quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Era da Desformatação?

Hipsters x Mainstream
"O Sistema" x "A Rapa" [não gosto do modelo "direita x esquerda"...acho que ele é obsoleto, reducionista e mais distrai e tira o foco do que realmente importa do que qualquer outra coisa.]
Eu x O mundo

Eu não sei se isso se deve à minha classe social, ao meu nível instrucional [afinal, conviver no meio acadêmico no Brasil hoje faz uma diferença fodida quando se pensa em referência dentro de um país de realidades sociais tão precárias e discrepantes], ao meu círculo de amigos, ou ao meu acesso à internet; mas eu vejo, e cada vez com mais frequência, onda após onda de pessoas, movimentos, ideologias, pensamentos de oposição, revolução, resistência, chame como quiser. Eu vejo um movimento de inconformismo, de tentativa de mudança, de questionamento daquilo que vigora, do que é de maioria, do que é hegemônico.

Nunca tinha ouvido tanto falar em questionamento de valores quanto nos últimos anos. Talvez seja pelas crises financeiras consecutivas, mostrando talvez a fragilidade desse nosso sistema de produção, ou, em última análise, a fragilidade do homem em si, na sua busca incessante pelo poder. Tanto que até o seio do pensamento mantenedor do sistema [Europa e EUA] manifesta movimentos de revolta, de questionamento. Pessoas vão às ruas, ativistas - reais ou virtuais - pipocam pelo mundo a fora. O facebook vive repleto de charges, imagens, frases, banners com frases ou ideias que visam questionar o nosso sistema, o modo como pensamos, o modo como nos vestimos, aquilo que valorizamos, defendemos, condenamos, a concepção de mundo que hoje se torna senso comum.

E eu não sei de novo se é sorte ou mera questão de afinidade, mas eu tenho contato muito grande e cada vez maior com pessoas que tentam se afirmar num mundo que os desfavorece. Pessoas que, em maior ou menor grau, estão à margem do que é majoritário, pelo seu modo de pensar e conceber o mundo. Vejo nessas pessoas, seja isso de fato honesto e autêntico ou não, uma sede imensa em combater o atual senso comum, pois ele nos desfavorece [e aqui eu me incluo no grupo desses "marginais", que não necessariamente passam fome ou frio, mas vivem com uma sensação constante de deslocamento dentro da maioria]. Isso me lembra uma frase que eu vi, inclusive, no facebook: "I'm not anti-system, the system is anti-me" ["eu não sou anti-sistema, o sistema é anti-mim"]. Mostrando o espírito-guia daqueles que se movimentam em combate ao que é majoritário: Nós nãos nos sentimos contemplados pelo sistema, pelo nosso modelo de sociedade. Não podemos ser nós mesmos sem sermos olhados de lado, tortos, como doentes sociais por discordarmos da maioria, por enxergarmos loucura na dita - se não imposta - normalidade; por encontrar abrigo, familiaridade e casa no que é tido como bizarro, esdrúxulo, incomum. Não nos conformamos com o modelo academicista que dita, pela sua leitura de conhecimento, o que é "Verdade" e o que não é. Não aceitamos o valor absurdo que se dá ao dinheiro enquanto vivemos tão carentes de afeto, respeito, aceitação. Não somos felizes, não nos sentimos aceitos. Queremos amor, paixão! Queremos nos sentir de fato vivos e não escravos-zumbis submetidos a uma rotina extenuante que serve muito mais à manutenção desse sistema que nos suga a vida por todos os poros, nos impõe a apatia sem que possamos tirar o sorriso - já amarelado - do rosto do que à nós mesmos. Vivemos a "ditadura do ótimo" dentro de uma vida miserável! Pais não tem tempo para desfrutar com seus filhos. Estudantes não tem tempo de viver para além da academia, trabalhadores vêem no sono sua única e real fonte de lazer. Não existe tempo livre, não existe espaço para a vida! E nesse contexto, nós clamamos pela desformatação! Pela desconstrução do mundo que hoje se apresenta diante dos nossos olhos e não nos serve, nos mata aos poucos, nos consome! Nunca se falou tanto em sucesso, que hoje é visto como algo "acessível a todos" e, portanto, de responsabilidade única do indivíduo, já que as "oportunidades estão lançadas" [Não vou nem discutir aqui a veracidade dessa afirmação de igualdade de acesso a oportunidades]. Mas que sucesso é esse? Que tipo de mundo é esse que vê num "Roberto Justos" um exemplo a se seguir? O executivo de sucesso, acumulador de dinheiro e poder em suas mãos, meu deus, minha gente....Como pode a nossa vontade de luxo ser maior que a compaixão com a miséria que se mostra todos os dias nas ruas, na tevê, no nosso vizinho, na nossa calçada, em nós mesmos? Como pode o desejo de ostentação superar a vontade de ver o mundo com menos injustiça? E o que nós ganhamos com tanto sucesso?? Tanto tempo gasto para acumular o máximo de dinheiro que conseguirmos pra quê? Às vezes não sobra nem tempo para gastar esse dinheiro. E pra quê tanto dinheiro?? "Ah, mas eu quero viver de luxo, quero conhecer lugares chiques, exóticos, as maravilhas do mundo; quero morar numa casa confortabilíssima, casa-cláudia; quero dirigir um V8 5.1 e roncar meu motor na frente da balada pra mostrar pra todo mundo como eu sou fodão. Todo mundo quer isso!" E de onde vem esse modelo?? É UM MODELO!! Uma merda de um modelo, uma merda de uma ideologia, que, tal qual todas as outras, é vendida, montada, construída. Não é natural, não é intrínseco ao ser humano. É construído. E, sendo assim, passível de questionamento e discordância.

