sexta-feira, 3 de junho de 2011

Cis(ti)co

Nada...

não somos nada...

e não digo isso com dores, pessimismos, pensamentos derrotistas ou sentimentos negativos...

Nos amontoamos de coisas, nos recobrimos de títulos, inflamo-nos com tudo o que conseguimos alcançar para podermos nos sentir senhores das nossas próprias vidas.

E até que ponto nos damos conta de, afinal, não sermos nada?
Nos apegamos à imagem que tentamos sustentar a todo o tempo de nós mesmos. Essa imagem criada para, mais que impressionar o outro, alegrar a nós mesmos...Quantos são os que podem, de peito aberto, dizerem-se satisfeitos consigo mesmo, livres de tentativas de iludir a si mesmos?

Somos pequenos. E essa pequenês nos esbofeteia a cara todos os dias, a toda a hora. E esse esforço inútil de tentar negá-la. Sermos bons, competentes, humanos e além.

Balela....

O nosso esforço denuncia a nossa incompetência, nossa incapacidade, nosso estado de aprendiz. Falamos, falamos e não dizemos nada! Entre o copo meio cheio ou meio vazio não nos resta sequer dois dedos d'água para dizermo-nos cheios de qualquer coisa.

E ainda assim continuamos, acumulando títulos, posses, bens...materiais, intelectuais, afetivos, pessoais...
acumulamos e acumulamos para preencher o vazio que não nos deixa...forçamo-nos a não pensar nele para poder continuar o dia, continuar a luta, continuar, continuar, continuar...nesse auto-engano inesgotável para conseguirmos lidar com a nossa própria imagem diante do espelho..

Crianças que fomos, adultos falhos nos tornamos....crescendo com a imagem do adulto-capaz, nos vemos menos que a criança...à criança não cabe a pretensão do pensar-ser. A criança simplesmente é e ponto. Se é bonitinha, se é birrenta, ranhenta, amável, escandalosa, enfim...não existe nela ainda esse questionamento sobre o ter que ser para alguém, quem dirá para si mesmo...

O tempo vem e tentamos nos reafirmar incessantemente...nessa carência pelo que perdemos e nem sequer sabemos o nome..nessa tentativa desesperada de recuperar o que foi tirado, o que nos deixou esse buraco imenso aberto a mostrar as vísceras que tentamos a todo custo esconder

falhos....

Somos ciscos falhos tentando brincar de gente grande, tentando reafirmar a cada instante a ilusão da nossa própria divindade.

Não somos Deuses.
Somos ciscos.

Quando não o queremos ser, tornamo-nos cistos...apenas esperando o momento mais oportuno para eclodir.

2 comentários:

  1. A grandeza de um cisco
    está em saber a pequenês do seu existir
    e, falho, continuar a voar...

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  2. 'Quantos são os que podem, de peito aberto, dizerem-se satisfeitos consigo mesmo, livres de tentativas de iludir a si mesmos?'
    isso me lembra uma questão que coloquei uma vez num grupo de discussão que eu participava.. temas variados.. a questão era: "será que existe alguém ideal para si mesmo?

    exemplo: eu me achar uma pessoa ideal. em todos os sentidos"

    e todos partiram do pré-suposto do ideal pela definição mesmo da palavra.. n era possível..
    mas eu tentei modificar o sentido da palavra.. pra algo mais perto da gente.. e ninguém entendeu.. =/

    lembro uma vez uma discussão que o Lucas não quis ter comigo sobre sermos um amontoado de partes alheias.. tomadas para nós durante a vida..um gigantesco quebra-cabeça de referências.. e tornando-nos assim fonte de referências também.. e o ciclo continua..

    e apesar de toda a nossa "pequenês", eu ainda acredito que somos deuses! acredito no nosso poder de criar e destruir o que quisermos. a vida é o que construímos, na nossa mente, o nosso olhar e sentir é o que guia a nossa vida.. por pior que ela seja/esteja.

    "dois dedos" eu já brinquei e muito com essa medida num romance antigo.. pode ser tanto e pode ser pouco.. depende do referencial..

    as gerações se renovam.. nosso pensamento no sistema de educação... é complexo e a meu ver errado. a coisa do mais velho ter que saber mais, ter que ensinar, a gente aprende tanto com os pequenos... é uma troca! não é isso que nos 'ensinaram', que nos enfiaram guela abaixo..

    o buraco.. acho que todos temos um.. menor, maior.. mais tenso, menos tenso.. dolorido, já resolvido.. mal resolvido.. mas sempre ali. do seu modo.. à maneira de cada um..

    'brincar de gente grande' é brincadeira muito séria pra brincar de fato.

    eu discordo.
    acredito que somos deuses. eu acredito na nossa grandeza, mesmo que ainda pequeninos..

    cisto é a doença.. é o que precisa da pinça e a luz certa pra ser retirado. contamina...

    equilibrar o olhar dentre o interno e externo é o grande segredo e a maior dificuldade.

    me lembrei da mensagem da folhinha da seicho-no-ie "tudo que é bom já existe dentro de nós"

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