser percebido pelo outro. E é tão estranho o combustível da nossa felicidade se basear em algo tão frágil.
Nos ocupamos do outro: o que o outro faz, como ele se veste, o que pensa das nossas ações, das nossas escolhas, de nossas idéias, se gosta da gente, nos aprova ou reprova. E nesse se ocupar com o outro muitas vezes nos esquecemos que o principal foco de nossa vida é a gente mesmo. E por favor, querido leitor, não interprete essa frase como uma apologia ao egoísmo. Me frustraria muito que a idéia fosse deturpada desse modo. Não quero dizer que o sofrimento ou as necessidades das outras pessoas não tem importância. E muita gente ignora o fato de que quando nós nos focamos em nós mesmos, isso - e somente isso - cria condições suficientes e substanciosas para darmos uma atenção real e sincera ao outro num momento de necessidade. Caso contrário toda atenção dada ao próximo acaba por se resumir num desvio para suprir necessidades próprias, carências em aberto.
Certa vez uma pessoa muito sábia usou uma metáfora que elucida bem essa idéia: Quando estamos num avião, uma das instruções dadas pela equipe é que em caso de emergência as máscaras devem ser usadas, e caso o usuário esteja com alguma criança, a máscara deve ser colocada PRIMEIRO NO ADULTO e depois na criança. Isso de início me revoltou. Mas como todo sábio, ela me explicou que de nada adiantaria a máscara na criança se o adulto morresse depois. Não haveria quem cuidasse dela. Para poder olhar para o outro e vê-lo de fato, é preciso haver uma boa consolidação do indivíduo que olha, se não todo olhar passa a ser mera projeção narcisista dos próprios anseios. E a intenção de cuidar do outro se perde por incompetência em cuidar de si mesmo.
Mas voltando ao foco da importância que nós temos para nós mesmos. Quando eu estava no ginásio (eu sou da época que Fundamental ciclo II era chamado desse jeito), uma professora fez uma coisa muito interessante. Ela tinha colocado uma caixa de sapato no meio da sala de leitura e nos colocou em fila para que cada um de nós víssemos o seu conteúdo individualmente. Ela afirmava que nós veríamos aquilo que era mais importante em nossas vidas. Eu fiquei muito curioso sobre o que era e como a mesma coisa podia ser tão importante para todos ao mesmo tempo. Qual não foi a minha surpresa ao me deparar com a superfície de um espelho no fundo da caixa e a minha própria imagem projetada nela. Por mais que nós amemos nossos pais, nossos filhos, parceiros, cônjuges e afins, nada é mais importante nas nossas vidas do que nós mesmos.
E isso inclui uma idéia intrigante: como o foco está sempre em nós, em nós estão as causas de nossas alegrias e angústias, vitórias e derrotas. Não no nosso vizinho, colega de trabalho, parente ou amante, mas em nós mesmos. E se conseguirmos unir a noção da real importância que o nosso interior tem para nós e do quanto nós somos responsáveis pelo que acontece em nossas vidas, o verdadeiro inimigo não mais se esconde. Vendo a raiz do problema, podemos de fato tomar atitudes efetivas para nos melhorarmos, sermos de fato mais felizes e consequentemente melhorar o mundo que nos cerca. Pois ao nos darmos conta da real influência do nosso interior nas nossas vidas, enxergamos o nosso imenso potencial tanto para gerar destruição quanto para criar soluções e coisas belas. Está tudo dentro de nós.
Por mais que nós lutemos contra ameaças externas, devemos sempre nos lembrar dos sábios ensinamentos dos orientais: O Verdadeiro Dragão está dentro de você.
tu mudou o título do blog?
ResponderExcluire se seu nome é severino o meu é Gabriela.
[comentário a parte]
meu post sobre o ÓDIO, minhas sessões terapêuticas sobre minha "inimiga". se trata disso. ainda não descobri o que em mim tanto falta, amo, odeio para ter nesse espelho no outro o que quero e tenho em mim mesma.
ResponderExcluiras vezes nos dar atenção basta. fato. mais ainda precisamos do outro.
" a verdadeira felicidade só existe se compartilhada" supertramp, no filme "into the wild"
"E é tão estranho o combustível da nossa felicidade se basear em algo tão frágil." acho que por isso que é tão efêmera..
aprendemos a nos alimentar do outro, cada vez mais, compulsivamente. a vida é construída por isso e ninguém nos ensina a dose certa. isso a gente aprende na porrada da vida.
jogamos no outro o que não damos conta de vermos em nós, talvez.
A do espelho foi bem forte para uma criança, porém mais marcante e mais significativo fazer isso com uma criança do que com adultos..
Mesmo pelo fato da digestão e processo das informações. Mais tempo se tem para ver a importância. Alguns valores demoram a cair, mudar, transformar. (Esses já invertidos, deturpados no mundo contemporâneo).
no fim e no fundo das coisas o fato é que o que precisamos está dentro de nós.
vc deu muitas dicas do nome do filme =p