Hoje somos vários, ainda que minoria, que não querem, são contra. Não aceitamos o mundo como ele se apresenta. Não temos - ainda - uma proposta substituta. "Eu não sei o que eu vou fazer, mas sei o que eu não vou fazer, aqui eu não fico mais" - Marinho, Eduardo [http://www.youtube.com/watch?v=NMn_1rQ3sms]. Mas sabemos o que não nos serve e sabemos o que queremos! Queremos espaço! queremos poder ser, independente de como. Queremos liberdade real para nos expressarmos, dar vazão à nossa humanidade. Queremos ser de fato felizes! Não esse modelo absurdo e imposto presente nas propagandas, filmes, novelas, telejornais, rádios... Queremos o direito de nos afirmarmos tal qual somos de fato! Sem conformismos, sem formatações à opressão.

Somos os incomodados, somos os que incomodam. Nossa cor incomoda, nosso cabelo incomoda, nosso cheiro incomoda, nossas palavras, nossas ideias, nosso posicionamento. Somos o câncer, a doença. Nem me venha com a sua cura! Se ser saudável é submissão a um modelo de sociedade doentia, prefiro ser doente, prefiro ser louco, prefiro bater no peito e me declarar marginal, com muito orgulho!

Resistimos como podemos. Não queremos tomar o poder, queremos aniquilá-lo. Chega de submissão, chega de sermos subjugados, desmerecidos, diminuídos.

Queremos a vida, queremos o eu, queremos você também, todos nós, nosotros, juntos, livres para poder ser, para poder amar, para poder viver.

E enquanto não pudermos sê-lo, nós vamos incomodar! 


5 comentários:

  1. http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=3i6pU3MCFFk

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  2. dessensibilização pela repetição
    ".Como pode a nossa vontade de luxo ser maior que a compaixão com a miséria que se mostra todos os dias nas ruas, na tevê, no nosso vizinho, na nossa calçada, em nós mesmos? "

    ^^
    lembrei daquelas madrugadas do COC
    e uma delas falava sobre isso
    da mídia controlar a nossa sensibilidade.. ou boa parte dela.

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  3. num mundo cada vez mais fragmentado.. é difícil conseguir pensar no outro.. qdo o incentivo é tanto para pensar só em vc mesmo.

    é uma ditadura MESMO.
    onde cada ser humano está individualizado ao extremo de não conseguir se importar ou se interessar pelo outro de forma a agir em prol de uma causa comum..

    digo um comum q fuja ao simples senso comum.

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  4. " Queremos liberdade real para nos expressarmos, dar vazão à nossa humanidade."
    e sobre incomodar.

    acho que é bem isso
    é cutucar para ganhar esse espaço, como no caso da marcha das vadias.
    sim, somos uma minoria, mesmo entre as mulheres.. são poucas que tem a consciência de que as coisas estão erradas.

    mas mudar de uma hora pra outra não vai rolar... porém.. o cutucão está acontecendo.. e não pára. não pode parar. enquanto continuarmos por pedir esse espaço, o espaço por si vai sendo criado.. pelo próprio movimento existente e muitas vezes muito latente em vários grupos esparsos.. as vezes até fragmentados, mas tdos gritando por esse espaço.

    o importante é manter a esperança em mente. e nunca perdê-la de vista. o objetivo maior vale a pena!

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