domingo, 19 de dezembro de 2010

E agora, nós?

Faz tempo que eu não apareço.Relativamente mais tempo ainda, considerando que eu estou de férias e não existem mais provas ou quaisquer outros compromissos fixos para me distanciar do teclado.
Mas a bem da verdade é que o que me tem afastado são as inúmeras reflexões que borbulham na minha cabeça no momento - o que é muito normal de férias...a loucura acaba, a poeira baixa e eu, assim como qualquer outro ser humano que reflete e pensa sobre a vida, começo a fazer balanços...e eles não me deixam sossegar a mente.

Eu não sei por onde começar. Na verdade nem sei o que vou escrever. Só resolvi visitar o blog porque há tempos eu não o fazia. E já não era sem tempo.

E agora, sobre o que falar? Discutirei o tempo? A vitória do Inter(de Milão)? A derrota do nosso Inter? A soltura de Assange? Não, apesar de ainda não fazer idéia do assunto que eu vou abordar, hoje não estou muito num momento global e engajado. As reflexões que eu citei me deixam bem mais introspectivo, subjetivo...

Eu tinha uma boa idéia sobre o que escrever há algumas dezenas de minutos...mas a idéia fugiu....como é das idéias ter vida própria de vez em quando e fugir do nosso domínio...

Ultimamente eu ando pensando e discutindo muito com uma grande amiga sobre o tempo, o amadurecimento, as relações entre as pessoas, o amor, nossas esperanças, frustrações e afins...Talvez eu fale disso, talvez mude de assunto, quem sabe?

O fato - óbvio - é que as coisas não acontecem na hora em que desejaríamos que acontecesse, ou julgamos ser o melhor momento para tal. Diante disso, dessa certeira falta de planejamento, nos resta duas opções: pular de olhos fechados e dar a cara pra bater; ou ficar, paralisados, amuados, escondidos do mundo, no medo.

Quando temos bons lampejos de coragem e discernimento, escolhemos a primeira opção: viver, dar a cara a tapa. O problema é que nunca estamos de fato preparados para levar a porrada....e quando levamos? É isso que nos assusta. Na verdade acho que quando levamos nunca é do jeito como esperávamos..ou ela nos pega por um ângulo inesperado, ou dói bem menos, ou bem mais....mas de todo modo, a hora da pancada é aquela em que o acaso nos encontra de frente e nos chama a dançar sem podermos ouvir a música...é a surdez que nos põe em pânico, o momento em que temos que nos deixar levar, fechar os olhos, sentir nossos corpos, nossa vida, nosso momento. E nos vêm sempre o mesmo questionamento: e se não estivermos prontos? E se perdermos, nos machucarmos? O que faremos? Pois é...eu também não sei, por isso resolvi escrever...precisava por pra fora toda essa angústia do "E agora, José?"

Sabe, leitor, eu não sei se você, que lê, é amigo, familiar, conhecido, ou algum José que nunca me encontrou na vida, mas garanto que compreende essa angústia, vive todos os dias seus questionamentos...E o que fazemos diante disso tudo?

Acho que no fim das conta não há muito o que se fazer...o medo sempre estará lá, talvez.

Mas eu acho que, de fato, nunca estamos preparados para o baque quando ele vem....talvez nós vamos nos preparando conforme vamos apanhando

Enfim, as idéias ainda estão muito turvas..eu pediria desculpas se eu realmente me importasse, mas no fundo, se esse tipo de qualidade de texto incomoda a alguém, a opinião desse alguém não mais me interessa, fato. E se esse julgamento lhe parece frio, sua opinião também passa a ter menos validade...compreensão é a chave para a nossa humanidade...e no fim das contas é disso que precisamos para enfrentarmos a vida: humanidade.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Cordeiro, demasiado cordeiro

Mudando um pocuo - mas em essência nem tanto - os rumos da temática do blog...

Lendo um artigo na Le Monde Diplomatique Brasil sobre a polêmica do Wikileaks - que eu não sabia o que era até então - e dois posts de blogs cujos autores admiro muito, as reflexões sobre papéis, funções e significados do Estado e da democracia pipocaram na minha cabeça quase espontaneamente.

Para os que não sabem do que se trata o wikileaks, ele é um projeto elaborado pelo jornalista australiano Julian Assange para expor os bastidores da diplomacia internacional, principalmente a estadunidense. Um dos meios pelos quais se faz isso nas atuais atividades do site é a exposição de telegramas trocados entre os diplomatas para qualquer internauta que se interesse em vê-los.

