Fazemos escolhas....optamos por condutas, ideologias..formas de pensar e agir...
Mas e aí? Quando optamos por pensar por nós mesmos e não nos deixarmos infectar pelo senso comum? Até que ponto vai esse nosso destoar do tecido social doente que caracteriza a humanidade nos nossos tempos [se é que ela já não está doente há muito mais tempo do que damos crédito, ou se é que não nasceu já doente]?
Ouvi uma frase há pouco tempo, não lembro das palavras exatas, mas a idéia ainda me é muito forte: Numa sociedade doente, concordar com ela e agir como tal - por extensão, nos incluirmos nela - não nos torna automaticmente também doentes?
O problema é que a solução então é polêmica: a marginalização espontânea....excluir a si mesmo desse conjunto social que se mostra conflituoso e doentio. E não digo se excluir das pessoas, mas dos costumes, essas manias, dos padrões de comportamento vigentes quando esses nos apresentam gritantemente errados, incoerentes e absurdos.
Quando o mundo se mostra absurdo, ser sadio, 'normal' - considerando normalidade no sentido de ser saudável, e não o que é predominante - é destoar desse todo caótico, excluir-se dele. Esse movimento pode fazer o indivíduo se deparar com uma solidão sem precedentes. Ele corre o risco de adentrar num caminho onde não há semelhantes. Nos é difícil pesar o que nos é mais caro: a auto-coerência ou a satisfação da nossa carência social de inclusão. E quando incluir-se no todo é privar-se de si mesmo? Não seria essa condição tão solitária quanto a outra, ou talvez pior?
Uma vez ouvi de uma grande amiga uma frase muito sábia que, todavia, não era dela: "prefiro ser chato a ser hipócrita". Essa hipocrisia não só incomoda a terceiros que a percebem, mas gera um desconforto interno muito intenso em quem a pratica. Nos enganamos.
E quando é que não o fazemos? Não será também que sempre nos deparamos com um certo mascarar, um certo disfarçar, um auto-enganar de alguma forma para nos mantermos aceitáveis pelo todo ou por nós mesmos?
Assumir um modo de vida autêntico pode se mostrar muito perigoso. Por destoar do todo, ele pressupõe uma exclusão, um se pôr marginal. Mas e para aqueles que assim como eu e, com uma dose de sorte, você, leitor, cujo incômodo diante desse concordar com a patologia social vigente aparenta ser muito maior do que qualquer possível sentimento de solidão ou exclusão decorrente de uma vida coerente com preceitos autênticos?
Talvez para nós não seja mais uma questão de escolha. Talvez essa já nos tenha sido tomada. Resta agora adaptarmo-nos a ela, pensar meios de torná-la aplicável efetivamente em nossas vidas.
Autofidelidade. Acho que essa é a idéia.
Nos apegarmos à fidelidade a nós mesmos. Confiar no nosso discernimento como norte de ação. Questionar o que é vigente. Sempre. Ir contra quando necessário. Negar costumes, condutas, maneiras de pensar e, por que não, sentir; quando essas são muito distoantes das que nos parecem aceitáveis ou coerentes.
Levar o senso crítico realmente a sério. E sermos realmente fiéis a ele.
Quando alguém passa a ser muito fiel ao próprio senso crítico, muitas vezes é chamado de chato ou exagerado pelos próprios assim ditos semelhantes que também pensam, ou se dizem pensar. Todos reclamam, se dizem ir contra a maré, mas quando alguém se propõe a realmente abraçar a causa e vestir a camisa, chamam-no louco por assumir a marginalização decorrente do seu movimento de coerência.
Então eu pergunto: quem é o verdadeiro louco? Onde está o real caos?
Não sei como terminar esse texto...talvez por ainda haver muito a ser escrito...no papel...nas nossas vidas....
Nessa nossa trajetória rumo à própria lucidez.
O risco de vida causado pelos nossos costumes está atingindo níveis insustentáveis...
Nossa existência se torna gradativamente mais e mais insustentável.
Está em todo o lugar...em cada canto por aí comentam...o movimento se inicia...questiona-se o consumo, questiona-se o predatismo desenfreado, questiona-se valores, convicções, dogmas.
Morreremos na praia? Ou viveremos para ver uma nova aurora, de uma outra cor?
É a era do verde, não? Quem sabe além do meio ambiente, não seja também a era da cura, da esperança?
Quem sabe...
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