segunda-feira, 9 de julho de 2012

30 minutos


                De repente tudo o que ele precisava era da noite. Respirar o ar frio e escuro o acolhia de alguma forma que só ela. Resolveu abrir os olhos. Olhou no relógio, passara das 3h, ainda era tempo. Pensou ainda por várias vezes se levantava ou ficava. Se Virava para o lado ou para si mesmo.
                Ergueu a primeira das cobertas. Usava duas, fazia muito frio. Sentiu diminuir o peso sobre seu corpo. Sabia que dali a pouco sentiria um leve gelar sobre sua pele. O tempo se esvaía, era preciso decidir. Ir ou ficar? De um súbito atirou a segunda coberta para o outro lado da cama e se sentou à sua beirada.
                Com as mãos ao lado do corpo, apoiava-se na cama, a cabeça baixa, como quem respira para tomar coragem. Respirou profunda mente. Uma, duas, na terceira vez abriu os olhos de repente e levantou a cabeça. Esfregou o rosto nas mãos, passando-as em seguida pelos cabelos, enquanto tornava a fechar os olhos. Precisava de uma ducha.
                Entrou no banheiro e fechou a porta rápido por causa do frio. Ligou o chuveiro e se sentou sobre a tampa do vaso. Sempre aproveitava a latrina para pensar, independente do motivo que o levava a ela.
                Enquanto o vapor timidamente tomava conta do pequeno ambiente fechado, a covardia de tirar a roupa enfraquecia lentamente. Temia o frio. Temia encolher-se só. Aproveitou um repentino surto de parca coragem e retirou a blusa, que escorreu por suas costas, pendurando-se no cano do vaso, logo atrás. Sentiu a pele eriçar-se rapidamente. Teve medo. O frio sempre o lembrava a sensação de medo. E como quem se protege do medo e do frio, levou as mãos aos braços quase por reflexo, esfregou-os. O frio não passava. Quis colocar a blusa de volta, mas o som das gotas golpeando o chão do Box o lembrava de seu propósito ali. Devia ir à rua. Não sossegaria a cabeça sem mais uma dose de noite.
              Sorveu do frio toda sensação. Queria vivê-la. Sentir apenas o frio, não só o medo.
              Tirou a camiseta. Com o torso nu, apenas suas pernas permaneciam de um modo ainda protegidas. Debatia o corpo magro numa tentativa inconsciente de conter o frio. Tentava, por sua vez, suprimir os tremores. Queria sentir o frio, queria a plenitude.
              Levantou-se, mirou-se no espelho. Podia ver desde os olhos até a altura dos joelhos.
              Num movimento leve, despiu completamente as pernas.
           Completamente nu, mirou o reflexo embaçado do corpo magro no espelho. Lembrou-se dos tempos de menino, quando seu reflexo o ofendia com a própria magreza. Hoje não mais. Hoje via beleza mesmo no corpo inquieto pelo frio.
             Virou-se de costas, esperou por um tempo parado, como quem deixa as próprias costas mirarem-se no vidro embaçado.
              Caminhou pé ante pé até a cortina do Box, sentia penetrar-lhe as solas dos pés cada fina agulha de frio do piso de louça.  
                

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