Não é de se surpreender que as atitudes do jornalista causaram grande alvoroço entre governantes e seus associados. Os dados expostos são considerados 'de segurança nacional' e são próprios do tráfego [tráfico] interno da 'copa' do Estado. Essas informações não deveriam estar disponíveis a nós, meros mortais, que não participamos das decisões políticas sobre as quais os representantes expostos são responsáveis. Assange conseguiu assim, num intervalo muito curto de tempo, uma coleção de inimigos notável.

Agora, nós, meros mortais, tenhamos um repente de semideuses e nos aproximemos do pensamento olímpico dos estruturadores do Estado: Os governos expostos por Assange, em especial os EUA, são ditos - e muito orgulhosos desse rótulo - democráticos. O modelo democrático, como é de conhecimento geral aos que tiveram acesso ao conhecimento, baseia-se na decisão popular, ou ao menos majoritária, para a tomada de decisões políticas. O modelo original, a menos que eu esteja muito enganado, é grego. Nele, os considerados cidadãos votavam diretamente as propostas políticas que regeriam o funcionamento da polis. Isso só era possível pelo tamanho reduzido da população grega das cidades-estado e da ainda menor parcela dos considerados cidadãos então. Hoje, dadas as dimensões das nossas sociedades, os sistemas democráticos funcionam por meio da representatividade. A população não mais vota diretamente as decisões políticas de seu país. Elas elegem pessoas que a representarão em um órgão responsável pela votação sobre tais decisões. Esses eleitos são - ou deveriam ser - pois, representantes dos interesses da população. Agora, se um indivíduo tem por função social me representar politicamente, suas decisões devem estar de acordo com minhas próprias condutas e opiniões - ou pelo menos com boa parte delas, senão a relação de representatividade se torna frágil, falha. Se isso é verdade, o acesso do eleitor aos pensamentos e afazeres profissionais de seus eleitos deveria ser inquestionável. Contudo, o que se observa com a repercussão do trabalho de Assange é a declarada intenção anti-democrática dos elementos envolvidos na estruturação estatal e das relações governamentais de poder em monopolizar as informações sobre as motivações que regem suas tomadas de decisão! O Estado, que deveria estar a serviço dos interesses do povo, expõe sua pretensão de domínio sobre seus integrantes, a quem ele deveria estar submetido. Estamos vivendo uma perversão das relações que regem a organização política da nossa sociedade. E foi preciso um 'escândalo' com repercussões internacionais para nos movimentar o questionamento sobre esse desrespeito do atual Estado 'democrático' conosco.

Nosso modelo político, econômico e social está, gradual e progressivamente, se mostrando incoerente, conflituoso, insuficiente e incapaz de representar e servir a população nele inserida. O nosso sistema atual não funciona. E o mais irritante é que essa idéia virou clichê de tão óbvia. Entretanto ninguém se move de forma efetiva para mudar esse cenário. Nós fazemos a sociedade. Mas moldá-la de acordo com diretrizes justas e abrangentes demanda trabalho, tempo, suor. Hoje vivemos num ritmo de vida de submissão a tal grau de estresse e desgaste físico e emocional que nos sobre pouca energia e vontade para nos empenharmos  no esforço de tentar mudar esse sistema que obviamente não funciona. Essa apatia, esse comodismo, essa doença social que nos transforma em cordeiros silenciosos nos sentencia a um modelo de sociedade auto-destrutiva, extremamente danosa.

E não, eu não sou comunista, socialista ou qualquercoisaista que eventualmente alguém possa estar pensando. Essa dicotomia maniqueísta morreu com o muro de Berlim. Mas isso não muda o fato do nosso sistema ser falho e passível de questionamentos e mudanças. Um novo modelo precisa ser criado, precisa ser pensado. Diferente de tudo o que já foi criado, do que já foi vivido, já que obviamente os modelos prévios são ineficazes ou inviáveis.

Precisamos nos movimentar! Precisamos abrir nossos olhos diante de eventos políticos como o desencadeado pelo wikileaks e questionar mais o poder vigente. Precisamos, além disso, questionar a nós mesmos para curarmo-nos dessa inércia estática que torna o mundo humano um ambiente insustentável para seus próprios integrantes.

E precisamos, acima de tudo, nos conscientizar do nosso inerente papel social enquanto seres humanos e nos capacitarmos para poder exercê-lo de forma eficaz e funcional. Caso contrário não seremos mais que as meras marionetes que fomos até agora.

Novamente o piloto automático está nos levando para um rumo que nós desconhecemos e que dá indícios cada vez mais claros do caráter funesto desse destino.

E você, está sentado aí ainda por quê?



Artigo da Le Monde: http://diplomatique.uol.com.br/acervo.php?id=2957
Principal post de referência: http://respostasdecamus.wordpress.com/2010/11/13/todos-contra-um-wikileaks/